quinta-feira, janeiro 25, 2007

Contradições do evolucionismo

À medida que a Biologia Molecular e a Bioquímica se desenvolvem, mais dúvidas surgem sobre a teoria da evolução

Dra. Márcia Oliveira de Paula é bióloga, formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde também concluiu seu mestrado em Ciências, com ênfase em Microbiologia. De 1989 a 1991, lecionou em várias universidades e faculdades particulares.

Em 1991, iniciou seu doutorado na USP (também na área de microbiologia) e começou a dar aulas no Instituto Adventista de Ensino, campus São Paulo.

Atualmente, além de professora e chefe do Departamento de Biologia Geral da Faculdade de Ciências do Unasp, também é membro do Núcleo de Estudos das Origens (NEO). O grupo desenvolve trabalho de divulgação de estudos criacionistas para a igreja, universidades, escolas, etc.

Dra. Márcia nasceu no dia 22 de maio de 1960, em Capão Redondo, São Paulo. Porém, morou a maior parte de sua vida em Minas Gerais, principalmente em Juiz de Fora e Belo Horizonte. Só voltou para São Paulo em 1991, para fazer o doutorado.

No intervalo de uma de suas aulas, concedeu esta entrevista a Michelson Borges:

O caderno “Mais!”, do jornal Folha de S. Paulo (31/12/98), apresentou artigos sobre o evolucionismo, dizendo que essa teoria é um dos principais debates deste fim de século. Por que, depois de quase 140 anos da formulação da teoria de Darwin, os evolucionistas ainda não chegaram a um consenso?

Nenhuma das teorias atuais explica todos os pontos da evolução. Embora muitos experimentos tenham sido feitos e muita coisa tenha sido discutida, não se tem uma teoria para explicar a origem da vida, de maneira clara.

Temos que lembrar, também, que a Ciência não é algo estático. Ela está sempre mudando. À medida que se conhece mais, novas opiniões surgem. Além disso, grande parte dos cientistas considera a evolução um fato. Eles acreditam que são as teorias que mudam para explicar a evolução. E nós, criacionistas, contestamos isso porque evidências não são provas. E a evolução só dispõe de evidências.

A idéia de um Criador não pode ser provada por experiências de laboratório. Mesmo assim, podemos considerar o criacionismo “científico”?

Particularmente, não gosto da expressão “criacionismo científico” porque, na verdade, o criacionismo científico que existia há alguns anos, talvez com poucas exceções, tentava apenas contradizer o evolucionismo. Não era “criacionismo” mas uma “teoria antievolucionista”.

A ciência atual não aceita a presença do sobrenatural e tenta explicar tudo pelos mecanismos naturais. Os cientistas procuram explicar o comportamento do universo físico, em termos de causas puramente físicas e materiais, sem invocar o sobrenatural. Mas por que não podemos invocar o sobrenatural? Alguns cientistas têm medo de que, se o sobrenatural for invocado, pare de se fazer ciência, atribuindo-se ao sobrenatural tudo o que a ciência não puder explicar. Só que invocar o sobrenatural para explicar, por exemplo, a origem da vida – que é algo que ninguém consegue explicar – não parece ser uma coisa tão ilógica.

O criacionismo também tem evidências daquilo que defende?

Temos muitas evidências do planejamento do Universo e da vida. Mas isso não prova a existência de Deus. Até que ponto se pode provar que Deus existe? Eu acredito que Deus não quer ser provado. As pessoas devem acreditar nEle pela fé. Se fosse possível provar que Deus existe, todo mundo teria que acreditar nEle. E então, onde entraria a fé? Os evolucionistas têm evidências que apóiam sua teoria, mas nós também as temos.

Em última instância, dá para se considerar que, no campo das evidências, nenhuma teoria leva vantagem sobre a outra?

Sim. Alguns criacionistas mal-informados acham que a evolução é uma bobagem, porque não existe nenhuma base para se acreditar nela. Mas isso acontece porque essas pessoas realmente não conhecem a ciência. É lógico que a teoria da evolução faz algum sentido, porque, se ela fosse totalmente absurda, não haveria milhares de cientistas e uma boa parte da população que a aceitaria. O evolucionismo tem alguma lógica, mas também tem muitas incoerências.

Quais são as maiores incoerências do evolucionismo?

Não dá para explicar a origem dos sistemas vivos pela evolução. Isso não era um problema para os evolucionistas do século 19, como Darwin, que acreditavam que as células vivas eram organismos muito simples. Mas, hoje em dia, cada vez mais os estudos de biologia molecular e bioquímica estão mostrando que a célula e os sistemas celulares são altamente complexos e não podem ser explicados através de etapas sucessivas. É o problema da “complexidade irredutível”. Muitos sistemas biológicos são considerados irredutivelmente complexos, ou seja, eles dependem de várias partes que têm que interagir. E essas partes não poderiam ter surgido ao acaso simplesmente porque, se tirarmos uma delas, o todo não funciona mais.

Tomemos o exemplo da coagulação do sangue. A hemofilia B é uma doença que impede a coagulação, devido à falta de uma substância chamada Fator 8 da Coagulação. Portanto, se faltar somente essa substância na circulação sangüínea, e a pessoa não se tratar, ela irá morrer. Então, como o processo de coagulação poderia ter se desenvolvido a partir do nada, se quando falta uma única proteína, ele não funciona? Outro exemplo de complexidade irredutível é o sistema imunológico. É algo tão intrincado que não se pode explicar seu surgimento aos poucos.

Esses sistemas biológicos irredutivelmente complexos realmente indicam planejamento. Só que a ciência, ao invés de estar comemorando a existência do Planejador, se calou. Por quê? Porque admitir Deus exige postura e compromisso diante dEle. E as pessoas querem fugir de um compromisso com o Criador. Se, pelo contrário, surgimos pela evolução, somos livres para fazer o que quisermos, sem dar satisfação para ninguém.

O que a coluna geológica diz ao criacionista?

Há pelo menos dois problemas relacionados com esse assunto. No princípio do período cambriano você tem praticamente todos os filos representados: moluscos, ecnodermas, protozoários, algas, anelídeos, artrópodes (trilobitas)... Se todos os organismos aparecem no começo do cambriano, de onde eles evoluíram? Onde estão os ancestrais deles? Alguns dizem: “Ah, no pré-cambriano.” Mas olhando para o pré-cambriano, não encontramos absolutamente nada, a não ser bactérias e algas azuis. E todo mundo sabe que, para uma bactéria dar origem a um trilobita, seria um salto absurdo, porque eles são seres altamente complexos. De onde eles evoluíram, então? Alguns poderiam dizer: “Evoluíram de animais mais simples que se fossilizaram.” Mas nenhum deles se fossilizou! Esse é o “grande salto” que a evolução não explica.

A falta de elos intermediários no registro paleontológico é realmente um grande problema para a evolução. Se o darwinismo é verdadeiro – e os evolucionistas acreditam que as mudanças são lentas, ou seja, as espécies se modificam lentamente –, onde estão os fósseis intermediários entre os grupos de organismos? Deveria haver, na coluna geológica, milhares de fósseis de organismos em transição.

A biologia molecular e a bioquímica têm sido uma “pedra no sapato” dos evolucionistas. Por quê?

A biologia molecular e a bioquímica estão mostrando cada vez mais a complexidade da célula. Antigamente, os cientistas consideravam os protozoários sem importância, achando que eles poderiam ter surgido do nada. Tanto que eles acreditavam na teoria da geração espontânea e achavam que uma célula era como um simples pedaço de gelatina. Quando passamos a estudar as células em microscópios eletrônicos, vimos que a única célula de um protozoário é altamente complexa. Não dá para explicar a origem desses sistemas como vindo do nada. A teoria da evolução não consegue explicar nem a origem de proteínas. Até hoje, o máximo que se conseguiu produzir em laboratório foram alguns aminoácidos e proteinóides, que não são proteínas. E mesmo que se conseguisse formar uma proteína inteira ou um DNA inteiro, isso ainda não seria vida. Precisaríamos colocar todas essas moléculas em uma célula viva, com uma membrana, que se reproduzisse...

Uma célula mínima, a bactéria mais simples que se pode imaginar, precisa de pelo menos 600 proteínas diferentes para funcionar. O problema é que as proteínas nas células vivas são produzidas pelo DNA. E o DNA, para se duplicar, precisa de muitas proteínas e de enzimas. Aí vem aquela história do ovo e da galinha: “Quem surgiu primeiro: o DNA ou a proteína?” Os evolucionistas arranjaram a história de um RNA autocatalítico, ou seja, um RNA que pode se autoproduzir. Só que, na verdade, mesmo que isso tenha existido no passado, hoje em dia os sistemas biológicos não funcionam com esse RNA, e sim com DNAs. As proteínas são produzidas numa organela da célula chamada ribossomo, que, por sua vez, é formado por dezenas de proteínas diferentes e mais alguns tipos de RNA (que também são produzidos a partir do DNA). Então, para fabricarmos a “máquina” de produzir proteínas, teremos que ter muitas proteínas. Mesmo que elas tivessem surgido por acaso, no começo, como poderiam ter sido produzidas depois?

No livro Viagem ao Sobrenatural, publicado pela CPB, o autor Roger Morneau diz (nas págs. 54 e 55) que a teoria da evolução é uma arma eficaz nas mãos do inimigo de Deus. Por quê?

Porque desvia o pensamento de Deus como Criador. Para os que crêem em Deus e aceitam a evolução, o Senhor não criou o homem de maneira pessoal e não criou a Terra para ser habitada. Para eles, Deus teria dado início à vida através da evolução. Só que isso elimina a credibilidade das Escrituras porque, se passarmos a considerar o livro de Gênesis como uma alegoria, também poderemos considerar os demais livros da Bíblia como não-verdadeiros.

Para os evolucionistas, estamos num processo de aprimoramento e iremos evoluir, quem sabe, até atingir a perfeição. Esta é uma idéia totalmente oposta à Bíblia. A Bíblia mostra que o homem era perfeito mas caiu. E depois da queda, foi se degradando cada vez mais. E o único caminho para voltarmos ao plano de Deus é a salvação por meio de Cristo. Geralmente os evolucionistas não conseguem enxergar o plano da salvação como nós enxergamos.

Então é impossível conciliar a teoria da evolução com a teoria da criação...

Algumas pessoas até tentam, mas não dá. Se você se torna um evolucionista teísta, tem que deixar de crer em grande parte da Bíblia. Você não crê no Gênesis, por conseguinte você não vai acreditar no plano da salvação. E também vai questionar a existência de Satanás, porque vai achar que o mal está dentro do ser humano. E para que a volta de Cristo, se o homem tem a capacidade de melhorar? Será que as profecias estão se cumprindo mesmo? Não seriam linguagem figurada, poesia, etc.? Realmente, acho muito difícil conciliar as duas coisas.

Os evolucionistas teístas acham que conseguem fazer essa conciliação. O problema é que muitos deles não conhecem, não aceitam e não lêem a Bíblia. Na verdade, alguns até aceitam algumas partes que lhes convêm, mas não aceitam a Palavra de Deus como um todo, porque não dá para fazer isso e continuar sendo evolucionista.

Você acha, então, que a experiência da conversão é fundamental para que se aceite a Bíblia e o criacionismo?

Sem dúvida. Duvido que, algum dia, alguém consiga convencer um evolucionista a se tornar criacionista sem acreditar em Deus. Eu acredito que um evolucionista se torna criacionista quando passa pela experiência da conversão, quando encontra e aceita a Deus. Aí, sim, ele vai tentar explicar a origem das coisas de outra maneira, porque saberá que Deus é o Criador.

É lógico que, se fizermos uma palestra apresentando as incoerências da teoria da evolução, poderemos até despertar na pessoa algumas interrogações que abrirão caminho para a busca de Deus.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Cristo é real

Jovem ex-budista conta como Jesus mudou sua vida

Simone Hanada é descendente de japoneses. Seus avós vieram para o Brasil fugindo da II Guerra Mundial. Ela nasceu em 1979 e mora atualmente no bairro Liberdade, em São Paulo. É formada em jornalismo pela Universidade de Santo Amaro (Unisa), e trabalhou como repórter e produtora do programa de TV “Fé em Ação” (veiculado pelo Adsat), da Federação dos Empresários, Executivos e Profissionais Liberais Adventistas do Brasil.

Nesta entrevista, concedida a Michelson Borges, ela fala de sua infância como budista, de sua adolescência conturbada e de como conheceu a Jesus.

Fale um pouco sobre sua infância.

Até os seis anos eu nunca havia ouvido falar de Jesus, pois fui alfabetizada em uma escola budista, a Mahayana, na Liberdade. Quando eu tinha seis anos, meus pais se mudaram para Campo Limpo, e me colocaram, “por acidente”, em uma escola adventista (a “Alvorada do Saber”). Foi lá que tive meu primeiro contato com Jesus e aprendi que Ele é um Amigo que pode ajudar as pessoas. Como meus pais estavam tendo problemas conjugais e meu pai estava perdendo tudo em jogos de azar, eu freqüentemente levava figuras de Jesus e as colava na porta de casa. Eu não entendia bem por que fazia aquilo, só sabia que podia ser uma coisa boa, pois ouvia dizer que Jesus é bom. Eu pedia para o meu pai olhar a figura e fazer o sinal da cruz, pois imaginava que aquilo pudesse resolver os problemas de nossa família.

Após a separação de meus pais, que se mudaram para o Japão, aos 8 anos de idade fui morar com meus avós, de novo na Liberdade, ficando com eles os 13 anos seguintes. Lá as coisas foram mais complicadas para mim, devido à repressão por parte dos meus avós. Eles não queriam que eu tivesse contato com os “brasileiros”, o que era inevitável, pois eu estudava em uma escola da rede pública. Cheguei a ser expulsa de casa duas vezes, por causa de minhas amizades com brasileiros.

Aos 11 anos comecei a trabalhar numa papelaria e a fazer “bicos”, como vender sanduíches, justamente para conquistar certa independência dos meus avós. Além disso, eu queria ajudar meu irmão Marcelo, que também morava conosco, a ter as “coisinhas” dele.

Você teve uma adolescência conturbada também.

Sim. Aos 13 anos comecei a me refugiar nas bebidas e a trabalhar como promoter na colônia japonesa. Eu tinha um RG falso que me possibilitava entrar nos bailes que eu organizava. Com isso conquistei certo status, mas também me tornei dependente do álcool. Freqüentemente voltava para casa tarde da noite, e quando pensava em meus problemas – a falta dos pais, solidão, falsos amigos, que só se aproximavam para obter vantagens sociais – percebia que minha vida não tinha sentido algum.

Sua religiosidade não a ajudava nesse ponto?

Eu achava que as orações que fazia no Obutsudam [altar dos ancestrais] resolveriam meu vazio interior, mesmo não praticando um budismo tão ortodoxo quanto o dos meus avós. Orávamos aos mortos, acendíamos incenso e fazíamos oferendas de alimentos para eles. Isso eu fazia todos os dias, em cada refeição. Mas, na verdade, de certa forma, eu sentia medo dos mortos, pois fui ensinada a crer que eles estavam sempre nos observando, vendo nossos erros.

Eu também freqüentava as reuniões no templo budista, mas aquelas filosofias me pareciam muito irreais e distantes, e não me tocavam. Sempre saía do templo tão vazia quanto ali entrava. (Por isso mesmo hoje não concordo com sermões que são apenas teóricos, não tocando em aspectos práticos da vida cristã.)

Em que momento sua vida começou a mudar?

Entre os 13 e os 14 anos conquistei maior independência, ao conseguir outro emprego com melhor remuneração. Por outro lado, passei a beber mais e a consumir drogas leves, entrando em depressão freqüentemente. Eu tinha surtos de pânico e não sentia segurança em nada; sentia, sim, uma insegurança de tudo – da vida, das pessoas...

Certa noite, saí em busca de um bar para beber. Eu estava profundamente revoltada com a vida naquela noite. Caminhando pela Rua São Joaquim, encontrei um amigo da escola que me convidou a atravessar a rua para ouvir um amigo dele, que estava tocando violão, assentado na calçada do outro lado. Rodeado por um grupo de jovens, alguns deles usuários de drogas, ele estava tocando músicas evangélicas. Eu me recusei a ir até lá, pois achava esse tipo de música ridícula e cafona. Como fiquei sozinha, resolvi atravessar a rua para saber por que aqueles jovens estavam ali, em volta do violeiro. À medida que interpretava as canções, ele dizia, com um linguajar repleto de gírias, adequado ao público, que Deus os amava e que eles precisavam largar aquela vida vazia, de drogas e álcool.

O tempo foi passando, as pessoas foram indo embora, e quando percebi, estava sentada perto dele, só nós dois. Ele viu que eu carregava uma revista de astrologia, e perguntou se eu acreditava naquilo. Eu disse que sim, que achava que os astros poderiam influenciar nossa vida. Então ele perguntou se a revista falava em Deus e eu disse que falava alguma coisa. Sua pergunta seguinte foi: “Você acredita em Deus?” Meio hesitante, respondi que sim e ele passou a me falar de Jesus, o Filho de Deus que nos ama e tem um plano para nossa vida. Ficamos até às cinco da manhã ali, conversando sobre Jesus. Mal percebi o tempo passar.

Com o tempo, nossa amizade se aprofundou e começamos a namorar. Seu apelido era Nego, e ele era um adventista afastado da igreja. Tempos depois, eu ia entender que uma vez que você conhece a verdade, fica “carimbado” e não consegue fugir dela.

Um dia fui convidada a participar de um culto de pôr-do-sol na casa dos pais do Nego. Foi maravilhoso ouvir aqueles hinos e orações. A última vez em que eu ouvira falar de Cristo assim fora nos tempos em que estudei na escola adventista. E aquelas boas lembranças me vieram à mente. Quando me perguntaram se eu tinha algum pedido de oração, fiquei surpresa. “Como assim? Vão orar por mim?”

Dali para frente passei a querer experimentar mais aquele sentimento gostoso. Percebi que Jesus era um amigo muito próximo deles, e isso era fantástico para mim, pois no budismo não havia nada semelhante. Vi que poderia haver solução para os meus problemas, pois havia um Deus pessoal que Se interessava por mim.

Como foi sua decisão de se tornar adventista?

O Nego e eu acabamos rompendo o namoro, o que foi um choque para mim. Percebi que havia colocado minhas esperanças nele, e esse havia sido meu erro: achar que um ser humano supriria minhas necessidades e preencheria meu vazio interior. Minha depressão e insegurança voltaram, e cheguei ao ponto de quase me suicidar. Foi quando pensei que Jesus poderia me trazer o Nego de volta e comecei a orar nesse sentido.

A irmã do Nego percebeu meu desespero. Começou a me aconselhar, a estudar a Bíblia comigo e a me convidar para freqüentar a igreja. Eu aceitei na intenção de que Deus visse meu “esforço” e me devolvesse o Nego. Mas aos poucos o Senhor foi me mostrando que aquela não era uma motivação correta. À medida que estudava a Bíblia e freqüentava os cultos, minha fé foi se fortalecendo e meu foco, se modificando. Foi como se Jesus pegasse em minha mão e dissesse: “Simone, Eu a amo e vou dar-lhe uma nova vida. Eu sei o que é melhor para você.”

Como você e seus avós viam os cristãos?

Nós conhecíamos apenas em parte o catolicismo, mas nunca pensei que houvesse alguma contradição entre o budismo e o cristianismo. Cheguei a fazer a primeira comunhão, mais por obrigatoriedade, mas o mesmo formalismo vazio que via nos cultos budistas, eu via nas missas.

Quando eu disse a meus avós que não ia mais fazer oferendas aos ancestrais, pois havia descoberto que os mortos estão dormindo, que ia deixar o emprego (onde recebia um bom salário) por causa do sábado e ia ser batizada (fui batizada em 1997, com meu irmão Marcelo), foi um choque para eles. Perceberam que o verdadeiro cristianismo, que eles desconheciam, muda completamente a vida e a convicção das pessoas. Por outro lado, eles perceberam também a mudança em meus sentimentos e atitudes. Eu fui uma jovem revoltada e, de repente, passei a ser uma pessoa amorosa. Eles ainda acham estranho o fato de hoje eu os abraçar e beijar, mas no fundo sei que gostam.

Como falar de Cristo a um budista?

Pelos atos. Os budistas não estão muito dispostos a ouvir falar de outra religião, principalmente os japoneses, que são muito fechados. É interessante começar falando (e vivendo) sobre o amor e o equilíbrio. Como adventistas, podemos aproveitar nossa ênfase no estilo de vida saudável. Temperança é equilíbrio.

Como você mantém sua comunhão com Jesus?

Chegar a Cristo não é difícil. Difícil é manter essa relação com Ele. O jovem freqüentemente se considera independente, capaz de administrar a própria vida. Mas sem Jesus, nada podemos fazer. Por entender isso, procuro “policiar” minha vida, detectando os problemas que podem me afastar de Cristo. Além disso, considero o culto matinal fundamental. Reservo pelo menos uma hora por dia para ler a Meditação, a Bíblia e orar. E eu não levanto da oração enquanto não sentir a presença de Deus comigo, para me acompanhar ao longo do dia.

Qual a missão do jovem adventista?

Aonde quer que ele vá, deve aproveitar as oportunidades para falar de Jesus. Tudo o que ele faz deve ser para honra e glória de Deus. É conveniente perguntar: “Será que a música que estou escutando honra a Deus?” “Será que minhas conversas agradam aos anjos?” “Minhas leituras, os programas a que assisto, são aprovados pelo Céu?”

Pregar o evangelho aos amigos pode parecer meio “careta”, mas tudo depende de como você fala com as pessoas. E como falar? Isso depende de como está sua comunhão com Deus. Se sua busca de Jesus não for pessoal, você nunca poderá falar de maneira pessoal de Jesus.

Como falar de Cristo nos campi?

As pessoas são arredias a esse tipo de assunto devido ao desprestígio que algumas religiões monetaristas trazem ao cristianismo. Por isso, a melhor maneira de testemunhar nas universidades são nossos atos, sendo uma pessoa de boa índole, a fim de atrair as pessoas sem discriminá-las, conversando normalmente com elas.

O que é o adventismo para você?

Foi e é uma porta para levar a Cristo. E mostra que Deus e Sua Palavra podem ser seguidos de maneira correta.

Qual o seu maior sonho?

É o que já estou conseguindo realizar: falar aos outros que existe uma nova vida em Cristo. Falar desse Cristo que para mim é real; que não se trata de mera filosofia, pois posso senti-Lo e falar com Ele enquanto estou no ônibus, dirigindo, trabalhando, caminhando. Por isso creio que o jornalismo me caiu como uma luva, pois posso divulgar o amor e a verdade desse Deus maravilhoso.

No tempo dos pioneiros

Um dos últimos netos vivos do primeiro converso ao adventismo no Brasil partilha suas memórias

Evaldo Belz nasceu no dia 12 de maio de 1914, em Gaspar Alto, SC. Neto do pioneiro do adventismo no Brasil – Guilherme Belz –, aos 18 anos mudou-se para São Paulo, a fim de estudar no antigo Colégio Adventista Brasileiro (CAB, hoje Unasp). Casado com Lydia Ady van Roo Belz (que mora há noventa anos próximo ao campus do Unasp), teve quatro filhos.

Em sua casa, no bairro Capão Redondo, em São Paulo, concedeu esta entrevista a Michelson Borges:

Como foi sua infância e juventude em Gaspar Alto, SC?

Tínhamos uma escola simples lá, fundada em 1897. Foi a primeira escola paroquial adventista do Brasil e funciona até hoje. Havia pouco dinheiro e dificuldade para se conseguir professores. Meu pai, Reinhold Belz, como inspetor de quarteirão e encarregado da prefeitura para abrir estradas, usou de sua influência, buscou donativos e incentivou as famílias da região a colocar as crianças na escola. Lembro-me até hoje da minha professora, Catharina Schirmer, e de alguns colegas.

Também não me esqueço de uma situação meio constrangedora. Um dia, meu pai me mandou arar a terra com a junta de bois, antes de ir para a escola. Trabalhei algumas horas e não queria mais ir para a escola, porque já era tarde. Ele me disse que fosse assim mesmo. Levei os bois até um pasto que havia próximo à escola e meus colegas me viram chorando. Quando cheguei à sala de aulas, eles caçoaram de mim. A despeito da vergonha, esse fato demonstra que havia duas coisas importantes naqueles idos: necessidade de trabalho e educação, que era muito valorizada pelos pioneiros adventistas.

Fale sobre seu pai.

Eu tinha muito respeito por ele. Era um homem de fé, influenciado pelo meu avô, Guilherme, o primeiro converso ao adventismo no Brasil, em 1890. Meu pai reunia a família (esposa e oito filhos) todas as manhãs para fazer o culto. Sexta-feira e sábado ao pôr-do-sol cantávamos “Desce o sol atrás dos montes”. Pena que ele morreu tão cedo.

Numa manhã de domingo, 8 de maio de 1927, meu pai se dirigia para a mata, com meu irmão Reinhold Filho, de 22 anos, e comigo, que tinha 13 anos, na época. Íamos cortar árvores para levar para a serraria de Fritz Peggau. Fritz era cunhado do meu pai e alugava sua serraria por uma porcentagem das toras cortadas. As tábuas eram vendidas em Brusque, e esse negócio constituía um complemento às atividades da roça e da criação de gado.

Às 8 horas da manhã, meu pai e meu irmão conduziam o carro de boi, quando em certa curva da picada, no meio da mata, três jovens os abordaram. Atrás do carro, só consegui ouvir as vozes exaltadas, mas não compreendi o teor da conversa. De repente, ouvi um tiro e vi os três estranhos fugindo. Corri para o local do incidente e vi meu pai e meu irmão caídos numa vala. Papai estava morto.

Ajudei meu irmão a sair do buraco e ambos corremos para casa, em busca de ajuda. O corpo do papai ficou lá até a tarde, à espera do delegado.

Além de ancião, meu pai era inspetor de quarteirão (função que, na época, equivalia à de sub-delegado). Como era cristão, responsável pela ordem local e parente de Fritz Peggau, ele se viu na obrigação de advertir o cunhado de que vira as três filhas dele saindo às escondidas e em atitudes indecorosas com uns jovens recentemente chegados da Alemanhã. Fritz (que na época havia abandonado a fé adventista) castigou as filhas, e elas contaram tudo aos namorados. Estava aí o motivo para a eliminação do delator.

Meu irmão mais velho, Edmond, de 31 anos, ficou revoltado e queria se vingar dos assassinos. Mas Reinhold disse: “Deus existe e Ele vai fazer justiça. Não precisamos fazê-la por nossas próprias mãos.” Ironicamente, pouco tempo depois, já libertos da prisão, os três assassinos acabaram morrendo (um deles picado por cobra).

O que o senhor lembra dos cultos e dos primeiros pastores?

Freqüentei o primeiro templo de madeira da Igreja de Gaspar Alto, que foi inaugurado em 23 de março de 1896. Havia unidades separadas, uma das quais se reunia na escola, também de madeira, ao lado do templo. Meu pai foi ancião por vários anos, até que foi assassinado.

Os pastores iam pouco lá. Eu me lembro dos Pastores Streithorst e Kaltenheuser. Eles subiam a cavalo de Brusque até Gaspar Alto. Geralmente chegavam na sexta-feira e ficavam até domingo ou segunda. Nessas ocasiões, vinha gente de Benedito Novo e arredores de Gaspar Alto. Esses irmãos ficavam hospedados em nossas casas. Era uma verdadeira festa espiritual.

Em nossa casa havia um quarto especial para os pastores, no segundo andar. Essa casa ainda existe lá em Gaspar Alto, mas está em ruínas. Foi uma casa comprada da escola por meu pai e reformada por ele. Quando o pastor ia em casa, era uma ocasião especial. Éramos pobres, mas minha mãe fazia uma refeição especial. Tínhamos respeito pelo servo de Deus.

Fui batizado aos 14 anos, após o falecimento de meu pai, no pequeno rio que fica próximo à igreja. Em dia de batismo, era colocada uma tábua para represar o rio. Foi um dia muito feliz. E a Santa Ceia, então? Era realizada com um único copo. Assim que uma pessoa bebia, o diácono limpava o copo com um pano. Numa época, havia um irmão com uma doença na boca. Ele era deixado para beber por último, mas ninguém ficava fora.

Por que o senhor veio para São Paulo?

Eu tinha 18 anos na época e vim para São Paulo para estudar o colegial no CAB, hoje Unasp. Mas estudei poucos meses e fui trabalhar na indústria adventista de alimentos naturais Superbom, a partir de 1932, quando ainda se chamava Excelsior. Comecei trabalhando na lavoura do colégio, a fim de pagar os estudos. Vim a convite do meu primo, o Pastor Rodolpho Belz, que era professor no colégio.

Para vir a São Paulo, aproveitei a companhia de dois anciãos que vieram como delegados para uma reunião quadrienal no CAB. Viemos de navio de Itajaí até Santos. Pegamos trem até a Estação da Luz; bonde até Santo Amaro e carro até o colégio. A viagem levava 24 horas. Vomitei muito no navio, nessa minha primeira viagem. Depois fui para a casa do meu tio missionário, Francisco Belz. Morei com ele uns dois ou três meses, em Mogi das Cruzes. Ele já estava aposentado, com cerca de 70 anos, mas era incansável. Pregava na região de Jundiaí. Trabalhei com ele no sítio dele, enquanto aguardava o momento de ir para o colégio.

Francisco nasceu em 1868, na Alemanha, por isso foi perseguido na I Guerra Mundial, aqui no Brasil. Ele pregou o evangelho em muitos lugares das regiões Sul e Sudeste. Foi um dos primeiros alunos da Escola Superior de Gaspar Alto a ser enviado para o campo missionário. Ficava meses sem ver a família e enfrentou muitas lutas numa época em que os meios de transporte eram muito precários.

Para mim, ele era um adventista de verdade. Fazia o culto pela manhã e à noite comigo e com a esposa, Gerthrud, todos os dias. E não perdia a chance de pregar o evangelho.

Como o senhor conheceu sua esposa?

Minha esposa e eu nascemos com dois anos e pouco de diferença e a poucos metros um do outro (nossas famílias eram vizinhas em Gaspar Alto). Mas com 14 meses ela veio para São Paulo com os pais, que se estabeleceram a 200 metros do antigo portão do colégio. Ela cresceu e estudou no CAB e nunca se mudou daqui nesses 90 anos. Cresceu junto com a instituição.

A família dela, os van Roo, imigrantes holandeses, mudaram-se para Gaspar Alto em 1901, por causa da Escola Superior. Quando o colégio foi transferido para Taquari, em 1903, e de lá para São Paulo, em 1915, os van Roo venderam tudo o que tinham em Santa Catarina e se mudaram para cá, em junho de 1916.

Meus pais sempre me falaram muito dos van Roo e, quando vim morar no colégio, sabia que eles também residiam aqui perto. Numa sexta-feira à noite, desci da sala de culto por algum motivo e passei pela Lydia. Não sei se conversei com ela, mas ela me chamou a atenção. Minha irmã estava estudando no colégio e sabia onde os van Roo moravam. Um dia, quando disseram que iam visitá-los, dei um jeito de ir junto. Acabei conhecendo melhor a Lydia. Eu tinha 17 anos e ela 16. Namoramos e nos casamos.

O que o senhor fazia na Superbom?

Comecei lá quando a Superbom ainda fazia parte do colégio. Trabalhava na lavoura, já que tinha experiência com o arado. Depois fui chefe da horta e, finalmente, chefe de produção, função que exerci por 46 anos, de 1932 a 1978.

Compare a igreja do seu tempo de jovem com a de hoje.

A igreja mudou muito. Naquele tempo as normas eram mais rigorosas, como no que diz respeito ao vestuário e aos adornos. Além disso, a igreja me parece morna. Antes havia mais comprometimento com a causa, mais fervor. Era uma época difícil, mas os membros trabalhavam mais. Estamos no tempo do “rico estou e de nada tenho falta”, comparado àquele tempo.

O que o senhor espera do futuro?

Oro todos os dias para estar preparado. Meu “prazo de validade” já venceu e sei que estou aqui por poucos dias. Peço que Deus envie o Espírito Santo sobre mim para que eu esteja pronto. Quero morrer preparado.

Daqui a pouco tempo vocês completarão 70 anos de casados. Qual o segredo para um casamento tão duradouro?

Primeiramente, é preciso compromisso com Deus e um com o outro; o desejo de enfrentar tudo e ficar juntos até o fim. Antes de começar o namoro, a Lydia e eu oramos para que Deus nos mostrasse se isso era da vontade dEle. Se não fosse, pedimos que Ele mudasse o que sentíamos um pelo outro, para que não sofrêssemos. Só quando tivemos certeza é que prosseguimos em nosso relacionamento.

Uma mensagem para os leitores.

A melhor coisa que podemos fazer nesta vida é nos apegarmos a Cristro e não às coisas deste mundo, que não levaremos para a vida eterna. A volta de Jesus deve ser nossa única esperança. Não existe coisa melhor do que estar com Cristo. Espero Jesus há nove décadas e nunca desanimei, graças a Deus. Vale a pena esperar! Pelo que vejo acontecendo no mundo, creio que a realização desse sonho está muito próxima; mais do que nunca.

Desde pequeno, antes ainda de meu batismo, sempre devolvi meu dízimo e nesses anos todos nunca me faltou nada. As palavras do Salmo 37:25 se cumpriram em minha vida: “Fui moço e, já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão.”

Fidelidade, oração e estudo da Bíblia – nisso consiste o segredo para permanecermos firmes. Temos que crescer dia a dia em santidade.

O salto da fé

Estudante adventista brasileiro escapa de incêndio em Moscou

”Só um milagre pode ter livrado o meu filho da terrível tragédia”, declarou à imprensa o advogado Fernando Ostrowski, pai de Ivan. A história do jovem adventista de 18 anos que estava na Rússia havia 20 dias para estudar Direito Internacional, comoveu o Brasil, no fim do mês de novembro de 2004, e ganhou destaque nos principais noticiários do País.

Na madrugada da segunda-feira, 24, o alojamento número 6 (dos estrangeiros) da Universidade da Amizade dos Povos (ex-Patrice Lumumba), em Moscou, incendiou-se, matando 37 pessoas e ferindo quase 200. Para se salvar, Ivan saltou do 5º andar. Todos os seus colegas, que residiam no mesmo alojamento, morreram. “Foi um verdadeiro pulo no escuro, um salto pela fé”, disse a mãe do jovem, a professora de música Margareth Ostrowski. Alguns estudantes que pularam do 3º e do 4º andar ficaram internados em UTIs. Outros morreram. Ivan escapou com vida, tendo apenas duas vértebras fissuradas e fraturas no antebraço esquerdo. Foi ele quem pulou do andar mais alto e quem teve menos ferimentos.

Segundo os peritos, o fogo teria começado em razão de um problema elétrico, por volta da 1h30 local (21h30, horário de Brasília), em um dos quartos do dormitório da Universidade. Cerca de 50 equipes de bombeiros trabalharam para controlar as chamas. O brasiliense Ivan Ostrowski era o único brasileiro no local.

Do hospital em Moscou, o estudante concedeu esta entrevista a Michelson Borges:

Fale sobre o que aconteceu na universidade russa, naquela madrugada do dia 24 de novembro.

Eu estava dormindo quando um dos meus colegas de quarto, um palestino, me acordou gritando “Acorda, Ivan, fogo, fogo!” Acordei e vi que o quarto já estava com bastante fumaça. Ainda dava para enxergar, mas era difícil respirar. Um dos meus colegas de quarto quebrou uma janela e eu abri outra para podermos respirar. Enquanto isso, outro colega abriu a porta do quarto, foi aí que entrou tanta fumaça que não conseguíamos ver mais nada à nossa frente.

Do lado de fora do quarto comecei a analisar a situação. Não tinha como descer com os lençóis da cama, porque já havia fogo no andar de baixo. Também não dava mais para descer pelas escadas, porque havia fumaça demais, e eu levava em média um minuto e dez segundos para descer os 210 degraus (já havia contado antes, por curiosidade). Foi então que resolvi pular.

Você ainda pensou em pegar uma mala com documentos antes de pular. Então, você estava calmo?

Acho que sim. De fato, antes de pular peguei minha mala com o dinheiro com o qual passaria o ano, alguns documentos, óculos escuros, algumas camisetas e um celular e joguei pela janela. Infelizmente, a mala não foi encontrada. Acho que alguma pessoa a levou.

Dou graças a Deus por estar vivo. É interessante como durante todo o tempo eu estava realmente tranqüilo e em paz. Nunca duvidei de que isso veio de Deus. Na hora do incêndio, agi de forma tão racional, que só mesmo a intervenção divina para explicar isso. Em nenhum momento pensei que iria morrer naquele incêndio. Pulei para sobreviver, e foi isso o que aconteceu. Sempre serei grato ao meu Deus.

Como você planejou a queda?

Mirei uma faixa de grama, porque se caísse mais adiante me arrebentaria no asfalto. Eram cerca de 12 metros de queda. Eu me esforcei também para cair do lado esquerdo, já que sou destro, e para não bater a cabeça nem o nariz.

Sua participação em clubes de Desbravadores o ajudou, de alguma forma, a saber o que fazer em momentos de perigo?

Sem dúvida. As instruções que recebi no Clube de Desbravadores Cruzeiro do Sul, de Brasília, foram de muito valor. Um bom exemplo foi a capacidade de me manter calmo nessa situação desesperadora. Mas, acima de tudo, o que mais aprendi no clube foi confiar em Deus. E isso foi fundamental.

Antes de pular, o que você pensou? Orou antes?

Eu tinha orado antes de dormir, e logo acordei com o fogo. Nessa situação, não tinha como ajoelhar e fazer uma prece. Nem havia tempo. Creio que o amor de Deus é tão grande, que Ele sabe o que se passa dentro de nós e atende mesmo as nossas súplicas não expressas.

Durante os segundos da queda, você conseguiu pensar em algo?

A queda foi muito rápida. Não me passou nada pela cabeça, somente fiquei esperando o chão chegar.

Lígia Prestes e o namorado Pedro, estudantes dominicanos que moram em frente ao prédio que pegou fogo, disseram que você foi encontrado a 10 metros do local da queda. Lembra-se de como foi parar lá?

Sei que, depois que caí, levantei, atravessei uma rua e sentei no meio-fio. Disseram-me que acenei para o Pedro e falei: “Pedro, estou aqui.” Mas isso não consigo recordar. Foi o que me contaram.

Depois que acordou, qual foi o seu primeiro pensamento?

Acordei uns 10 minutos depois da queda e fiz uma oração com meus amigos que estavam naquele dormitório.

Numa das entrevistas concedidas à imprensa, você disse que sabia que não iria morrer. O que lhe deu essa certeza?

Sei quem me deu essa certeza: Deus.

O programa de televisão Fantástico, do dia 30 de novembro, veiculou uma reportagem sobre o acidente. No fim da matéria, um físico tentou explicar como você conseguiu se salvar, dizendo que provavelmente você tenha caído em pé, com as pernas flexionadas, o que teria amortecido o impacto. Você concorda com essa explicação?

Concordo que a posição em que caí foi fundamental para minha sobrevivência. Mas foi Deus quem me guiou em todos os momentos: antes de pular, na forma de pular e depois de pular.

Qual a importância do amor dos pais, numa hora dessas?

O amor dos pais e o apoio dos amigos fazem você ter mais força e seguir em frente, porque percebe que existem pessoas que o amam e torcem por você. Pretendo continuar meus estudos aqui na Rússia, mas se não der certo, sei que meus pais estarão de braços abertos para me receber. Isso dá uma segurança tremenda.

Vai prosseguir os estudos em Moscou, então?

Sim. O ensino aqui é forte, os professores são bons e você tem chance de crescer muito no seu curso. Mas depois que me formar, pretendo pegar o primeiro avião e voltar para o Brasil.

De que forma essa experiência vai modificar sua vida espiritual?

Bem, a vida continua. Continuarei correndo atrás dos meus interesses, dos meus sonhos, mas sempre pedindo que Deus me guie e me guarde, e, principalmente, que eu aceite a vontade dEle em minha vida.

Gostaria de deixar uma mensagem para os jovens no Brasil?

Nunca duvidem do amor de Deus. Lutem pelos seus sonhos, mas principalmente coloquem o temor a Deus acima de tudo, e as demais coisas lhes serão acrescentadas. Não desperdicem suas vidas. Estamos agora plantando o que vamos colher daqui a algum tempo mais. Coloquem a semente em solo fértil.