segunda-feira, setembro 29, 2008

Big bang e universos paralelos

Eduardo Lütz é físico e tem atuado também em outras áreas como, por exemplo, Matemática, Informática, Filosofia, Linguagens e Educação. Foi, além de tradutor, professor de Ensino Médio, de escola técnica e de nível superior. Também é programador, analista de sistemas, arquiteto e engenheiro de software. Na Física, tem feito pesquisas em Astrofísica Nuclear, Física Hipernuclear, Buracos Negros e aplicações da Geometria Diferencial a estudos de Cosmologia. Atualmente, ocupa a maior parte de seu tempo em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de software para a Hewlett-Packard.

Nesta entrevista, concedida a Michelson Borges, ele fala sobre big bang, universos e paralelos e outros temas afins.

Você acha que o big bang é uma teoria plausível?

Antes de responder, me parece importante mencionar um aspecto importante da divulgação de informações sobre ciência.

É importante ter em mente que a intuição humana (incluindo a Filosofia) é extremamente inadequada para lidar propriamente com as leis físicas. Felizmente, isso não se aplica a métodos matemáticos, cuja origem não é humana, embora os símbolos sejam inventados. Assim, várias coisas que eu digo sobre ciência podem parecer inconsistentes ou até absurdas, à primeira vista, (incluindo o que acabei de falar sobnre Matemática) pois procuro ajustar a visão filosófica às evidências físicas e suas conseqüências matemáticas, e não ao que parece “razoável” à intuição humana.

Muitas pessoas, ao saber que a probabilidade de determinada hipótese é de “apenas” 99%, optam por uma hipótese concorrente que lhes parece mais razoável. Muito freqüentemente, porém, essa tal “hipótese mais razoável” possui uma probabilidade muito baixa (digamos, 1%), só que sua medida não é amplamente conhecida.

Quando utilizamos o método científico genuíno (não aquela versão descaracterizada que vemos nos livros didáticos), podemos descobrir e corrigir esses equívocos. Um dos aspectos mais fundamentais e menos reconhecidos do método científico é sua base matemática. Teorias científicas são estruturas matemáticas que satisfazem a certos critérios. Muitos, ao ouvirem explicações, motivações ou resultados de uma teoria, confundem essas coisas com a teoria em si.

Estritamente falando, o big bang não chega a ser uma teoria científica. Trata-se de uma família de soluções da equação fundamental de uma teoria científica chamada de Relatividade Geral. Essa teoria, por sua vez, tem-se demonstrado uma excelente aproximação em literalmente bilhões de experimentos e observações.

Vou tentar dar uma idéia do que se trata. Existe um teorema da geometria conhecido pelo nome de “identidades de Bianchi”. Esse teorema, quando combinado com a lei da conservação de energia (primeira lei da Termodinâmica) gera uma equação que constitui a pedra angular da Relatividade Geral.

Como qualquer equação que representa leis físicas, essa descreve uma infinidade de comportamentos possíveis (um para cada situação possível), chamados de soluções da equação. Basicamente, podemos “perguntar” à equação o que acontece em uma dada situação, e ela “responde” com uma de suas soluções. Ao aplicarmos essa equação ao Universo como um todo, podemos ver quais tipos de cosmologias são viáveis e quais tipos são inviáveis, em termos de compatibilidade com a equação.

Observando o Universo, e comparando os dados coletados com as diferentes famílias de soluções da equação da Relatividade Geral, há uma família que se destaca: uma em que o Universo está em expansão. O “problema” é que os membros dessa família têm outra coisa em comum: se o Universo for finito, ele foi extremamente pequeno no passado. Se for infinito, pelo menos a matéria esteve muito concentrada no passado, mesmo ocupando todo o espaço existente. Pode não parecer óbvio à primeira vista, mas matematicamente isso indica que o Universo teve uma origem.

A própria equação que gera essas soluções só é válida até muito próxima ao instante inicial, mas não pode tocar nele e dizer exatamente como o Universo foi criado.

Então, a resposta à sua pergunta, do ponto de vista físico, é: “Sim, o big bang é razoável, mas com uma ressalva quanto ao uso da palavra ‘teoria’, que é questionável nesse caso.”

Como relacionar tudo isso com a doutrina da Criação como exposta na Bíblia?

Primeiramente, é interessante notar que a Relatividade Geral é bem aceita entre criacionistas que têm algum conhecimento dessa área.

De acordo com a Bíblia, o Universo foi criado por Deus antes da semana de Gênesis 1. Uma das evidências encontra-se em Jó 38. Não é razoável, do ponto de vista bíblico, especular-se que o Universo teria sido criado na mesma semana de Gênesis 1. Quão mais velho é o Universo do que a Terra? Um ano? Mil anos? Um trilhão de anos? Pela Bíblia, somente, não sabemos e não podemos opinar.

Como Deus criou o Universo? A Bíblia não diz. Apenas comenta que foi pela Sua Palavra (por meio do Logos) que Ele ordenou e logo tudo apareceu. Isso significa que houve apenas uma fase da criação, que absolutamente tudo foi criado instantaneamente? Obviamente não. Isso seria incompatível até mesmo com Gênesis 1 sozinho, mesmo sem o auxílio de outras passagens. Significa que Deus criou o Universo já grande, plenamente expandido? De forma nenhuma.

Por outro lado, Cristo é chamado de Pai da Eternidade ou Pai Eterno (Isaías 9:6) . Comparando com outras afirmações bíblicas associadas, vemos indicações de Deus existindo além do espaço-tempo. Quando falamos em início do Universo, no contexto físico, estamos falando em início do espaço e do tempo, não só da matéria (até porque matéria e espaço-tempo são interdependentes). A passagem da não-existência do espaço-tempo para a existência dessa estrutura parece ter sua forma mais simples se essa origem ocorrer em algo parecido com uma singularidade (concentração que parece “infinita”), com posterior expansão. As leis físicas mostram que o Universo funciona de maneira otimizada (princípio de Hamilton). Teologicamente, isso significa que Deus sempre age da forma mais eficiente possível, adotando a solução mais simples para cada objetivo.

Então, do ponto de vista teológico, levando em conta Bíblia e as evidências físicas, o cenário do big bang é uma possibilidade mais do que razoável.

E quanto a galáxias “velhas” detectadas a mais de 11 bilhões de anos-luz?

Respondo com outra pergunta: O que isso tem a ver com o big bang? Intrinsecamente, nada. Indiretamente, isso afeta hipóteses sobre mecanismos de formação de galáxias que pretendem estar em harmonia com o cenário do big bang, porém, não lhe servem de fundamento.

Mas existem confusões ainda maiores: há quem chegue a misturar idéias sobre a origem da vida com a do big bang. Lamentável!

Outro detalhe: as estimativas sobre a idade do Universo são muito mais frágeis do que muitos pensam. Existem modelos com altíssima probabilidade de serem adequados, mas também existem modelos frágeis ou até bastante limitados em termos de consistência. Infelizmente, o público leigo dificilmente recebe informações para poder perceber a diferença.

O que você acha da teoria dos multiversos ou universos paralelos? Não seria uma tentativa de escapar à conclusão aparentemente lógica de que o Universo teve um começo?

Realmente, existem muitas tentativas de fugir de cenários nos quais o Universo teve uma origem. Quanto a idéias de multiversos, existem vários indícios no mundo físico que apontam para a existência de “universos paralelos”. Eles aparecem em vários contextos, na verdade. Alguns desses contextos são bastante atraentes para o estudioso da Bíblia.

Existem também os casos de mera especulação, sem qualquer apoio de evidências, aparentemente motivados somente pela aversão à idéia de o Universo ter tido um início, como é o caso do ponto de origem no big bang.

De que forma os universos paralelos podem ser atraentes para o estudioso da Bíblia?

Primeiramente, a Bíblia não se preocupa em explicar fenômenos físicos, embora ela ensine que devemos estudar o mundo físico até para entender melhor temas teológicos. A título de exemplo, notemos a discussão de Jó e seus amigos sobre a justiça de Deus e a forma como Deus aparece no capítulo 38, comentando que eles falavam sem conhecimento de causa, e que deveriam observar o mundo físico para aprender mais sobre o Criador. Voltando ao foco: a Bíblia concentra-se em informações de mais alto nível, do tipo, “Por que Deus permite o sofrimento, em que contexto maior isso se encaixa e qual a solução?”. Ela fornece detalhes históricos passados, presentes e futuros, indicando sua relevância no contexto geral e qual deve ser nosso papel nesses eventos. Isso, por si só, já deveria despertar a curiosidade para que se fizessem pesquisas científicas a respeito.

Apesar de o foco não ser esse, a Bíblia faz afirmações ousadas que possuem implicações físicas. Ela também menciona de passagem algumas coisas que as pessoas tendem a ignorar. Entre os conceitos bíblicos interessantes estão os “buracos de verme”, “wormholes”, “aberturas” no espaço-tempo permitindo, por exemplo, transpor rapidamente distâncias astronômicas sem violar o limite da velocidade da luz.

Outro conceito interessante é o de “regiões celestes”. Muitas pessoas, que crêem na Bíblia e acreditam em anjos e demônios, pensam nessas entidades como seres etéreos, feitos de “energia pura” (isso não existe, diga-se de passagem). Essas entidades seriam invisíveis e intangíveis, podendo atravessar paredes, por exemplo. Porém, observando com mais atenção os textos bíblicos, não bem é isso o que encontramos.

Para encurtar a história, o contexto geral sugere que este universo teria diferentes camadas capazes de comunicar-se entre si em condições adequadas. Essas camadas funcionariam como se fossem universos paralelos, mas na verdade seriam parte deste universo. Objetos e pessoas poderiam, em princípio, passar de uma camada para outra, mas não espontaneamente. Alguém com acesso a uma tecnologia para mover-se de uma camada para outra poderia entrar e sair de lugares “fechados” (pareceria ter atravessado paredes) e ficar invisível.

Podemos aplicar a primeira e a segunda leis da Termodinâmica para afirmar que o Universo teve que ter tido um início?

Podemos usar essas leis ao estudar as evidências. Conforme mencionei, um dos dois princípios que geram a equação que aponta para o início e expansão do Universo (big bang) é justamente a primeira lei da Termodinâmica. Esse cenário de Universo em expansão é extremamente favorável a que a segunda lei da Termodinâmica permita a existência de um Universo habitável.

É bastante estranho ver criacionistas combatendo essas idéias e às vezes até tentando propor modelos alternativos que acabariam implicando em um universo eterno.

Algumas reportagens sobre experimentos com o acelerador de partículas LHC afirmaram que se a tal “partícula de Deus” (bóson de Higgs) não for descoberta terão que reformular a física. Isso é verdade?

A imprensa tem feito um péssimo trabalho ao divulgar informações sobre esses assuntos. Suspeito que isso possa até ter sido estimulado por alguns físicos que queriam fazer propaganda de seu trabalho, mas as distorções que se observam são impressionantes: nenhum físico, por mais sensacionalista que seja, deve ter dito a maioria do que se alardeia por aí. Há muitos erros grosseiros. Falta revisão. Você já alertou seus leitores para as aberrações que aparecem em reportagens sobre a Bíblia, Cristo e assuntos correlatos em certos meios de comunicação, como a revista Veja, Superinteressante, IstoÉ, etc. O mesmo tipo de coisa que eles fazem com a Bíblia, fazem também com a ciência. Distorção total.

A própria expressão “partícula Deus” é totalmente descabida e desconectada de qualquer sentido.

Vamos contextualizar um pouco esse assunto: nós e tudo o que nos cerca, incluindo a própria luz, tudo isso é feito de partículas. Essas partículas são classificadas de acordo com suas propriedades. No primeiro nível de classificação, temos os bósons e os férmions. Fótons (partículas de luz) são exemplos de bósons. Existem vários outros exemplos conhecidos e estudados em laboratório. Bósons são partículas tais que várias podem ocupar o mesmo estado ao mesmo tempo (a idéia de que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo não se aplica a bósons). Ou seja, bósons não obedecem ao princípio da exclusão de Pauli. Os férmions são as partículas que obedecem a este princípio. Exemplos: elétrons, prótons, nêutrons, quarks.

A partícula que muitos estão esperando encontrar no LHC é um bóson em particular chamado de bóson de Higgs. De acordo com um os modelos mas aceitos para classificar partículas e prever seu comportamento (especialmente no contexto do chamado Modelo Padrão da Física de Partículas), esse tipo de partícula seria responsável pelo fato de que as demais partículas têm massa.

Além disso, segundo algumas estimativas, essa partícula tem uma boa chance de ser detectada em experimentos envolvendo energias em uma faixa acessível ao LHC. E essa partícula, prevista teoricamente, é uma espécie de última peça do quebra-cabeça de uma área bastante importante. Por isso os físicos estão excitados.

Infelizmente, para justificar os investimentos, vários físicos adotam a postura de anunciar que essa ou aquela descoberta vai revolucionar completamente tudo o que se sabe sobre X ou Y. Isso é conversa para os órgãos financiadores, para a imprensa e para os pobres filósofos da ciência seguidores de Kuhn. As coisas nunca funcionaram assim e não vão começar a funcionar assim agora. Os modelos em questão já funcionam bem para seus propósitos e nada pode tirar isso deles.

Teoremas e teorias testados e funcionais não perdem validade. A teoria da Mecânica de Newton sempre permanecerá válida, pois foi devidamente testada. Isso não significa que os postulados newtonianos sejam verdades absolutas, mas significa que o modelo matemático correspondentes fornece resultados adequados em seu domínio de validade.

Novas teorias apenas ampliam as fronteiras, não podem invalidar as anteriores. Se você tem lido algo diferente disso, precisa reavaliar suas fontes sobre o funcionamento da ciência. Provavelmente essas fontes estão misturando ciência verdadeira com falsa e muito provavelmente confundindo filosofia da ciência com ciência. A última é confiável. Já a filosofia da ciência tem sido um poderoso instrumento de desinformação e, ainda assim, é a principal fonte de informação sobre ciência para não-cientistas.

Por outro lado, uma das coisas que mais entusiasma aos físicos em experimentos como os que serão feitos no LHC é justamente a possibilidade de encontrar coisas estranhas, além ou diferentemente do que foi previsto teoricamente. Por exemplo, o Universo pode ter mais do que três dimensões de espaço (não confundir com universos paralelos). Por que não vemos essas dimensões? Porque estariam compactificadas, como se nessas direções o universo estivesse enrolado com um diâmetro muito pequeno, não afetando nosso cotidiano. Existe isso? Quantas dimensões são? Que efeitos isso tem sobre as possibilidades de explorar o mundo físico? Essas dimensões extras podem afetar drasticamente os resultados de experimentos no LHC.

Por uma questão de romantismo ou propaganda, muitos físicos parecem gostar de pensar nesses eventos como surpresas que jogam por terra o que se pensava saber sobre Física, mas o fato é que essas “surpresas” geralmente são esperadas. Por exemplo, o caso das dimensões extras fazendo “desaparecer” alguns fenômenos esperados e fazendo “aparecer” outros foi previsto teoricamente (ex.: http://arxiv.org/abs/hep-ph/0605062v3). O que acontece é que esses experimentos servem para tirar dúvidas (ex.: quantas dimensões extras existem?), testar os limites das teorias atuais e obter informações para a elaboração de teorias com domínio de validade ainda maior.

terça-feira, setembro 09, 2008

Ele harmonizou a fé com a razão

Tarcísio da Silva Vieira nasceu em Santa Helena de Goiás, em abril de 1981. Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade de Rio Verde, é mestre em Química Orgânica pela Universidade de Brasília. Foi professor de Química e monitor de Bioquímica na faculdade em que se graduou, e professor de Química, Biologia, Física e Matemática em diversos cursinhos e colégios conveniados com as redes Objetivo e COC. Atualmente, desenvolve atividades no Centro Cultural da Sociedade Criacionista Brasileira (SCB), em Brasília, e leciona Biologia em colégios da Rede Adventista de Ensino, na mesma cidade. Na SCB, Tarcísio desenvolve atividades gerais como elaboração e revisão de material (livros, artigos, CDs, DVDs), traduções, palestras e preparo de material para as reuniões quinzenais no Centro Cultural da Sociedade.

Durante um congresso universitário em Goiânia, do qual participou como palestrante, concedeu esta entrevista a Michelson Borges:

Como foi a sua formação religiosa?

Nasci em um lar que poderia ser designado como católico não-praticante. Havia influência de correntes como espiritismo, de um lado, e protestantismo, de outro. Minha mãe sempre mencionava Deus e até me ensinou a falar com Ele. Foi ela quem me incentivou a procurar uma igreja quando criança, período em que tive os primeiros contatos com o cristianismo.

Por que você se tornou ateu?

Ao alcançar certa maturidade, entre 14 e 15 anos, muita coisa se tornou confusa em minha mente. Questões acerca de minha existência, vários problemas que assolavam minha família, "paixões da mocidade" que eram mais atraentes do que o conceito abstrato que eu tinha sobre Deus, explicações dadas em minha escola para muitos acontecimentos históricos e fenômenos naturais que se opunham completamente àquilo que eu aprendia na Igreja, tudo isso adicionado ao conhecimento superficial que eu tinha da Bíblia, acabaram me levando a questionar a veracidade da existência de um Criador. Isso foi conseqüência natural de minha superficialidade em assuntos referentes a Deus, O qual, graças ao contexto materialista em que eu estava inserido, foi completamente ofuscado pelo ateísmo.

O que o fez mudar de idéia e aceitar o criacionismo?

Após aquele período de ateísmo, que durou aproximadamente até meus 18 anos, muitas coisas aconteceram em minha vida pessoal que me levaram a crer novamente em um Criador e aceitar a idéia de um Deus. Decidi então empenhar tempo e energia em buscar firmar meus pensamentos de forma que não tivesse aquele tipo de experiência novamente, em que o que eu acreditasse fosse refutado por supostas evidências de um mundo materialista.

Como sempre gostei muito de ciências (minha mãe que o diga, quando eu inventava de ir para a cozinha fazer "experimentos"), entre 15 e 18 anos, estudei muito biologia, matemática, física e química. Nesse período, já estava bem familiarizado com todos os aspectos discutidos no Ensino Médio nessas disciplinas. Ao aceitar novamente o conceito de um Criador e a idéia de um Deus pessoal, dediquei-me a estudar (com a ajuda de um grande amigo) a Bíblia com intensidade e profundidade, pois sabia que meu caminho para o ateísmo era fruto de minha superficialidade em assuntos bíblicos, como mencionei anteriormente.

Ao prosseguir em meus estudos, o conhecimento que eu tinha de ciências incrivelmente ia se harmonizando com aquilo que estava descobrindo na Palavra de Deus. O grande ápice ocorreu quando passei a estudar a biografia de cientistas como Galileu, Kepler, Robert Boyle, Newton, Maxwell e outros, que harmonizavam o conhecimento científico com a fé em um Deus pessoal. Nessa época, passei a procurar desesperadamente material nessa área, até que num belo dia, chegou às minhas mãos um livro intitulado E Disse Deus – A Ciência Confirma a Autoridade da Bíblia, escrito por um químico. Fiquei encantado e desde então o criacionismo é uma responsabilidade que o Senhor Deus me permitiu conhecer, estudar e trabalhar.

Como você via o criacionismo antes de estudá-lo mais a fundo?

Não cheguei a conhecer absolutamente nada sobre criacionismo antes de ler aquele livro que mencionei. Hoje entendo o motivo disso: os meios de comunicação, principalemente as revistas que eu gostava muito de ler (Superinteressante e Galileu), não davam nem dão espaço para discussão de idéias, de forma que o evolucionismo é propagado como verdade absoluta e inquestionável. Meu primeiro contato com o criacionismo foi bastante empolgante, pois eu já vinha trabalhando nesse sentido de harmonizar o conhecimento científico e a fé e um Deus pessoal - só não sabia o nome que se dava a isso (risos).

Você teve uma experiência frustrante numa denominação evangélica. Fale um pouco sobre isso.

Quando passei a crer em um Deus pessoal eu não era protestante. Após um episódio, que hoje vejo como engraçado mas que na época me apavorou muito, decidi procurar uma denominação protestante, à qual pertenci por algum tempo. Na escola dominical, passamos a estudar os dez mandamentos, quando o professor, ao ler o quarto mandamento, disse que "não era preciso discutir aquele ponto pois ninguém mais tinha dúvidas quanto à guarda do domingo". Foi então que perguntei o motivo pelo qual poderíamos violar aquele quarto mandamento mas não poderíamos violar nenhum dos demais. Como já disse, quando decidi estudar a Bíblia, busquei me aprofundar. Isso havia me dado muitos argumentos que se opunham aos aspectos apontados pelo professor na defesa da guarda do domingo como dia de repouso.

Como o horário já estava avançado naquele dia, o professor propôs um sábado à noite para discutirmos o assunto. Pensei: "Que legal! Vou poder compartilhar com todos os jovens aquilo que eu e alguns amigos temos estudado." Então me dediquei ainda mais ao assunto. Busquei fatos históricos em que figuravam o imperador Constantino, profecias de Daniel e até argumentação de um grupo de judeus messiânicos que conheci.

Na data marcada, meus três amigos e eu fomos à igreja. Naquele sábado a noite, não se faziam presentes apenas os jovens, mas boa parte da congregação. Sentimos um pouco de hostilidade por parte das pessoas ali presentes, mas pensamos que era devido ao nosso nervosismo. Quando o debate começou, expusemos nossas idéias com base naquele material que mencionei, além de texto em grego e hebraico que aprendemos um pouquinho. Abruptamente, um dos dois pastores presentes pegou um microfone, interrompeu nossa argumentação e começou a nos repreender. Uma das frases que mais me impressionaram foi: "Você não pode estudar a Bíblia com a mesma mente que você usa para estudar coisas referentes ao seu mestrado!" Nessa época eu esta cursando mestrado na UNB. Aquilo me entristeceu muito, não porque eu não deveria estudar a Bíblia com a mente racional que eu utilizava no mestrado, pois é isso mesmo que Deus quer que façamos: que O busquemos de forma racional - me entristeci com a maneira como o pastor falou, com a voz alta e agressiva. Vi profunda ignorância na recusa ao diálogo; a mesma hostilidade com a qual estava acostumado nos freqüentes debates que tive com evolucionistas.

A certa altura, nos perguntaram se alguém que não guardasse o sábado seria castigado no inferno. Respondemos com outra pergunta: Desonrar pai e mãe seria pecado, uma vez que está no mesmo conjunto de mandamentos que o sábado? Não quero entrar em detalhes do que aconteceu naquela noite, mas o balanço final é que fomos convidados a nos retirar daquela denominação (para não dizer expulsos), caso pretendêssemos guardar o sábado. Esse episódio me marcou muito.

Como conheceu a SCB e o Dr. Ruy Vieira, seu presidente?

Eu havia começado meus estudos de pós-graduação na Unicamp. Estando em São Paulo, viajava algumas vezes à Brasília. Numa dessas viagens, uma pessoa que conhecia meu interesse pelo criacionismo mencionou a existência de uma Sociedade Criacionista em Brasília, cujo presidente é o Dr. Ruy. O nome me pareceu familiar. Como muitos projetos de pesquisa na Unicamp são financiados pela Fapesp, lembrei-me de que um de seus presidentes havia sido Dr. Ruy Vieira. Fiquei mais entusiasmado ainda e pensei: "Será que um dos presidentes da Fapesp é criacionista?" Para minha felicidade, aquela pergunta foi respondida com um "sim"! Deus me deu, então, a oportunidade de conhecer, aprender e conviver com uma das mentes mais brilhantes do mundo e um caráter cuja humildade tem a mesma proporção.

Você costuma dizer que há equívocos em ambos os lados – criacionismo e evolucionismo. Como assim?

Uma das maiores virtudes da boa pesquisa ou de um bom estudo é o maior grau possível de objetividade quanto ao assunto em questão. A outra virtude de igual valor é o reconhecimento da necessidade de aperfeiçoamento de um dado modelo, e isso é conseqüência natural do reconhecimento de que nenhum modelo é perfeito, livre de falhas e questionamento. Muitos criacionistas e muitos evolucionistas cometem o mesmo erro quando não aplicam essas virtudes, e, como conseqüência, temos muitos equívocos que aparecem de ambos os lados, como nos ensina o professor Dr. Eduardo Lütz. A humildade e cautela na interpretação de fatos que ocorrem na natureza é muito importante em qualquer cosmovisão de mundo que venhamos a ter.

Quais os pontos mais frágeis do darwinismo, do ponto de vista da biologia e da química?

Durante meu curso de graduação em Ciências Biológicas, percebi muitas coisas incoerentes no modelo darwiniano. Penso que muito disso se deu por conhecer um pouco de áreas com as quais a maioria dos biólogos não é muito familiarizada, como a matemática, a física e a química. Há pelo menos dois pontos que gosto de destacar: (1) muitas idéias como a seleção natural têm uma grande aplicabilidade dentro daquilo que denominamos de microevolução. Ao se extrapolar aquelas idéias para o campo da macroevolução, verificamos que não há uma aplicabilidade que sustente o modelo em questão. Isso está vindo à tona em muitas conferências realizadas por evolucionistas. (2) os defensores do darwinismo e do neodarwinismo concentram sua atenção no desenvolvimento da vida em nosso planeta. Mas não há como a vida se desenvolver se ela não tiver um início. A origem da vida é um campo completamente sem respostas, mas cheio de especulações, que os defensores da macroevolução evitam defrontar exatamente pela complexidade bioquímica das formas de vida que conhecemos. Todos os experimentos em química que tentam simular a passagem da matéria inorgânica para compostos orgânicos, a formação de compartimentos que seriam os precursores das membranas celulares, a produção de biomoléculas em supostas condições de uma "terra primitiva", envolvem planejamento sintético e reagentes com altíssimo grau de pureza, o que é completamente oposto ao acaso e aos "caldos primordiais" ensinados nas escolas e universidades como verdade absoluta. Esses experimentos nos mostram que qualquer que seja o mecanismo que Deus tenha usado para produzir seres vivos exigiu planejamento e inteligência.

Como biólogo com mestrado em química, de que forma você avalia a teoria da abiogênese?

A abiogênese postula que a matéria inanimada (sem vida) pode tornar-se matéria animada (portadora de características atribuídas aos seres vivos). O primeiro aspecto a ser considerado quando se avaliam modelos que propõem o surgimento da vida ao acaso, é uma definição apropriada de vida. Isso se faz necessário para que tenhamos uma noção de onde, em que momento e com quais constituintes aquilo que era inanimado supostamente veio a manifestar características de organismos vivos. Isso raramente é discutido em trabalhos que buscam demonstrar a origem abiogênica da vida. As explicações para a origem dos seres vivos presentes em nossos livros-textos de Ensino Médio e de curso universitário, relatando a origem dos seres vivos a partir de compostos orgânicos provenientes de reações químicas entre substâncias inorgânicas em uma atmosfera primitiva (e isso é abiogênese, pois aquilo que é vivo teria surgido daquilo que não é vivo), misturam fato com fértil imaginação.

O que se faz em laboratório é demonstrar que a matéria inorgânica pode ser convertida em matéria orgânica, e o experimento de Urey-Miller é considerado um dos pioneiros nesse campo. Embora constituam os seres vivos, compostos orgânicos não manifestam características dos seres vivos. A teoria da abiogênese carece de comprovação experimental e não é validada por nenhum dos vastos campos da química, principalmente a química orgânica, além de se tratar de uma grande desonestidade com aqueles que se interessam pelo assunto. Qualquer pessoa que se dedicar ao estudo da biologia logo aprenderá que a vida é uma manifestação muito, mas muito complexa em termos bioquímicos, biofísicos e fisiológicos, em que muitas partes pontuais precisam trabalhar juntas para o funcionamento do todo. Se essa mesma pessoa se interessar por química, entenderá muito rápido que todo e qualquer experimento exige, além de planejamento e controle das condições reacionais, a separação dos produtos obtidos para se dar seqüência a um novo experimento, dentro da rota sintética planejada, uma vez que as sínteses orgânicas em laboratório sempre levam à formação de misturas racêmicas (e produtos "indesejados"), desde que haja a possibilidades da formação de centros assimétricos na molécula. E os organismos vivos são repletos dessas moléculas ditas quirais. Logo ficará bem claro que a teoria da abiogênese não faz sentido algum.

As universidades são mesmo centros de discussão de idéias?

Percebo que em alguns cursos existe mais discussão e debates sobre certos fatos e opiniões, já outros cursos são mais fechados quanto a discussões. Essas diferenças são facilmente entendidas analisando-se o contexto em que cada curso universitário está inserido. Mas uma coisa me intriga: no meio acadêmico, em geral, idéias que sejam fortemente opostas aos modelos aceitos como verdade são recriminadas ou ridicularizadas. Tente discutir em um curso de História a possibilidade de grandes navegações em períodos anteriores a Colombo, mesmo existindo trabalhos publicados em importantes periódicos que relatam a existência de cocaína em múmias datadas do período do Egito antigo. Ou tente em um curso de geologia argumentar que os derrames basálticos que formam a região Sul de nosso país se deram em períodos de semanas, e não de milhares de anos, conforme é aceito pela maioria dos geólogos, mesmo que se tenha dissertações de doutorado mostrando isso. Esses são alguns exemplos que podem ilustrar o quanto as universidades deixam a desejar no quesito discutir idéias.

Você teve aula com o Dr. Marcos Eberlin. O que acha da pesquisa dele e do fato de ele considerar a homoquiralidade a "assinatura química de Deus"?

O professor Dr. Marcos Eberlin é um exemplo e um referencial para todo aquele que goste de química. Seriedade, responsabilidade, dedicação e espírito crítico estão entre muitas de suas características como profissional que o levaram a ser um respeitado pesquisador no mundo todo. Essas mesmas características devem ser também exemplo e referencial para um cristão que enxergue na natureza os "atributos invisíveis de Deus", conforme nos ensina Paulo, escrevendo aos romanos.

O Dr. Eberlin sempre deixava bem claro suas idéias a respeito de Deus, inclusive em entrevistas ao Jornal da Unicamp. Suas idéias eram levadas a sério ou pelo menos respeitadas devido à qualidade de suas pesquisas e seriedade de seu trabalho. Aí está um excelente exemplo ao cristão: defende suas idéias de forma inteligente, coerente (palavras e ações), sábia e prudente.

Muitos evolucionistas que escrevem e realizam palestras em que o principal objetivo não é discutir a validade das teorias evolucionistas, mas atacar criacionistas, argumentam que diante do desconhecido a resposta "porque Deus quis" é suficiente para os criacionistas, nos taxando de ignorantes e pseudopesquisadores, entre muitos outros adjetivos. As pesquisas do Dr. Eberlin têm uma importância peculiar dentro da química, uma vez que o motivo pelo qual os seres vivos são constituídos por grupos de moléculas enantiomericamente puras é desconhecido desde a época de Pasteur e suas pesquisas com ácido tartárico. Dentro da estrutura criacionista, ter um pesquisador como o Dr. Eberlin harmonizando seu conhecimento científico e suas pesquisas de ponta com sua fé em Deus, é mais um nobre exemplo de o quanto a medíocre resposta "porque Deus quis" não faz parte do repertório daquele que sabe que "os atributos invisíveis de Deus, assim como Seu eterno poder, como também a Sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas" (Rm 1:10).

O que você acha da teoria do design inteligente?

Embora se oponha ao evolucionismo, o desing inteligente não é criacionismo disfarçado, como a mídia tenta impregnar na mente das pessoas. Por isso, é importante saber diferenciar as duas correntes de pensamento. Sem dúvida alguma, vejo a teoria do design inteligente com bons olhos, não apenas por se opor ao evolucionismo, mas por ser mais consistente com os fatos observáveis. Os passos metabólicos, o sistema imunológico e todo o alto grau de interdependência das reações químicas necessárias à manutenção da vida, são melhor explicados em termos de complexidades irredutível (modelo proposto pelo desing inteligente) do que pelas teorias evolucionistas encontradas nos livros-textos escolares ou universitários.

Quais os seus planos para o futuro próximo?

Essa é a pergunta mais difícil (risos). Perdi meu irmão em 2005 e meu pai recentemente, em 2008. Então, muita coisa em relação à minha mãe precisa de minha atenção. Uma grande prioridade é o trabalho que tenho a oportunidade de desenvolver com o Dr. Ruy Vieira, na Sociedade Criacionista Brasileira. Espero ser mais útil a cada dia e continuar a atuar na divulgação do criacionismo em nosso país, ao lado de pessoas que admiro e nas quais me espelho (tanto em minha formação intelectual quanto na formação de meu caráter). Também aguardo algum concurso universitário no qual minha formação se enquadre para posteriormente ingressar no doutorado, pois o "homem da casa" agora sou eu e preciso estar atento às questões financeiras. Também pretendo montar um centro de estudos em minha cidade, para atender alunos com dificuldade em Cálculo Diferencial, Estatística, Química, Bioquímica, Biofísica e outras disciplinas com as quais tenho familiaridade e que fazem parte do currículo universitário.

Peço a Deus que me dê sabedoria para que eu possa fazer feliz minha namorada (Jucila Katrinne) a cada dia, para que, quando o Senhor nos mostrar o momento, possamos nos casar.

E para finalizar, algo que tenho orado e considerado muito em meu coração. Como mencionei antes, saí de uma dada denominação religiosa e não me encontro em nenhuma oficialmente como membro, embora freqüente o templo adventista de minha cidade desde aquele episódio da discussão sobre o sábado. Há algum tempo, tenho estudado muito as doutrinas da Igreja Adventista do Sétimo Dia, as profecias bíblicas e muitos outros pontos que considero importantes para uma decisão racional. O legal é que tenho encontrado muita coerência em todo o material que tenho estudado. E um de meus planos para o futuro próximo é ser batizado na Igreja Adventista, assim que concluir esses estudos que tenho feito.