segunda-feira, janeiro 28, 2008

Reavivamento em Israel

Ellen White deixou vários textos abordando a necessidade de se levar o conhecimento do Messias ao povo Judeu. Dentre eles, encontramos o Manuscrito 87, de 1907, que diz: “Chegou o tempo em que se deve dar aos judeus a luz da última mensagem evangélica. O Senhor quer que sustentemos e animemos os homens que desejam trabalhar de maneira certa em prol deste povo, pois há de haver uma multidão convicta da verdade que tomará posição a favor de Deus.” Felizmente, a Igreja Adventista do Sétimo Dia está investindo num trabalho todo especial em favor desse povo, e já se pode notar um avanço significativo na pregação do evangelho, mesmo em Israel.

Para falar sobre esse assunto, ninguém melhor do que o presidente do campo israelense, pastor Richard Elofer. Ele é natural do Marrocos e vem de uma família judaica sefaradita, que foi expulsa da Espanha em 1492. A vida no Marrocos acabou se tornando bastante difícil devido à guerra entre judeus e árabes. Por isso, na década de 1960, os pais de Richard resolveram mudar para Paris.

Lá, o pastor Elofer estudou teologia no colégio de Collonges, fazendo depois um estágio na editora adventista daquele país. Exerceu o ministério por 17 anos na França e foi diretor de uma rádio local por seis anos. Atualmente é editor da revista L’Olivier e presidente do campo de Israel. Enquanto participava do 1º Seminário Internacional para Líderes de Comunidades Judaico-Adventistas, na cidade de Socorro, SP, concedeu esta entrevista a Michelson Borges:

Como você aceitou a mensagem adventista e a Jesus como o Messias?

Eu tinha cerca de 20 anos e já havia passado pelo Bar-Mitsvá (cerimônia em que o menino de 13 anos atinge maturidade religiosa). Recebi uma Bíblia de presente do rabinato e passei a lê-la todos os dias. O que mais me chamava a atenção eram as profecias acerca do Messias.

Naquela época, eu estudava com um amigo em Paris, cujos pais eram adventistas. Um dia, na casa deles, disseram-me que estavam bastante interessados no fato de eu ser judeu, pois eles viviam praticamente como judeus: guardavam o sábado e praticavam os hábitos dietéticos bíblicos. A partir daquele momento, comecei a estudar a Bíblia com eles durante muitos anos. Até que finalmente compreendi que Jesus era o Messias, aceitei-O e pedi para ser batizado.

Qual a situação da Igreja Adventista em Israel?

Está indo muito bem. Durante vários anos tivemos poucos membros e era difícil trabalhar. Mas nos últimos anos houve um novo fenômeno de migração da Europa Oriental e de trabalhadores estrangeiros, o que fez com que aumentasse o número de adventistas em Israel. Em 1989 tínhamos apenas 80 membros, cerca de dez anos depois já eram 800, espalhados em dez igrejas: duas em Haifa, quatro em Tel Aviv, uma em Nazaré, uma em Jerusalém, uma em Bersheba e uma em Elate, ao sul de Israel. Temos igrejas étnicas, porque é difícil reunir todas essas pessoas em uma mesma igreja; elas vêm de vários países e, por isso, falam línguas diferentes.

O que dificultava o trabalho antes?

Além dos poucos membros de igreja, o povo de Israel no passado era mais fechado do que hoje, devido à guerra e à pobreza. Quando o país foi criado, há 50 anos, a maior parte da população era composta por sobreviventes do Holocausto. Durante muitos anos eles dependeram de um ticket de racionamento para comer. Até os anos 1970, os israelenses nem sequer saíam do país por ser muito caro. Depois dos anos 1970, a economia do país melhorou e muitos judeus enriqueceram, passando a viajar bastante ao exterior; com isso, tiveram contato com outras culturas.

A nova migração, em particular a russa, também contribuiu para facilitar o evangelismo. Desde 1990, logo depois da queda do muro de Berlim e do comunismo, um milhão de judeus russos, mais abertos ao Novo Testamento e a Jesus, foram para Israel, ocasionando um renovamento total da população. Só para se ter uma idéia, temos mais de cem membros adventistas russos, os quais deram nova vida à igreja em Israel.

E o relacionamento com os judeus ortodoxos?

É muito difícil. Alguns anos atrás, por exemplo, os ultra-ortodoxos atacaram com pedras uma comunidade de judeus messiânicos em Bersheba. Houve um grande debate na imprensa sobre esse assunto, e grande parte dos israelenses tomou a defesa das minorias religiosas, pois os ultra-ortodoxos são considerados uma ameaça pelos outros judeus (todos os movimentos ortodoxos somam uns 20% da população, no entanto, têm muita força no Parlamento). De tempos em tempos os judeus ortodoxos tentam dificultar o trabalho dos cristãos.

E como funciona o trabalho de evangelismo em Israel?

Há ainda uma certa dificuldade, porque somos um grupo pequeno, comparado a uma população de cerca de seis milhões, e trabalhamos em sete línguas: hebraico, árabe, inglês, russo, espanhol e axanti (dialeto africano de Gana). Essa multiplicidade de línguas torna mais difícil o evangelismo. Quando cheguei como presidente do campo de Israel, reorganizei as igrejas e criamos cinco novas congregações. Estabelecemos como alvo de cada congregação evangelizar seu próprio grupo étnico. Portanto, agora as coisas estão começando a funcionar melhor.

Realizamos programas de evangelismo, mas é preciso ser muito prudente em Israel, porque não há separação entre Igreja e Estado. O rabinato está muito envolvido nas decisões do governo e os cristãos são considerados como minoria e não são muito bem recebidos quando fazem evangelismo entre judeus. Por isso, divulgamos os programas entregando convites de mão em mão e não fazemos anúncio público, para ser mais discretos. Dessa maneira está funcionando bem.

Quando se fala em cristianismo, qual a primeira coisa que vem à cabeça de um judeu praticante?

Anti-semitismo.

E quando se fala em adventismo?

O adventismo quase não é conhecido por lá. Em Israel eles não nos chamam de adventistas, chamam-nos de a “assembléia que guarda o sábado”.

O que fazer para tirar essa imagem de anti-semitismo e de cristianismo apóstata medieval de sobre nós?

Isso é a primeira coisa que devemos procurar fazer, além de repensar a história do cristianismo. Devemos eliminar de nossa vida e de nosso pensamento tudo aquilo que é anti-semita. Às vezes, somos anti-semitas mesmo sem o saber, pois mantemos várias expressões e preconceitos anti-semitas. Se a igreja cristã continuar a manter esse tipo de pensamento e palavras, será difícil alcançar os judeus. É necessário também que a igreja repense sua teologia em relação a Israel.

O que mais chama a atenção dos judeus na teologia adventista?

Eles ficam muito surpresos por cultivarmos algumas práticas judaicas (que, no entanto, foram deixadas para todos os povos), particularmente o sábado e a abstenção de alimentos imundos. Aí reside a abertura que nos permite ir mais longe em nosso relacionamento com eles. Apesar de outras igrejas cristãs realizarem cultos aos sábados, por ser o feriado semanal lá em Israel, nós mostramos que observamos o sábado não apenas por ser um feriado e o fazemos em outras partes do mundo também.

Como os judeus vêem o Novo Testamento?

A maior parte deles não conhece o Novo Testamento. Eles têm a impressão de que o NT é um livro escrito contra o povo judeu, pois assim aprenderam na escola. Mas hoje se nota maior abertura, e cada vez mais o NT começa a ser lido. Alguns judeus já o estão considerando não tanto como um livro cristão, mas como um livro judaico, escrito por judeus. Atualmente, em todo curso de História e Literatura nas universidades israelenses, estuda-se o NT. E nos últimos 50 anos, foram escritos cerca de 500 livros em hebraico acerca de Jesus e do NT em Israel, podendo ser encontradas Bíblias completas em hebraico – com o Antigo e o Novo Testamentos – à venda.

Qual o significado do Messias para o povo judeu atualmente e como eles interpretam as profecias messiânicas do Antigo Testamento?

Existem vários pensamentos sobre o Messias no meio judaico. Há judeus que não crêem no Messias, ainda que creiam em Deus; outros crêem que é uma utopia; há os que acreditam que ele é uma pessoa, como os ultra-ortodoxos que quiseram reconhecer num rabino de Nova Iorque o Messias; outros judeus esperam um Messias glorioso no futuro – e para eles a marca significativa de sua chegada é a paz que haverá no mundo; e outros esperam uma era messiânica de paz.

Quanto às profecias messiânicas, esse é um assunto muito vasto e difícil de se compreender devido às muitas interpretações, mas a idéia geral admitida por quase todos os judeus que estudam a Bíblia é que as passagens que nós aplicamos ao Messias, como Isaías 53, se referem à totalidade do povo de Israel e não apenas a uma pessoa. Assim, o “Servo Sofredor”, para eles, é o povo de Israel e não Jesus.

Existe algum tipo de perseguição contra aqueles que aceitam o adventismo?

Depende muito. Mas a família que permanece no judaísmo certamente não fica contente com isso. Por isso, o judeu-adventista deve testemunhar com muita sabedoria, mostrando que ele, na verdade, não deixou de ser judeu, mas tornou-se mais judeu do que era antes, pois passou a crer e a praticar ensinamentos bíblicos que antes não compreendia.

A dificuldade maior é com o governo. Quando se descobre que um judeu tornou-se adventista, ele perde a nacionalidade.

Quais os maiores desafios da Igreja Adventista na missão de levar o Messias ao povo judeu?

Eu creio que a primeira coisa é reconsiderar nosso pensamento com respeito a Israel, como já disse, e multiplicar as oportunidades de se entrar em contato com os judeus. A idéia de se criar sinagogas adventistas onde o judeu possa adorar a Deus junto conosco num contexto em que ele se sinta à vontade, também é muito sábia. Mas um dos maiores elementos de êxito é o contato de coração a coração, pessoa a pessoa. Eu fui levado a Cristo não por uma campanha de evangelização, mas por um amigo adventista. Por isso creio que nada substitui o contato pessoal.

Que cuidados devemos ter ao partilhar a fé com um judeu?

Você não deve tentar convencê-lo, mas simplesmente tentar ser seu amigo. Não devemos apenas pregar sobre o que cremos, devemos viver o que cremos. Assim, nosso amigo judeu, ao observar a maneira como guardamos o sábado e como nos alimentamos, por exemplo, naturalmente nos fará perguntas. Então você poderá falar a respeito do que crê. Isso é mais que pregação, é partilha de experiência, por que foi ele quem veio perguntar.

Começar por onde?

Enfatizando os pontos comuns para criar confiança, para que ele não tenha a impressão de que pertencemos a uma religião totalmente diferente da dele. Quando me tornei adventista, não deixei de ser judeu; pelo contrário, me senti mais judeu ainda. Aceitar o Messias foi um complemento natural para minhas crenças e é isso que devemos transmitir aos judeus.

Uma mensagem para o a igreja do Brasil?

Fiquei contente ao perceber o zelo missionário dos irmãos do Brasil, e essa é um lembrança bastante encorajadora que levo daqui. E meu desejo é que todos possamos trabalhar juntos para que Jesus volte em breve.