Ela deixou a fama de lado para encontrar a verdadeira felicidade
Ana Caram nasceu em Presidente Prudente, interior de São Paulo, em 1958. Aos 13 anos de idade já gravava jingles e ganhou vários prêmios interpretando canções próprias em festivais. Fez estudos de composição e regência na Unicamp, cantou em casas noturnas e viajou pelo mundo apresentando a música popular brasileira em países como Estados Unidos, Japão, Alemanha e em lugares da Europa e África. Reconhecida por publicações importantes como o jornal New York Times, Ana foi citada por uma revista especializada entre os duzentos maiores cantores de jazz do mundo. Seu primeiro CD contou com a participação dos músicos Tom Jobim e Paquito D’Rivera e ajudou a difundir a bossa nova pelo mundo.
Mesmo no alto da fama e com uma carreira promissora, Ana afirma que nunca havia sentido paz e verdadeira realização, até que um dia encontrou esperança nas páginas da Bíblia Sagrada. Ana superou o preconceito que tinha contra o cristianismo, estudou as Escrituras e, finalmente, descobriu novo sentido para a vida. Ou seria a verdadeira “bossa nova”? A palavra “bossa” era um termo da gíria carioca que, no fim dos anos cinquenta, significava “jeito”, “maneira”, “modo”. Quando alguém fazia algo de modo diferente, original, de maneira fácil e simples, dizia-se que essa pessoa tinha “bossa”. Graças a Jesus, Ana descobriu um novo jeito de viver – o único que traz verdadeira paz.
Batizada em 2005 na Igreja Adventista do Sétimo Dia, desde então vem usando seu talento para honrar o nome de Deus. Nesta entrevista concedida a Michelson Borges, ela conta mais detalhes dessa bonita história de conversão.
Fale um pouco sobre sua infância numa família de músicos.
Fui criada num ambiente extremamente musical. Meu pai, Jamil Caram, grande músico de seresta e chorinho, toca violão, cavaquinho e bandolim. Somos cinco filhos, duas mulheres e três homens. Todos tocam e cantam. Os fins de semana sempre foram marcados por muita música e amigos em casa. Comecei a cantar em festinhas na escola e encontros em família. Compus minha primeira música aos dez anos de idade. Aos treze anos, gravei meu primeiro jingle. Cantei em festivais e sempre ganhei em primeiro e segundo lugar, e recebi também prêmios de melhor intérprete.
Como foi o início de sua carreira musical profissional e que decepções enfrentou nesse meio?
Comecei a cantar na noite em São Paulo e fiz isso por alguns anos. Um dia resolvi mudar para o Rio de Janeiro com o propósito de ser famosa; esse era o meu maior sonho. O Rio sempre foi a capital dos sonhos da fama.
Conhecendo pessoas do meio artístico, pude perceber que era impossível ter sucesso sem ceder meus princípios. O sentimento que eu tinha era de inadequação ao mundo e isso me deixava bem triste, pois queria alcançar o sucesso apenas com o meu talento, o meu trabalho. Sentia no coração um vazio e atribuía isso à falta de reconhecimento do meu trabalho musical. Desencadeou-se um processo de depressão muito forte. Eu chegava a passar dias num quarto fechado, sem comer, tomar banho; não queria ver ninguém.
Então fui buscar ajuda primeiramente em terapias e, depois, em seitas, religiões, centros espíritas de varias linhas, e nada de saciar minha sede e preencher meu vazio.
Um dia fui convidada por um grande músico saxofonista norte-americano, o Paquito D’Rivera, para ir à Finlândia com ele e realizar shows em festivais de jazz. Aceitei o convite e foi um sucesso total. Então pensei: “Agora minha vida vai dar certo e adeus tristezas.” Depois fui para Nova York com o Paquito. Ele me convidou para cantar com a banda dele no Carnegie Hall, no maior festival de jazz do mundo.
Nessa noite, depois da apresentação, você chorou no camarim. Por quê?
Eu achava que tudo iria mudar e que eu finalmente seria feliz. Mas, quando cheguei ao camarim, senti uma solidão enorme, embora houvesse um monte de pessoas querendo conversar comigo. Foi um sentimento dúbio. Depois daquele show, assinei contrato com uma gravadora e fiquei morando nos Estados Unidos. Gravei nove CDs pela Chesky Records. O primeiro teve participação de Tom Jobim e do próprio Paquito. Então comecei a viajar muito. Fui citada nos maiores jornais e revistas do mundo do jazz. Mas minha vida continuava na mesma solidão e o vazio profundo persistia no coração. Em meio a essas viagens, eu continuava buscando com afinco alguma coisa que explicasse esse sentimento. Em cada hotel em que ficava, depois dos shows e entrevistas, eu chorava de solidão e desespero.
Você também buscou orientação na astrologia e nos conselhos de uma “guru”. Isso ajudou?
Ajudava momentaneamente, porém pouco. O astrólogo sempre falava quase a mesma coisa. Às vezes, me atrapalhava e muito, pois ficava esperando que o que ele dizia iria dar certo.
Você também experimentou o culto do Daime. Como foi isso?
O culto do Daime foi uma das piores coisas que fiz. Tomei um líquido horrível pensando que iria sair dali com a paz que eu sempre busquei. Acredito que as pessoas que estavam ali comigo também buscavam o mesmo que eu. Saí dali razoavelmente bem, mas dois dias depois a queda foi pior.
Esse tipo de sentimento é comum no meio artístico?
As pessoas no meio artístico estão sempre procurando engrandecer o ego. O artista geralmente é egocêntrico. Ele busca a fama custe o que custar e quando a alcança vê que ela não preenche o vazio que ele sente. Então continua suas buscas em relações, bebidas, aventuras. E isso não tem fim.
O que você pensava a respeito de Deus, de religião e dos religiosos, nessa época?
Acreditava que Deus era uma “força maior”, uma energia. Achava que Deus era bom, mas que, às vezes, castigava. Sempre tive preconceito com relação aos crentes, aos que andavam com a Bíblia embaixo do braço. Pensava que eram pessoas ignorantes, fanáticas e que achavam que tudo que era bom era proibido. Na verdade, eu mal sabia que muitas coisas consideradas boas para o “mundo” são más e nos levam cada vez mais para longe dEle.
Por que resolveu voltar ao Brasil?
A família e os amigos para mim são preciosos e eu sentia muita falta de todos.
Como foi seu primeiro contato com a mensagem bíblica?
Certo dia, um amigo do meu esposo, o Kiko Cardoso, esteve em nossa casa pela primeira vez e senti algo diferente nele. Depois soube que ele era crente. Ele nos convidou para irmos ao estudo bíblico na casa da irmã dele, a Aline. Achei o convite meio esquisito, pois não tinha vontade de ler a Bíblia, por puro preconceito. Mas a Aline foi à nossa casa e no primeiro contato gostamos muito dela. Então aceitamos o convite e fomos ao estudo. Meu esposo, o Marcelo, havia perdido o pai fazia pouco tempo. Ele estava muito triste e o estudo da Bíblia o confortou. Deu-lhe esperança.
Nessa época, vocês já tinham um filho. A paternidade influenciou de alguma forma essa busca de Deus?
Sim, influenciou também, pois meu esposo e eu não queríamos criar nosso filho num mundo tão cheio de maldade, sem uma religião.
Depois de começar a estudar a Bíblia, o que mudou em sua vida? Por que a Bíblia, diferentemente de outras “filosofias de vida” que você tentou seguir, fez sentido para você?
Quando comecei a estudar a Bíblia, conheci a pessoa de Jesus e me encantei com os ensinamentos dEle: o amor verdadeiro e o perdão. Entendi que existe vida eterna e, por conseguinte, a perfeição. Aprendi que Jesus me ama tanto a ponto de dar a vida por mim. Essa é a verdade que encontrei e que me trouxe paz, a paz que tanto busquei por quase trinta anos. Era bom demais saber que o Criador do Universo Se preocupa comigo e me oferece a vida eterna em plena perfeição ao lado dEle! Eu só poderia dizer humildemente: “Obrigada, Senhor!”
Depois de tudo o que vivi, eu sei e posso dizer que encontrei finalmente a Verdade, porque toda essa vivência que eu tive antes não me trouxe a paz que sinto hoje. Agora posso dizer: “Sou livre em Jesus Cristo! A verdade me trouxe paz e liberdade. Me sinto feliz em ser diferente do mundo e em estar no caminho oposto ao do mundo, e quero contar a todos que Jesus Cristo me salvou!”
Como seus amigos, colegas de profissão e familiares encararam sua mudança?
No começo, minha família ficava fazendo chacota por causa das mudanças de hábito, principalmente no que diz respeito à alimentação. Quanto aos amigos, a maioria foi se afastando aos poucos. Pouquíssimos estão ainda por perto e manifestam algum interesse. Mantive um grupo de estudos bíblicos em minha casa, em São Paulo, durante quatro anos, e muitos amigos passaram por lá. Foi uma bênção.
Você foi batizada em 2005. A partir de então, você começou a usar seu talento e conhecimentos para louvar a Deus. Mas o que mudou em sua música?
Mudou a maneira de cantar, pois hoje eu canto o que vivo. Cantar e falar do amor de Deus é o mais sublime sentimento.
Em sua opinião, qual a música ideal para adorar a Deus?
Penso que a música ideal para adorar a Deus seja aquela calma, mas ao mesmo tempo alegre, pois é uma forma de oração e deve refletir nossa gratidão a Deus por tudo o que Ele é e tem feito por nós. Quando louvamos, nosso coração deve sentir paz; isso quer dizer que o Espírito de Deus está presente.
Suas canções são caracterizadas pela tranquilidade e simplicidade. Como encara o atual predomínio de instrumentos percussivos e de certos “malabarismos” vocais que mais parecem chamar atenção para o cantor do que para Deus?
Cada cantor tem sua maneira de louvar a Deus. Resta saber se, depois de uma mensagem musical, todos os que estavam ouvindo sentiram a presença do Espírito Santo de Deus e se o próprio cantor saiu repleto de paz.
Você deixou de lado dinheiro, fama e prestígio. O que lhe traz felicidade atualmente?
Hoje o que mais me deixa feliz é poder, do púlpito, compartilhar o amor do nosso maravilhoso e misericordioso Deus; esse Deus que mudou minha vida.
Qual sua motivação para cantar e testemunhar?
É saber que, por meio do canto e do testemunho, Deus pode me usar para ajudar uma pessoa a tomar a decisão ao lado dEle.
Deixe uma mensagem para o leitor.
Querido irmão de fé, já ouço os passos de Jesus voltando para nos buscar. Por favor, reavivemos nossa vida, nosso coração com muita comunhão. Somente assim poderemos pregar o evangelho por meio de nossas atitudes, afeto e vida, para que as pessoas sintam que, na essência, somos diferentes, porém, felizes. Deus nos abençoe. Amém!