segunda-feira, maio 01, 2006

"O ocultismo era a minha religião"

Ele ficou fascinado com o cumprimento e a coerência das profecias bíblicas
Sérgio Pereira nasceu num lar cristão, mas aos sete anos de idade passou a ouvir vozes e a enxergar vultos ao seu redor. Os fenômenos cessaram por algum tempo, mas retornaram de modo diferente alguns anos depois. Como conseqüência, Sérgio saiu de sua igreja e enveredou pelos caminhos sinuosos do ocultismo.

Hoje, ele é membro da Igreja Adventista Central de Itapetininga, SP.

Nesta entrevista, concedida à Michelson Borges (que teve o prazer de partilhar o conhecimento da Palavra de Deus com o Sérgio), ele conta como foi resgatado da terra do inimigo para a maravilhosa luz de Cristo.

Como foi sua infância?

Sou o caçula de uma família de seis filhos. Sempre fui um menino muito curioso e fascinado por astronomia e leitura. Passava horas, quase todas as noites, contemplando o céu estrelado. A exemplo de meu pai, adorava debruçar-me sobre livros, almanaques e revistas. Costumava, nessa época, ler tudo o que vinha parar em minhas mãos: histórias infantis, histórias do mundo, descobertas arqueológicas sobre civilizações antigas, etc.

Meus pais, honestos e tementes a Deus, me levavam à igreja para que eu pudesse absorver desde pequeno os ensinamentos do Deus vivo.

Como você veio a interessar-se pelo ocultismo?

Com o passar dos anos, minha forte inclinação para os livros e o gosto pela ciência foram aumentando. Porém, por volta dos sete anos, começaram a ocorrer certos fenômenos, que não conseguia explicar: ouvia vozes e comecei a enxergar vultos ao meu redor. Achava isso normal. Não tinha medo, pois pensava que acontecia o mesmo com outras pessoas. Depois de algum tempo, esses acontecimentos pararam. Continuei a ir à igreja, mas, aos 12 anos de idade, já não sentia alegria em freqüentar os cultos.

Nessa época, os “fenômenos” começaram a aparecer novamente, mas, desta vez, comecei a experimentar algo maravilhoso: ao deitar-me para dormir, quase todas as noites, conseguia “sair” de meu corpo. Era uma sensação muito boa. Podia ver as pessoas dormindo, flutuava no ar, e era muito divertido. Pensei que as outras crianças também sentiam isso, mas descobri que não. Então, o que estava acontecendo comigo? Achei que estava ficando doente. O meu pouco conhecimento de Deus daquela época não fornecia as respostas e nem preenchia o vazio que eu sentia. Enquanto isso, os fenômenos se intensificavam cada vez mais.

Onde você foi procurar as respostas?

Aos 14 anos, ao voltar da escola, conheci um garoto da minha idade, que morava no mesmo bairro, e que possuía o mesmo interesse em Astronomia. No mesmo instante ele me falou de uma ciência muito antiga, que se chama astrologia. Ele me disse que essa “ciência” explica muito sobre a natureza das coisas, e que ela interfere diretamente no comportamento das pessoas. E me emprestou um almanaque e um livro sobre horóscopo.

Ao ler sobre esses assuntos, me enchi de esperança, pois parecia que estava encontrando significado e sentido naquilo. Fizemos muita amizade, e percebemos que era muito fácil estudar o comportamento e a atitude das pessoas. Quase tudo podia ser previsto por nós – era Satanás nos iludindo e dando a impressão de que tínhamos poder. A astrologia tinha aberto minha mente de tal modo que eu via um oceano de possibilidades de investigação do conhecimento.

Qual foi o passo seguinte?

Como gostava muito de Astronomia, e estava estudando astrologia, deparei-me com a ufologia, a ciência que estuda o aparecimento de objetos voadores não-indentificados. Então comecei a entrelaçar fenômenos dos OVNIs com fenômenos parapsicológicos. Foi aí que encontrei, segundo pensava, a resposta para aqueles fenômenos de minha infância – as “viagens” para fora de meu corpo, a chamada “projeção da consciência”. Considerava audaciosas as pessoas que investigavam esse campo “científico”. Aos 17 anos, comecei a fazer pesquisas de campo, e a estudar os fenômenos do espiritismo de uma maneira ampla e prática. Queria ver o que se passava com a consciência e o corpo das pessoas que eram submetidas a sessões espíritas, mas minha meta era só observar e pesquisar. Eu não dava crédito nem desmerecia o que via, mas nunca quis experimentar tais práticas.

Quando percebi que o espiritismo não preenchia o meu ser, inquieto por sabedoria, comecei a pesquisar o esoterismo, e me associei a grupos de estudos místicos e metafísicos. Era um “espiritismo evoluído”, e parecia muito bom no começo. Mas, com o tempo, como eu ainda possuía inquietações, achei que não era sólido e seguro o bastante para continuar a dedicar minha vida àquilo.

Foi então que, numa festa de fim de ano, em 1992, conheci um ex-padre que disse ter percebido certo poder ou “potencial” em mim. Ele me convidou para fazer parte de um “grupo avançado” de estudos sobre o ocultismo. Sem saber direito o que era esse grupo, comecei a associar-me com eles. Naquele momento, passei a ver o mundo em que vivemos com outros olhos – e até hoje vejo assim –, pois via a dimensão do poder sócio-político desse grupo. Éramos como membros verdadeiramente unidos e “poderosos”, pois as portas se abriam onde quer que estávamos. Descobri que o mundo inteiro recebe indiretamente, em seu meio político, essa influência.

Você desenvolveu poderes mentais fora do comum?

Aos 19 anos, fui iniciado como membro de uma instituição que possui sede na França. Recebia instruções e podia até mesmo influenciar em decisões humanas. Possuía habilidades mentais extraordinárias, e de um raciocínio ímpar, dado por Satanás – mas eu não tinha consciência disso. Com 20 anos de idade, comandava grupos de estudo, e tinha cerca de 50 pessoas sob minhas ordens. Freqüentava festas em florestas, com homens e mulheres praticantes de bruxaria. Todos me respeitavam porque sabiam que a organização da qual era membro unificava todas as demais.

Comecei a crescer muito nessa organização e pouco a pouco os símbolos mágicos começaram a ser revelados para mim. Nessa altura de minha vida, Deus era apenas uma lembrança.

Algum episódio fez você voltar para Deus?

O Espírito Santo estava agindo na minha vida sem eu saber, pois o mundo do ocultismo estava me sobrecarregando e sentia um vazio, uma tristeza que não cabia no coração. Chorava muito, pois não conseguia ver significado em nada, e em ninguém. Então resolvi afastar-me dessa instituição e do grupo. Em resposta à minha atitude, fui abençoado com a aprovação em um concurso público estadual, para trabalhar em uma unidade prisional na minha cidade. Tudo agora estava bem na minha vida: família unida, emprego bom, e eu deveria reconhecer que Deus estava comigo. Mas não o fiz. Os questionamentos, o vazio, a solidão e a tristeza não tinham desaparecido.

Como gostava muito de acampar, resolvi acampar em uma floresta, sozinho, e ficar ali uma, ou várias noites, para desafiar os meus “demônios”. Eu falava para os amigos: “Quero conhecer o mal, e ver do que ele é capaz. Talvez assim cesse a angústia interior que sinto.”

Mas alguns dias depois, houve, em meu local de trabalho, uma rebelião de presos. Tomaram-me como refém e trancaram-me sozinho numa cela. Nunca pensei que pudesse sentir tanto medo em minha vida. Os presos, encapuzados, me ameaçavam, me batiam e juravam a minha morte o tempo todo.

No meio de todo aquele alvoroço, vi vultos e ouvi uma voz terrível em minha mente, que dizia: “Não era o mal que você queria ver? Então sinta o mal, não da sua maneira, mas da minha.” Foi quando entreguei o coração a Deus, dizendo: “Senhor, me ajuda! Se for da Tua vontade, me livra deste lugar.”

De repente, vi dentro da cela uma pequena Bíblia aberta no Salmo 23, que diz: “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque Tu estás comigo; a Tua vara e o Teu cajado me consolam.”

Depois de tudo terminado, nos libertaram, mas nunca mais fui o mesmo. Tive que fazer terapia e tratamento com medicamentos, pois acordava toda noite com pesadelos, e gritando de desespero.

Logo após o incidente, fui transferido para o setor administrativo, sem contato com os presos. Trabalhava de segunda a sexta, e folgava nos fins de semana. Era para estar agradecido a Deus, e ser fiel a Ele. Mas não fui.

E como você conheceu a mensagem adventista?

Nessa época, minha irmã estava passando por sérios problemas com seu filho, numa cidade onde não conhecia ninguém. Então ela conheceu uma família de adventistas, que a ajudou muito, de forma desinteressada. Isso chamou minha atenção.

Meu sobrinho, filho da minha irmã, teve uma doença rara no cérebro, e precisou ser submetido a uma cirurgia. Esse acontecimento abalou nossa família. Mas Deus, em Seu amor e em resposta aos muitos pedidos de oração, cuidou miraculosamente daquela situação.

Naquele momento, comecei a perceber que Deus realmente faz milagres em nossa vida, e agradeci ao Senhor pela recuperação de meu sobrinho; mas foi só isso que fiz. Aquilo ainda não havia sido suficiente para me converter.

Minha irmã estava recebendo estudos bíblicos de um casal de adventistas, e para meu espanto, o semblante dela parecia tranqüilo e alegre ao suportar as adversidades da doença do filho. Fiquei curioso com sua mudança. Porém, não concordava que ela recebesse estudos bíblicos.

Foi quando ela me apresentou o casal com quem estava estudando a Bíblia. Para minha surpresa, o preconceito que eu tinha deles caiu por terra. Ele, ex-professor de Historia e editor na Casa Publicadora Brasileira, não me pareceu fanático. E então resolvi dar crédito ao que ele me falava, até que me ofereceu um estudo bíblico. De imediato neguei a proposta, pois não concordava com a Bíblia e achava que o estudo seria para me convencer a mudar e aceitar a fé adventista. Mas fiquei admirado quando ouvi as palavras: “Você pode receber estudos bíblicos e fazer o que quiser de sua vida depois. A decisão será sua, não o forçaremos a nada.” Mesmo assim não quis receber os estudos, na época.

Passados alguns anos, o vazio e a angústia de minha alma tinham atingido proporções gigantescas. Eu não era mais ligado a nada. Sentia-me sozinho em meio à multidão. Cheguei a pensar que meu fim seria uma morte terrível. Então, conheci uma garota linda, a Adriana. Ela me disse que havia sido adventista, mas estava afastada da igreja. Comentei que tinha uma irmã que também era adventista.

Começamos a namorar, mas minhas convicções sobre o ocultismo estavam sempre presentes em minha mente. E o Espírito Santo continuava – graças às orações de muitos – a agir na minha vida. Numa bela noite, estava conversando com minha namorada a respeito de espíritos, reencarnação, etc., quando, para minha surpresa, ela disse: “Você está errado. Os espíritos não voltam, eles não são imortais.” Quando ouvi aquilo, caí na gargalhada, e disse que ela é que não tinha consciência e nem conhecimento dos mistérios ocultos. Ela continuou falando sobre a vinda de Cristo, sobre a grande batalha do bem contra o mal, e disse-me ainda: “Eu posso provar para você.” Aceitei o desafio. Daí ela me disse: “Para você compreender, é necessário estudar a Bíblia.” Naquele momento lembrei-me daquele casal, que anos atrás tinha me oferecido o estudo bíblico, o Michelson Borges e sua esposa, Débora.

Você aceitou com facilidade as evidências bíblicas?

Nos primeiros estudos não dei muita importância, mas pouco a pouco percebi que fazia muito sentido as coisas que o Michelson me explicava. Comecei a passar várias horas por semana examinando a fundo os ensinos bíblicos. Para meu espanto, encontrei profundo conhecimento e sabedoria nas páginas da Bíblia. Fiquei fascinado ao constatar a exatidão e a coerência das centenas de profecias detalhadas, e que se cumpriram nos diversos acontecimentos da História. Era impressionante ver a relação entre o livro de Daniel e Apocalipse, e perceber as bases sólidas para determinar que estamos vivendo muito próximo ao advento de Jesus.

Mas o processo não foi fácil. Quando comecei os estudos, a fúria de Satanás foi tão grande que na primeira semana fui transferido do setor administrativo para o de segurança. E meu horário, que já havia três anos era de segunda a sexta, passou para dia sim, dia não; ou seja, aos sábados (que eu já aceitava como sendo o dia do Senhor) teria que trabalhar. Quando isso aconteceu, tive certeza de que estava no caminho certo e que iria passar por essa provação com Deus ao meu lado.

Comecei a freqüentar a igreja e a orar. Muitas vezes chorava por ter estado tão longe de Deus, mas Ele, em Sua bondade, aliviou meu coração, e fez passar toda a angústia e o vazio que sentia. Casei-me com a Adriana, concluímos os estudos bíblicos e fomos batizados no dia 8 de outubro de 2005, na Igreja Central de Itapetininga.

(Entrevista originalmente publicada na Revista Asdventista de abril de 2006)

O evangelho de Judas

Recentemente, a revista National Geographic publicou um documento trazendo o que seria o ponto de vista de Judas Iscariotes sobre a crucificação de Cristo. O papiro de 31 páginas é conhecido como Evangelho Segundo Judas, e é datado entre os séculos 3 e 4. Segundo a imprensa, que divulgou bastante o assunto, acredita-se que o documento seja uma cópia de um original escrito por volta de 150 d.C. Para comentar o assunto, entrevistei o Pastor Wilson Paroschi, que é doutor em Novo Testamento pela Andrews University, especialista em Novo Testamento, Origens Cristãs e Grego Bíblico, e autor de três livros, um deles sobre a história do texto do Novo Testamento, publicado pela Edições Vida Nova, e outro publicado em inglês, pela Peter Lang Verlag (da Alemanha).

O que o senhor tem a dizer sobre esse “evangelho”?

O documento existe de fato. Trata-se de um manuscrito copta (antiga língua egípcia que era escrita com caracteres gregos) descoberto numa caverna em Al-Minya, no sul do Egito, por trabalhadores rurais, na década de 1970, e que permaneceu em poder de negociantes de antigüidades até ser divulgado pela National Geographic Society. De acordo com a paleografia (ciência que estuda textos antigos), o manuscrito, que é de papiro, foi copiado no fim do 3º ou início do 4º século. Sabe-se, porém, que o documento original é mais antigo, tendo sido composto provavelmente ao redor do ano 150 d.C., pois o escritor cristão Ireneu, bispo de Lion, fez uma referência a ele por volta do ano 180 d.C. O manuscrito, na verdade, contém quatro documentos, sendo que um deles traz um colofão (nota no fim do manuscrito) com o título “Evangelho Segundo Judas” (Iscariotes).

De acordo com alguns estudiosos, o Evangelho de Judas consite numa composição feita por gnósticos cainitas, seita herética do início do cristianismo. Quais as idéias dessa seita e por que teriam produzido esse "evangelho"?

O gnosticismo foi uma heresia cristã que desabrochou no segundo século, quando o cristianismo começou a se espalhar nas terras pagãs do mundo greco-romano. Essa heresia consistia numa estranha mistura de tradições cristãs, mitologia grega e religiões orientais. Não é fácil descrever o gnosticismo em poucas palavras, mas em linhas gerais, os gnósticos rejeitavam o Deus do Antigo Testamento, como sendo uma espécie de deus inferior (demiurgo) e repleto de más intenções, e alimentavam sentimentos anti-semitas. Por causa disso, eles negavam o relato da Criação de Gênesis e adotavam em seu lugar uma teoria das origens muito complexa, caracterizada por conceitos extraídos principalmente da filosofia e mitologia gregas. Havia vários grupos gnósticos – os cainitas eram um deles. De acordo com Ireneu, os cainitas declaravam que Caim derivara sua existência do supremo Poder (do mundo superior) e que o criador, o demiurgo, tentara destruí-los, mas não conseguira. Eles foram protegidos por Sofia (sabedoria), que era uma espécie de entidade do mundo superior. Judas Iscariotes estaria ciente de tudo isso. Ele era o mais esclarecido (iluminado) dos discípulos. O Evagenlho de Judas, na verdade, apenas reflete as crenças desse grupo. Por ter sido superior aos demais discípulos, Judas não seria de fato um traidor. Tudo fazia parte de um plano entre o próprio Jesus e Judas. A morte de Jesus, e de Judas, representaria o momento em que eles (a “alma” deles, que pertencia ao mundo superior) se desvencilhiaria do corpo (que era mau) e voltaria ao mundo da luz. Para os gnósticos, a salvação não era obtida por meio da morte de Jesus, mas sim por conhecimento (o termo “gnóstico” vem do grego gnosis, que significa “conhecimento”), uma espécie de iluminação ou despertamento intelectual para uma nova realidade. Em algum momento, o homem passa a entender sua verdadeira origem (de sua “alma”), e então ele se torna um “iluminado”. Ao morrer, sua alma é redimida deste mundo e retorna ao mundo da luz inefável e eterna. Os gnósticos também não criam na encarnação, nem na restauração final de todas as coisas, e tinham uma visão do Universo muito estranha, composta de vários céus ou esferas, separando o mundo superior de nosso mundo.

A revista Época do dia 19 de fevereiro admite que, "como o Evangelho de Judas é muito posterior ao tempo em que os eventos teriam ocorrido, não se pode nem mesmo tentar buscar algo nele sobre a figura histórica de Judas”. Na sua opinião, por que há, então, tanta especulação em torno do assunto e uma clara desvalorização dos evangelhos canônicos (Mateus, Marcos, Lucas e João) por parte da mídia secular?

O manuscrito contendo o Evangelho de Judas esteve por trinta anos em poder de negociantes de antigüidades, cada um tentando lucrar em cima da descoberta. Ele foi tirado ilegalmente do Egito e então passou pelas mãos de vários negociantes, tanto na Europa como nos Estados Unidos. Finalmente foi parar na Suíça, numa espécie de fundação cultural. Acontece que os negociantes não conseguiram auferir o lucro que planejaram, e como na Suíça há uma lei segundo a qual o comércio de antigüidades sem pedigree (certificado de origem) é proibido, a única forma de lucrar com o documento foi vendendo seu conteúdo. A National Geographic Society pagou algo em torno de um milhão e meio de dólares para poder divulgar o documento. E para tentar obter o retorno do investimento, criaram uma trama sensacionalista, apresentando o evangelho como o mais autêntico e confiável de todos. Algo como a verdadeira história da morte de Jesus e o verdadeiro papel desempenhado por Judas, que nada teria de vilão e traidor. Interesses puramente comerciais cercaram a iniciativa da National Geographic. Poucos se interessariam se a manchete se referisse a um documento herético e espúrio do segundo século que apresenta uma versão fictícia sobre os fatos que conduziram à morte de Jesus.

Sabe-se da existência de pelo menos três dezenas de evangelhos apócrifos, muitos deles atribuídos a nomes conhecidos no cristianismo primitivo, na tentativa de atribuir autoridade ao seu conteúdo. Quais as diferenças entre esses textos e os canônicos, e qual a importância histórica dos “evangelhos” de Pedro, Maria, Nicodemos, Tomé, Judas, etc.?

Nem todos os evangelhos apócrifos foram produzidos por hereges. Alguns o foram por autores alinhados com a ortodoxia cristã num esforço por preencher algumas lacunas da vida de Jesus, como a infância e a juventude. Quer sejam ortodoxos, quer seja heréticos, os evangelhos apócrifos (e outros escritos como Atos e Epístolas) foram produzidos por razões apologéticas, isto é, para defender aspectos particulares de uma crença, doutrina, ou teologia. E, como você destacou em sua pergunta, muitos desses evangelhos eram atribuídos a nomes conhecidos do círculo apostólico (Pedro, Tomé, Filipe, Bartolomeu, Judas, Matias) ou da vida e ministério de Jesus (Maria Madalena, Nicodemos) com o intuito de conferir autoridade ao conteúdo. Os textos apócrifos em geral, porém, são muito diferentes dos evangelhos canônicos. Eles retratam um mundo diferente, repleto de magia, de faz-de-conta, de mitologia, e todos eles têm uma agenda em particular, que é preencher supostas lacunas na biografia de Jesus apresentada nos evangelhos canônicos e, principalmente, defender idéias ou doutrinas próprias. Quando olhamos para os evangelhos canônicos (Mateus, Marcos, Lucas, e João), vemos que todos eles, conquanto diferentes entre si, apresentam a vida e os ensinos do mesmo Jesus. Há unidade de pensamento e em todos eles o ponto central do evangelho é o sacrifício de Jesus. Esse é o verdadeiro evangelho – a história do Deus que Se fez homem e morreu como homem para a salvação da raça humana.

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