quarta-feira, janeiro 19, 2011

A mais urgente de nossas necessidades

Michelson, qual sua impressão sobre a iniciativa do Pr. Ted Wilson em direcionar a igreja mundial para os temas do Reavivamento e da Reforma?

Vejo com muito bons olhos essa iniciativa. Precisamos admitir que, a despeito dos grandes esforços evangelísticos que temos feito, o desafio – levar o evangelho a todo o mundo – extrapola nossa capacidade humana. Além disso, quando focamos demais na obra, corremos o risco de esquecer o Senhor da obra e, muitas vezes, até negligenciamos nossa vida espiritual. De que vale evangelizar multidões e nos sentirmos vazios, sem o poder do alto? Como oferecer o que não temos? Contagiar com o que não sentimos? Quando isso acontece, a obra se torna negócio. Fica insípida, técnica e perde o sentido. Entretanto, quando amamos Jesus de todo o coração e mantemos comunhão íntima com Ele, o trabalho se torna prazeroso. Na verdade, é muito mais que trabalho: passamos a encarar a pregação do evangelho como nossa missão de vida; passamos a “exalar” esperança por onde passamos.

Os meios de comunicação e a tecnologia são ferramentas imprescindíveis para a pregação, mas é bom lembrar que os primeiros discípulos de Jesus contavam apenas com as mãos, os pés e a voz, e levaram a mensagem ao mundo conhecido deles. Fizeram isso com eficiência porque dependeram da capacitação do Santo Espírito. Agora imagine os recursos que Deus nos coloca à disposição – editoras, TV, rádio, internet, etc. –, tudo isso dirigido pelo Espírito e manejado por pessoas verdadeiramente convertidas e reavivadas! Certamente poderemos sonhar em ver Jesus voltar ainda em nossa geração. Por isso, repito, fico muito feliz em ver a ênfase que nosso líder mundial está dando na maior e mais urgente necessidade da igreja (Eventos Finais, p. 189): reavivamento e reforma.

Lideres adventistas anteriores também tentaram promover o reavivamento e a reforma da igreja, no passado. Existe algo no presente que pode servir de diferencial?

Como escreveu o Dr. George Knight, o maior problema teológico da Igreja Adventista do Sétimo Dia, atualmente, sobrepuja qualquer discussão sobre a Trindade, cristologia ou perfeccionismo, por exemplo. O maior “problema” está em nosso nome denominacional mesmo: somos adventistas, mas o advento ainda não ocorreu, e estamos em pleno século 21! É 2011 e ainda estamos aqui neste mundo desgastado pelas guerras, catástrofes e maldades. Ainda contemplamos crimes sendo cometidos todos os dias; pessoas morrendo de fome; injustiças sendo cometidas... Somente uma pessoa muito insensível não se sentiria comovida com essa situação toda.

Creio que o pastor Ted Wilson poderá ter êxito neste momento justamente porque não aguentamos mais esperar. Porque já está mais do que claro para nós que se não tomarmos uma decisão séria ao lado de Jesus, poderemos ficar por mais tempo aqui deste lado escuro da eternidade. Não é possível que tenhamos nos acostumado tanto à escuridão que nossos olhos não mais anseiem pela luz! Além de tudo isso, os sinais proféticos estão aí para mostrar que a volta de Jesus está às portas. Ele tem pressa de voltar e tudo o que não queremos é recebê-Lo sem ser justificados e sem ter passado pelo reavivamento e a reforma que nos habilitarão para morar para sempre com os salvos, os santos anjos e o bom Deus.

Esses assuntos são geralmente circundados de muita polêmica. Que dica você daria a um irmão leigo para que ele tenha em sua vida o verdadeiro reavivamento e a verdadeira reforma, e não seja enganado por ventos de doutrinas?

“Se alguém quiser fazer a vontade dEle, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo” (João 7:17). Acredito que o crente que quiser de todo o coração fazer a vontade de Deus e buscar conhecimento sem preconceitos ou más intenções, vai encontrar o que procura e será orientado pelo Espírito Santo.

Precisamos estudar a Bíblia com dedicação e devoção, buscando a vontade de Deus em cada linha e pedindo forças dEle para colocar tudo em prática. Precisamos orar mais do que oramos. Temos que estar presentes às reuniões em que o povo de Deus O busca. Enfim, devemos aproveitar cada momento, cada oportunidade de introjetar os princípios do reino de Deus, para que Ele opere em nós o querer e o realizar e para que, com o tempo, desenvolvamos a mente de Cristo, pensemos mais nas coisas do alto e tenhamos em nós o mesmo sentimento que havia nEle.

Creio sinceramente que Deus está guiando Sua igreja, apesar dos erros e problemas que há no seio dela. E isso ocorre porque o joio e o trigo crescerão juntos até a ceifa. Mas é bom lembrarmos sempre que, “embora existam males na igreja, e tenham de existir até ao fim do mundo, a igreja destes últimos dias há de ser a luz do mundo poluído e desmoralizado pelo pecado. A igreja, débil e defeituosa, precisando ser repreendida, advertida e aconselhada, é o único objeto na Terra ao qual Cristo confere Sua suprema consideração” (Ellen White, Testemunhos Para Ministros, p. 49).

Um dos grandes problemas que circundam os temas sobre reavivamento e reforma são as desavenças entre irmãos que supostamente abraçam a mensagem e irmãos que supostamente não dão ouvidos a ela. Se eu entendo que aceitei a mensagem e tenho buscado profundamente a renovação de Deus para minha vida espiritual, qual a melhor forma de fazer com que outros tenham experiência semelhante e sejamos finalmente reavivados individualmente e como povo?

Um dos livros de Ellen White que mais aprecio é o Santificação. Nele, a Sra. White diz que a pessoa saudável não se dá conta disso. Apenas os doentes ou que estão sentindo alguma dor é que percebem a falta que a saúde faz. De modo semelhante, os que estão sinceramente buscando a santificação não se darão conta da própria santidade, muito pelo contrário, quanto mais próximos de Jesus, mais claramente veremos nossa pecaminosidade e carência da graça divina.

“Sem Mim, nada podeis fazer”, disse o Mestre. Precisamos dEle para tudo: para ser justificados, santificados e glorificados. Um dos principais objetivos do diabo é nos levar ao desequilíbrio, aos extremos. Alguns de nós ele leva para o extremo do fanatismo, de achar que podemos alcançar a perfeição pelas obras, a santificação pela simples mudança de aspectos exteriores. Ele faz com que essas pessoas centralizem as atenções na dieta e julguem aqueles que não vivem como elas. Ocasiona uma cegueira tal que torna as pessoas críticas e condenadoras ao passo que se consideram santas porque não comem queijo ou chocolate.

No outro extremo, há aqueles que não dão importância para a reforma, que pensam que, independentemente de como vivem, do que vestem ou comem, a graça de Deus os alcançará e serão salvos. Ambos os extremos são perigosos. O fanático perfeccionista vive uma religião castradora, opressora e que o distancia das pessoas. Pior ainda é quando ele finalmente percebe que seu padrão de conduta é tão elevado que nem ele mesmo consegue alcançar. Aí vêm o desânimo e o desespero. O liberal vive no mundo de faz-de-conta, como se Deus lhe passasse a mão na cabeça e não Se importasse com a indiferença e o descaso para com Suas leis e conselhos.

O equilíbrio consiste em fazer as coisas certas pelos motivos certos. Ser temperante e buscar a perfeição em nossa esfera não para ser salvos ou conquistar o favor de Deus, mas como resposta ao amor do Criador que aponta o melhor caminho para nós e que deixou mais do que claro que nos ama, entregando a vida na cruz. Cristo pagou grande preço por mim. Confio plenamente nEle e, por isso, quero cumprir a vontade dEle, que é a melhor para mim. Fui salvo por Jesus e quero alimentar essa experiência cada dia, sendo santificado a cada passo e buscando o perdão quando caio.

Como a experiência de cada um é intransferível, devemos ter muita paciência uns com os outros. Quanto tempo levamos para descobrir e colocar em prática muitas coisas? Por que, então, exigir que os novos na fé caminhem com nossas passadas? Temos que amar ao semelhante e procurar, por nosso exemplo equilibrado, influenciá-lo para o bem.

Deixe duas mensagens sobre a importância de participar dessa corrente de ação em busca da bênção do Santo Espírito. Uma para pastores e líderes, outra para membros leigos.

Na verdade, a mensagem é para ambos os grupos, porque, no fim das contas, somos um só. Claro que os líderes têm maior responsabilidade diante de Deus, porque estão à frente do povo e devem servir de modelo. Então, para esses, digo que é necessária vigilância constante e grande dose de autonegação. É preciso maturidade para saber o que convém e o que não convém fazer como líderes. É preciso ter a consciência de que, mais do que mandar ou administrar, é necessário influenciar, e a influência é conquistada com amor e firmeza; com palavras sábias e exemplo coerente. O líder servidor chegará ao coração dos liderados e terá grande poder de influência. Tenho certeza de que se a maior parte da liderança buscar sinceramente o reavivamento e a reforma, isso terá efeito multiplicador; será como uma reação em cadeia na igreja.

Os liderados precisam nutrir amor e respeito pelos líderes que Deus constituiu. Devem orar por eles e apoiá-los quando servem ao Senhor com sinceridade. Ser liderado não significa anular minhas opiniões em detrimento das do líder, mas significa, sim, dar as mãos, colocar as diferenças inconsequentes de lado e usar meus talentos para a terminação da obra. Jamais devo usar minhas energias para simplesmente criticar os que estão tentando fazer o trabalho de Deus.

Não podemos nos esquecer das palavras de Jesus: “Nisto conhecerão todos que sois Meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13:35).

(Entrevista concedida por Michelson Borges ao blog Reavivamento e Reforma)