quarta-feira, agosto 16, 2006

Correndo para Jesus

George Silva de Souza tem 41 anos, é suboficial da Aeronáutica, no Rio de Janeiro, e desde 1992 se autodenomina “o atleta da fé”. Segundo ele, Deus o chamou para um ministério especial: anunciar a volta de Jesus, correndo pelo mundo. E como na Missão Global há espaço para todos, desde que iniciou essa maratona, após sua conversão, já fez várias corridas dando seu testemunho nas igrejas e à imprensa.

Além de trabalhar como mecânico de vôo, há vários anos George se dedica ao atletismo. Sua conversão, contada nesta entrevista concedida a Michelson Borges, está relacionada a essa atividade. Atualmente, o militar é capaz de correr até 100 km em um único dia, pedalar mais de 200 km e nadar 10 km, pois Deus operou um “milagre biológico”, como ele afirma.

George nasceu em Areia Branca, RN, tem 41 anos e é formado pela Escola de Educação Física do Exército. Sua esposa se chama Francisca e seus filhos, Gregori e Glendali.

Conte como foi a sua conversão.

Desde minha adolescência até os 32 anos eu vinha pedindo um sinal a Deus. Eu queria encontrar o caminho verdadeiro e por quatro anos visitei muitas denominações, sem me sentir satisfeito. Fiz então um desafio a Deus: se Ele realmente existisse e quisesse me salvar, mandaria alguém à minha casa para me convidar a ir à Sua igreja.

Uma semana depois, em abril de 1992, a irmã Ira, uma colportora [vendedora de livros religiosos e de saúde], foi à nossa casa e ofereceu estudos bíblicos à minha esposa, que aceitou. Eu não estava em casa e já havia até me esquecido do desafio feito a Deus. Quando soube dos estudos, disse à minha esposa que se ela quisesse fazer os estudos, que fizesse sozinha, pois eu não estava interessado. Durante três meses minha esposa estudou com aquela irmã. Como eu resisti ao chamado de Deus, Ele acabou usando outra forma de me abrir os olhos.

E como foi isso?

Eu trabalhava na Base Aérea de Porto Velho, em Rondônia, e representava a Base em provas de 10 km. Por isso costumava correr todas as manhãs por um trecho deserto na Floresta Amazônica. Numa dessas manhãs, antes mesmo de o sol raiar, na parte mais fechada da mata, tive uma sensação estranha. Minhas pernas fraquejaram e não consegui mais correr. Era como se algo me segurasse. Nesse instante tudo ficou em silêncio completo e, quase desesperado, ouvi uma frase numa voz alta e clara, que parecia vir de todos os lados: “Filho, tu que corres aqui todas as manhãs e que buscas a glória pessoal, Eu te escolhi para que saias pelo mundo, da mesma maneira como fazes agora, correndo, e vás anunciar que o Meu Filho Jesus em breve virá!”

Assustado, olhei para as árvores em volta, mas não havia ninguém ali. Só havia uma explicação: o Deus que eu desafiara falara comigo e sabia que correr era meu dom e minha vaidade. Depois de ouvir aquilo, caí de joelhos e chorei como nunca, pedindo perdão e perguntando quem era eu para realizar aquele pedido divino. Mas senti a presença de Deus comigo, dando-me coragem.

Voltei para casa pensando no que ia falar para minha esposa. Narrei-lhe a experiência pela qual havia passado e disse que iria deixar meu emprego e correr o mundo para anunciar a volta de Cristo. Fiquei surpreso quando ela, emocionada, disse que, se era mesmo Deus quem estava me chamando, ela aceitava o desafio. Mas me fez ver, também, que seria difícil sairmos pregando sem estar filiados a uma denominação religiosa, pois os missionários costumam ter o apoio de uma igreja. Eu então lhe sugeri que procurássemos a igreja da mãe dela, que é batista.

Antes de irmos ao culto, tive um sonho no qual um anjo me mandava ler Apocalipse 7:3 e 4. Acordei intrigado e procuramos a colportora Ira, já que não tínhamos Bíblia e nem fazíamos idéia do que dizia o Apocalipse. Ela nos explicou que o texto trata do selo que será aplicado sobre os servos de Deus e que Ele estava nos chamando, pois queria que fizéssemos parte de Seu povo.

Eu não entendi nada e nem compreendia o significado da palavra “servo”. Poucos dias depois, fomos à Igreja Batista. No fim do culto, quando fui procurar o pastor para pedir o batismo, soube que ele teve que atender a um compromisso urgente e não poderia falar comigo. Entendi que Deus tinha outros planos para mim.

E como se deu seu contato com a Igreja Adventista?

A irmã Ira havia convidado minha esposa para assistir a um batismo em sua igreja. Minha esposa estendeu o convite a mim, mas eu disse que não queria ir, pois achava que a Igreja Adventista nem existia, ou era um grupo estranho e inexpressivo. Como eu poderia sair mundo afora pregando em nome de uma igreja que, eu achava, nem existia? Ela insistiu e eu estabeleci uma condição: que se fosse feito um apelo no culto nós permaneceríamos imóveis.

Quando entramos na igreja, logo ao passar pela porta, senti algo interessante: parecia que eu estava em um lugar familiar; me senti à vontade e em paz. Quando visitava outras igrejas, costumava sentar-me bem no fundo. Desta vez, fui lá para a frente da igreja. O pastor começou a pregar e eu fiquei surpreso, pois o assunto era a volta de Jesus, a mensagem que eu fora convidado a anunciar! Quando o pastor fez o apelo para que mais pessoas aceitassem a Jesus, eu fui o primeiro a levantar a mão, seguido por minha esposa, surpresa.

Ganhei uma Bíblia e a devorei. E depois de fazer um estudo bíblico fui batizado com minha esposa.

Você enfrentou lutas quanto ao sábado na Base Aérea?

Sim, mas, graças a Deus, na semana após meu batismo eu li os livros O Grande Conflito e Primeiros Escritos, ambos de Ellen White, e pude compreender o grande conflito entre o bem e o mal, e que eu certamente enfrentaria lutas para me manter fiel. Minha compreensão se abriu e me senti fortalecido pelos Testemunhos.

Na semana seguinte, programaram uma formatura para sexta-feira à noite, o que era raro. Comuniquei a meu superior que por causa de minha fidelidade à Palavra de Deus eu não poderia participar do evento. Ele me disse que entendia minha decisão, mas que a vida militar estava acima de tudo e que o coronel da Base certamente não aceitaria minha falta. E não aceitou. Mandou me avisar que se eu não participasse das atividades aos sábados, seria preso e enterraria minha carreira militar. Como eu não fui à formatura, na segunda-feira fui direto para a prisão, por 8 dias.

Houve ainda outras perseguições e eu pedi transferência para a Base do Rio de Janeiro. Chegando lá, fui convocado para uma missão especial em Petrolina, PE. E o comandante me disse que, por ser uma missão de treinamento de guerra, a falta é considerada insubordinação, sendo punida com a expulsão da Força Aérea. Os evangélicos de meu grupo diziam que eu era muito fanático por guardar o sábado, e cheguei a ser considerado “uma laranja podre dentro do saco”. A pressão foi muito grande, mas Deus me fortaleceu.

Como faltei ao treinamento de sábado, fui enviado de volta para o Rio, aguardando o que fariam comigo. Como não havia ordem de prisão, fui para casa e jejuei e orei muito por sete dias. Quando o comandante retornou de Petrolina, marcou uma audiência comigo e disse que tinha obtido boas informações a meu respeito, sabendo de minha dedicação profissional. E referindo-se à minha fidelidade a Deus, ele disse que era exatamente esse o tipo de homem que ele queria trabalhando a seu lado. Resultado: não fui preso nem expulso, consegui guardar o sábado sem maiores problemas e ainda fui promovido a suboficial.

E como você começou a correr para Jesus?

Dois anos depois, veio outro comandante para nossa Base. Ele respeitava os evangélicos e me disse que eu teria total liberdade para guardar o sábado. Ele também descobriu que eu sou triatleta e me pediu para representar a Base Aérea como esportista. “Se você tiver algum projeto nessa área, é só me apresentar.” Quando ele disse isso, fiquei muito feliz, pois eu já tinha um projeto dessa natureza pronto. Percebi que Deus estava preparando o caminho para eu cumprir Seu chamado.

No que consistia esse projeto?

Planejei quatro viagens que somaram 10.682 km. Na primeira etapa corri e pedalei do Rio de Janeiro a Tatuí; na segunda, do Rio até Novo Hamburgo, RS; na terceira, do Rio até Porto Velho, RO; e na quarta, do Rio até Belém, PA. Visitei 19 Estados e 87 cidades em 95 dias de viagem.

E a parte evangelística, como você faz?

Eu programo minhas viagens de tal forma que consigo estar à noite nas igrejas das cidades por onde passo, nas quais dou meu testemunho. Além disso, a imprensa geralmente tem interesse em minhas “aventuras”, e quando os repórteres me perguntam se estou correndo para pagar alguma promessa, aproveito para dar meu testemunho, anunciando a volta de Cristo e divulgando um estilo de vida saudável. Também dou palestras sobre a importância da prática de esportes.

Como é o seu preparo para essas viagens?

Acho curioso quando alguns dizem que é necessário ingerir proteína animal, ou mesmo os energéticos que os atletas costumam utilizar, para se ter resistência e força. Sou vegetariano e consigo correr mais de 100 km de uma vez, pedalar 200 km e nadar 10. Meu preparo é simplesmente viver nossa mensagem adventista de saúde, não só no que diz respeito à alimentação, é claro.

Fale sobre sua mais recente aventura e seu projeto futuro?

Meu desafio mais recente foi correr e pedalar desde o Monte Caburaí, ponto mais extremo ao norte do Brasil, até o Chuí, no Rio Grande do Sul, tudo aprovado pela Comissão de Desportos da Aeronáutica. Foi um desafio e tanto e até rendeu um livro que foi impresso pela Casa Publicadora Brasileira [www.cpb.com.br], intitulado Conquistanto o Brasil. É uma espécie de "diário de bordo", onde registrei minhas impressões sobre os vários lugares por onde passei.

Dentro de poucos anos, pretendo correr por todos os países do mundo, anunciando a breve volta de Jesus. Já estou estudando os percursos, estudando inglês e procurando patrocinadores para o projeto.