sábado, outubro 30, 2010

Trabalho com arte

O talentoso desenhista Andrei Gonçalves Vieira nasceu em São Paulo, em 29 de março de 1974. Casado há sete anos com a dentista Evelin Manfrim de Oliveira Vieira, ele é formado em Publicidade e Marketing pela ESPM. Trabalha como ilustrador para a Casa Publicadora Brasileira desde 1988, intermitentemente, e desde 1992, continuamente. Em 1993, participou na criação da Gi e do Mindinho, personagens da revista Nosso Amiguinho. Com a revista, de forma regular, trabalha desde 1994. Após a reformulação da revista, em 2000, ficou ainda mais envolvido com ela. Nas (poucas) horas vagas, Andrei gosta de cultivar plantas curiosas, aprender línguas, ouvir música clássica e ler. Além de livros religiosos, entre seus livros preferidos estão biografias, livros sobre história e relatos de aventuras com reflexões. Ele também gosta muito de viajar para lugares culturalmente diferentes e/ou de natureza exuberante. Entre seus trabalhos publicados, está o livro infantil Se Deus Fez, Se Deus Não Fez, de autoria do jornalista Michelson Borges, para quem Andrei concedeu esta entrevista:

Desde quando você teve o interesse despertado para o desenho? Como foi isso?

Engraçado relembrar agora, mas após tantos anos, acho que o meu interesse pelo desenho se manifestou quando, na minha infância, minha mãe estudava comigo a Lição da Escola Sabatina. Não sei como é agora, mas antigamente o texto vinha com alguns desenhos para a criança pintar, na lateral da página, ou com espaços para ela desenhar. Minha mãe, que gostava muito de me ensinar as histórias da Bíblia, gostava também de desenhar. As duas coisas se uniam nessa atividade. Minha mãe desenhava bonito. Eu queria fazer igual. Gostava muito. Tanto que até hoje estou comprometido em trabalhar para Deus.

Quem foram e são suas referências?

O Heber Pintos foi, sem dúvida, meu mestre. O João Luís, que tão generosamente dedicou tempo e reservou um espaço em sua sala, ao seu lado, para que eu aprendesse com ele quando era garoto, também foi fundamental. Os originais a guache das capas da revista Nosso Amiguinho da década de 80, feitas pelo Osney, também me causam assombro ainda hoje. Fora eles, sempre me maravilhei com o trabalho do Harry Anderson. Há alguma coisa de solene e significativo em seus retratos de Jesus. Seria um sonho realizado ver um quadro original dele na minha frente. Ele era a referência do Heber. Herdei isso dele também. Gosto também da técnica e da inteligência de artistas como Norman Rockwell, Peter de Sève, Carter Goodrich e outros mais...

Se a pessoa tem aptidão para a arte, o que ela deve fazer para desenvolver o talento? O que você fez?

Eu tive a sorte de conviver desde novo com pessoas extremamente talentosas e que me concederam generosamente parte de seu tempo. Creio que precisamos colocar alvos elevados e persegui-los com disciplina. E precisamos manter sempre viva nossa capacidade de admirar o que é belo, o que é inteligente, o que é atemporal. Se mirar num alvo baixo, você vai acertar mais embaixo ainda.

Uma sugestão para quem quer aprender a desenhar de verdade é sair por aí com um caderno e material de desenho portátil desenhando o que lhe interessar. Principalmente pessoas nas ruas, praças, metrô, etc.; em diversas posições, e respeitando as proporções. Essa é uma fonte de conhecimento inestimável que você nunca vai esquecer.

Outra coisa: ler muito e ter fome de conhecimento também é fundamental. Não só assuntos relacionados com a arte.

Que tipo de coisas e temas você mais gosta de desenhar? Por quê?

Sempre gostei de fazer cartoon. Ilustração infantil. Me sinto mais livre para transmitir minha criatividade. Gosto de desenhar animais, também. Eles são fascinantes. Também gosto daquelas ilustrações conceituais corporativas.

Qual o trabalho que mais lhe deu prazer ilustrar?

As ilustrações para a saudosa revista Sinais dos Tempos e para a parte interna da Lição da Escola Sabatina dos Adultos. Gosto de participar com alguma coisa que faça o leitor pensar.


O uso do computador pode limitar a criatividade? Como usar essa ferramenta de modo equilibrado?

O computador pode ser uma tentação para nos contentarmos com o caminho mais fácil usando “efeitos” prontos. Quem cai nessa armadilha acaba perdendo a personalidade do seu trabalho e não se arrisca a ser mais criativo. Conheço artistas que migraram da antiga técnica de trabalho analógico para o digital mantendo o mesmo estilo e até o aperfeiçoando, encontrando novas e melhores maneiras de se expressar, com um ganho enorme em economia de material e tempo. O segredo é não permitir que seu trabalho fique com “cara de computador”, e tirar proveito do “control+z” para ousar cada vez mais.

Que tipo de cultura um bom desenhista deve ter?

A mais ampla possível. Isso transparece demais no trabalho. Todas as áreas do conhecimento podem contribuir. Desde a física das cores até o conhecimento da maneira como as pessoas se vestiam em determinada época. Passando até pela matemática. Existem, por exemplo, proporções matemáticas na natureza que, se reproduzidas na arte, a tornam bela.

Não estou dizendo que o ilustrador precisa ser uma enciclopédia, mas precisa ao menos saber que essas coisas existem e ter curiosidade para aprender. Definitivamente, um ilustrador, no mais completo sentido da palavra, faz parte daqueles que amam aprender coisas novas.

Voltando a falar em referências, muitos desenhistas acabam lendo e pesquisando fontes duvidosas com o objetivo de “aprimorar a técnica”. Você vê algum perigo nisso? Qual o ponto de equilíbrio nessa questão?

Isso é perigoso, sim. Acaba sendo apenas uma desculpa para dar rédeas soltas à curiosidade imprópria. Pelo contemplar somos transformados. Esse princípio se aplica muito bem ao artista. Se escolhemos contemplar o que não convém, sem dúvida nosso trabalho refletirá isso, porque nossa mente é uma “esponja”. O artista cristão consciente vai se preocupar com que mensagem seu trabalho está transmitindo e, portanto, cuidará da qualidade das suas fontes de inspiração. Alguém que se rende a Deus e permite que Jesus viva nele não ficará desamparado na hora de saber que material usar para sua inspiração.

Como a arte pode contribuir para a edificação do caráter e a pregação do evangelho?

A ilustração pode transmitir uma mensagem profundamente espiritual de forma instantânea, à primeira vista, e continuar enriquecendo a mensagem à medida que o observador for analisando o cenário, os personagens figurantes, a narrativa de fundo, etc. É um meio poderoso de comunicar. Especialmente para crianças. Mas para adultos também. Gosto muito do quadro de um artista dinamarquês chamado Carl Bloch em que Jesus está mostrando uma criança ao Seu lado. Aquilo pra mim é um sermão sem palavras. A expressão facial fala muito.

Mas para que você comunique a mensagem do evangelho fielmente, não há outra maneira de ter sucesso a não ser que Cristo esteja vivendo em você. Buscar ter a mente de Cristo. Isso não é só verdade para o pregador do evangelho, mas para todos os artistas em todas as artes. Que Ele apareça. Não a arte e nem o artista.

Na Bíblia, especialmente na construção do santuário, vemos que Deus deu orientações claras quanto às pessoas que deveriam trabalhar com a “arte”. Você acha que Deus ainda requer esse cuidado dos artistas de hoje?

Boa pergunta, Michelson. Sim, sem dúvida. A Bíblia fala que Deus encheu o artista de sabedoria para fazer toda sorte de trabalhos artísticos. Acho que isso nos dá a lição de que tudo o que aprendemos a fazer é um dom de Deus. Isso nos mantêm humildes e devedores dEle. Uma atitude de gratidão nos colocará em posição de receber cada vez mais sabedoria.

Qual o “caminho das pedras” para quem deseja empregar seu talento artístico na obra de Deus?

Encha-se do conhecimento de Deus. Beba da fonte que é a Palavra dEle. Tanto na Bíblia como no Espírito de Profecia, encontramos abundantes retratos do amor de Deus por nós. E deixe esse conhecimento fluir em sua obra, com a ajuda do Espírito Santo. A técnica, embora fundamental, é só um meio de transmitir a mensagem.

Você enfrentou um sério problema de saúde recentemente. Isso o fez ver de modo diferente seu trabalho e sua vida? O que mudou?

Sim. Embora o problema tenha sido superado, ainda estou aprendendo com isso. Posso dizer que tirou meu foco de muitas coisas que hoje classifico como vaidades. Cuido mais da minha saúde, com exercícios e alimentação saudável. Também estou mais temperante com o que permito passar pela minha cabeça. Como isso faz diferença!

domingo, outubro 03, 2010

Darwinismo com humor

Iba Mendes é criador e mantenedor do blog Humor Darwinista (www.humordarwinista.blogspot.com). Formado pela USP e sem filiação religiosa, ele simplesmente se define “como alguém que evita se contaminar por ideologias coletivistas, seja qual for sua esfera”. Nesta entrevista, concedida ao jornalista Michelson Borges, Iba fala sobre seu blog e manifesta sua opinião sobre o darwinismo:

Há quanto tempo existe o Humor Darwinista e por que resolveu criá-lo?

Inicialmente, desejo deixar claro que não partilho dos ideais criacionistas, e que meu antagonismo à ideologia darwinista não está fundamentado em qualquer que seja a crença religiosa ou livro considerado sagrado. Não obstante isso, porém, acredito que é perfeitamente possível e necessário manter sempre uma atitude de diálogo com ambos os pontos de vista.

Bom, quanto à pergunta, a ideia de um blog direcionado à questão surgiu em meados do ano passado, como reação à impostura e o deslumbramento dos devotos de Darwin em se fazerem os únicos donos da verdade.

De onde vem esse seu interesse pela controvérsia relacionada com o darwinismo?

Desde meus tempos de faculdade, sempre fui acompanhado pelo desconforto da imposição quase que compulsória da Teoria da Evolução como um fato consumado. Se por um lado muitos religiosos se opõem a Darwin por puro medo de estar desagradando a seu deus, por outro, muitos intelectuais se agarram aos ditames darwinistas apenas por receio de ser rotulados como contrários à razão. Tenho séria dificuldade em seguir pelos atalhos ideológicos que se impõem como “politicamente corretos”, como é o caso do darwinismo, que nasceu no seio do liberalismo econômico e na linhagem do empiricismo britânico, e que hoje é ensinado como um paradigma, apesar de sua ineficácia em fundamentar suas teses pelo próprio empirismo. O darwinismo subsiste, não por seus méritos científicos, mas pelo seu compromisso com uma ideologia que jamais poderá ser testada em tubos de ensaio.

Em sua opinião, a imprensa, de modo geral, tem contribuído para uma saudável discussão do assunto?

O comprometimento da imprensa para com Darwin é simplesmente escandaloso. Lamentavelmente, a liberdade de opinião, neste âmbito específico, simplesmente não existe. O problema é que historicamente o darwinismo fez-se passar de tal maneira como “ciência” que qualquer outra explicação logo passa a ser etiquetada como anticientífica e, portanto, contrária à razão. O jornalista se vê, assim, quase que na “obrigação” de louvaminhar servilmente o naturalista inglês. E o mais grave é que justificam toda essa bajulação pelo viés da ciência, quando, na verdade, o fazem por mera necessidade ideológica ou por acreditar que estão disseminando a verdade.

Acha que é por isso que está havendo uma proliferação de blogs (“imprensa alternativa”) que se propõem discutir a validade do darwinismo?

De certa forma, sim. O blog do Enézio de Almeida é um ótimo exemplo.

Qual a sua intenção ao usar o humor como crítica? Não acha que isso pode atrapalhar a discussão? Como vê o papel do humor, nesse caso?

Tanto em relação à Etimologia quanto no que diz respeito à História, o vocábulo “humor” sempre esteve associado de algum modo às ciências (fisiologia, anatomia e história natural, por exemplo). Vem do latim humor, humoris, que significa “líquido”, “umidade”, especialmente no que concerne à água e à terra (humus). A antiga medicina romana traduziu esta palavra grega por umores ou humores: sangue (ar), bílis amarela (fogo), bílis negra (terra) e fleuma (água). O prestigiado médico romano Galeno, nascido em Pérgamo, acrescentou um quinto “humor”, que era representado pelo spiritus (sopro), e que foi chamado de pneuma. Na Idade Média (e em boa parte da Idade Moderna), a medicina se baseou igualmente nesses princípios dos quatro humores (ou líquidos). Assim, embora tal termo esteja sempre ligado à disposição de espírito, no blog ele assume também, digamos, esse sentido linguisticamente não-convencional.

Ademais, historicamente não é possível dissociar o bom ou o mau humor dos debates que se travaram em torno da Teoria da Evolução. Não há melhor exemplo do que o célebre e controvertido caso envolvendo Thomas Huxley e o bispo Samuel Wilberforce. No meu blog, portanto, o “humor” serve apenas como “pano de fundo” para uma crítica que vai muito além da sátira e da mera galhofa.

Muito do que você publica provém de fontes darwinistas, o que pressupõe que você lê muito material produzido por darwinistas. Acha que o mesmo ocorre com eles? Será que os darwinistas leem bons livros de criacionistas ou de teóricos do design inteligente?

Realmente leio muito, mas muito mesmo. Nessa área específica, raramente leio um livro que não seja de autores darwinistas. Darwin, Huxley, Dawkins, Gould, Bizzo, Leakey são alguns exemplos. Quanto ao tipo de leitura dos darwinistas, a conclusão a que cheguei é que são poucos aqueles que leram, por exemplo, o livro A Origem das Espécies, de Darwin. A nova geração darwinista parece optar mais pelo conteúdo divulgado na web, daí a constante menção à Wikipédia como referência em debates na internet relacionados ao assunto, o que é lamentável.

Em sua opinião, quais são as maiores fragilidades do darwinismo?

Por especularem com uma variedade enorme de enunciados, os darwinistas sequer conseguem organizar uma confrontação verdadeiramente definitiva com os diversos “dados” em questão (“dados” decorrentes da classificação, da paleontologia, da anatomia comparada, da genética, da embriologia, da biogeografia, etc.), daí o epistemólogo Karl Popper ter contestado que essa teoria seja experimentalmente “refutável”. Portanto, penso que a grande dificuldade do darwinismo diz respeito a sua incapacidade em se fazer funcionar experimentalmente. Não que eu entenda ciência apenas como retortas e tubos de ensaio; mas, já que ostentam essa obstinada presunção, cabe a eles provar que a Teoria da Evolução vai muito além de moscas-das-frutas, cascos de cavalos, mariposas, bactérias e tentilhões.

O que poderia ser feito para melhorar a relação e o diálogo entre darwinistas e proponentes do design inteligente ou mesmo criacionistas?

Penso que tudo gira em torno das aspirações ideológicas de cada uma dessas vertentes. Há muitos interesses envolvidos na questão, o que por enquanto torna esse diálogo, penso eu, numa jibóica utopia. A maior dificuldade parece residir na questão das origens. Ness aspecto, “deus” (espiritualismo) e o “acaso” (materialismo) sintetizam toda a celeuma. Segundo Rémy Chauvin, o que é preciso fazer é estudar, procurar compreender e abandonar o orgulho.

Você mantém contato com darwinistas? O que tem aprendido dessas discussões?

O suficiente para concluir que estou lidando com ardorosos defensores de uma religião às avessas. Os neodarwinistas, com as boas exceções, é claro, comportam-se como aquele crente que não arreda uma só vírgula “daquilo que seu mestre falou”. Para muitos deles, é mais fácil sobreviver sem oxigênio do que viver sem Darwin.

Como você define sua posição em relação ao assunto das origens?

Defino-me como “tedeísta” (de Tedeísmo), que é um neologismo criado a partir da sigla TDI (Teoria do Desenho Inteligente), que pode ser sintetizado no seguinte postulado: a vida na Terra, em seu nível mais fundamental, em seus componentes mais importantes, é produto de atividade inteligente.

É isso!