Dr. Luiz Fernando Sella |
Importância da mensagem de saúde defendida pela Igreja Adventista do Sétimo Dia
Médico de Homens e de
Almas é o título do famoso livro escrito por Taylor
Caldwell, mas bem poderia servir para identificar o Dr. Luiz Fernando Sella, um
médico ex-ateu, hoje totalmente envolvido no ministério médico-missionário
adventista. Luiz nasceu em Concórdia, SC, em 1983. Formado em medicina pela
Universidade Federal de Santa Catarina, foi médico visitante da University of
Miami School of Medicine, em 2006 e 2007, e certificado pela Educational
Commission for Foreign Medical Graduates, em 2007. Estudou também no Wildwood
Lifestyle Center & Hospital, também nos EUA. Atuou como médico no Programa
Saúde da Família, em Santa Catarina, com enfoque em medicina preventiva e
estilo de vida, e tem experiência em organização de cursos de Medicina
Preventiva e Feiras de Saúde no Brasil, Estados Unidos, Japão e África. Casado
com a médica Daniela Tiemi Kanno, atualmente é diretor clínico do Centro Adventista
de Vida Saudável (Cevisa), em Engenheiro Coelho, SP. Nesta entrevista, concedida
ao jornalista Michelson Borges, o Dr. Luiz fala de sua conversão, da
importância da mensagem de saúde defendida pela Igreja Adventista do Sétimo Dia
e do seu livro Universo Paralelo, recém-lançado pela Casa Publicadora Brasileira e escrito
em parceria com a Dra. Daniela.
Antes de conhecer Jesus
e a mensagem adventista, você era ateu. Por que assumia essa postura? Por que
fé e religião lhe pareciam irracionais?
Nasci
em um lar cristão e frequentei o catecismo por cinco anos. Meus pais fizeram o
possível para me dar uma educação religiosa. Mas, apesar do contato com Jesus
desde a infância, não me lembro de ter mantido um relacionamento pessoal com
Ele. Minha religião era superficial e formal. Quando terminou o período de
catecismo, despedi-me de Deus, perdi o interesse de ir à igreja e sequer tinha
vontade de conversar com Ele.
Mas
foi durante a faculdade que duvidei de Deus completamente. O ateísmo, o
evolucionismo e a filosofia secular dominavam as discussões na universidade.
Meus professores sempre foram bem enfáticos sobre o “fato” de o corpo humano
ser resultado da evolução das espécies. Tudo fazia muito sentido. Para tudo
havia uma explicação científica. Não sobrava espaço para Deus em nada. Para
mim, Deus era o “ópio do povo”.
Como foi seu processo
de conversão? O que mais lhe chamou a atenção na mensagem adventista?
Minha
conversão foi motivada pelo estudo da Bíblia. Eu havia acabado de voltar de
Miami, nos Estados Unidos, onde passei cinco meses fazendo estágios. Meu plano
era fazer residência médica fora do país. Naquela época, longe de Deus, meu
interesse maior era ganhar dinheiro e aproveitar a vida.
Quando
cheguei ao Brasil, fui trabalhar como médico de família em um posto de saúde em
Florianópolis, SC. A comunidade era muito pobre e cheia de problemas sociais e
de saúde. Foi um grande choque cultural para mim.
Lá,
conheci a Daniela. Ela também era médica, descendente de japoneses e natural de
São Paulo, mas havia se mudado para Florianópolis e se tornado adventista.
Certo dia, ao entrar no consultório dela para discutir um caso clínico,
deparei-me com ela lendo a Bíblia e estudando a Lição da Escola Sabatina. Ela
me ofereceu estudos bíblicos e, por um milagre, aceitei!
Comunidade carente em Florianópolis; Dra. Daniela |
O
que mais me chamou a atenção na mensagem adventista foi a coerência perfeita
das doutrinas. Não havia contradições nem perguntas sem respostas. A descoberta
de que Cristo vai voltar e a verdade sobre o sábado me impressionaram muito. O
estudo das profecias de Daniel e Apocalipse, a doutrina do Santuário e a
descoberta do criacionismo também foram decisivos para eu tomar minha decisão
pelo batismo.
Você abriu mão de uma
residência médica nos Estados Unidos. Por que fez isso?
As
maiores motivações que me levavam aos Estados Unidos eram o interesse por uma
medicina científica e moderna, morar fora do país, ser um médico respeitado e
ganhar milhões de dólares. Desde a primeira vez que visitei o país, eu quis
experimentar o “sonho americano”. Mas, quando conheci Jesus, Seu caráter
perfeito mostrou minhas falhas e defeitos. Sua atitude de serviço
desinteressado denunciou meu egoísmo, e Seu desapego material mostrou que meu
deus era o dinheiro. Além disso, compreendi que a vontade de Deus para mim,
como profissional de saúde adventista, era que eu tratasse meus pacientes de
maneira diferente, sem o uso de drogas, mas por meio dos simples agentes da
natureza. Estudando o livro A Ciência do
Bom Viver, entendi o método divino de cura para este tempo. Depois de
alcançar essa compreensão, eu não mais quis aprender a receitar
quimioterápicos; eu queria prevenir o câncer.
Escola de Medicina da Universidade de Miami |
A
questão da residência médica não era Miami ou Brasil, riqueza ou pobreza, fama
ou anonimato. O que estava em jogo era a vontade de Deus versus a minha vontade. Graças a Deus, decidi fazer a vontade dEle!
Conte como foram suas
experiências missionárias no Japão e em Cabo Verde.
As
duas viagens missionárias foram incríveis, porém muito diferentes. Em Cabo
Verde, as pessoas sofriam de muitas doenças e não podiam contar com o precário
sistema de saúde do governo. Passamos 25 dias ajudando e evangelizando a
população por meio da obra médico-missionária. Fizemos feiras de saúde,
palestras, cursos de culinária e semanas de oração. Algumas pessoas foram
batizadas e mais de 500 tomaram a decisão de estudar a Bíblia. Foi também uma
viagem de aprendizado. Desde que chegamos, percebemos como aquele povo tão
sofrido era feliz. Nos fins de semana, eles se reuniam em igrejas tão pequenas
que muitos ficavam do lado de fora e ouviam o sermão pela janela. Mesmo assim,
cantavam e louvavam a Deus com o coração. Apesar de materialmente pobres, eram
espiritualmente ricos. O coração deles transbordava de gratidão a Deus pelo
pouco que tinham.
Japão |
No
Japão, a realidade é oposta. Descobrimos que a maioria é materialmente rica,
mas espiritualmente vazia. Eles têm tudo do bom e do melhor, mas não têm muito
interesse em Deus. Aliás, o desafio da Igreja lá é imenso: são 15 mil
adventistas no país inteiro para evangelizar 125 milhões de pessoas. Nessa
viagem, nosso propósito foi treinar os membros da igreja para empregar a
mensagem de saúde nos esforços evangelísticos. E deu certo: fizemos trabalho de
porta em porta, usando a saúde como “gancho”, e fomos muito bem recebidos pelos
japoneses.
Fale sobre o convite
que você e sua esposa receberam para trabalhar na Clínica Adventista Vida
Natural, em São Roque.
Logo
após nosso casamento, ficamos seis meses nos Estados Unidos, acompanhando
médicos de um centro de vida saudável, para aprender mais sobre estilo de vida
e tratamentos naturais. Nosso plano, ao voltar para o Brasil, era abrir uma
clínica nossa. Havia até um empresário no Sul interessado em nos ajudar
financeiramente.
Porém,
menos de uma semana depois de nosso retorno ao país, por providência divina,
conhecemos o pastor Sidionil Biazzi e a esposa, Eliza. Eles foram os pioneiros,
com o Dr. Manfred Krusche, da Clínica Adventista Vida Natural. Na época, a
clínica havia passado por uma extensa reforma e eles estavam orando por médicos
jovens para dar continuidade ao trabalho. A clínica é linda e já estava pronta.
Foi assim que começamos e trabalhamos lá até dezembro de 2013, quando recebemos o convite para
trabalhar no Cevisa.
E como tem sido o trabalho de vocês no Cevisa?
O trabalho no Cevisa tem sido excelente.
Fizemos uma restruturação completa do programa de tratamentos e trouxemos
muitas novidades. Hoje oferecemos programas de desintoxicação, reeducação de
estilo de vida, programas para alcançar o equilíbrio emocional, tratamentos de
reabilitação para quem tem dores crônicas, e o tradicional programa de
relaxamento para quem deseja descansar do estresse do dia a dia. Os pacientes
têm saído muito satisfeitos com os resultados. Mais informações sobre os nossos
programas podem ser vistas no site www.cevisa.org.br
Em linhas gerais, quais
são os diferenciais da medicina praticada nas instituições adventistas?
Em
primeiro lugar, nas instituições de saúde adventistas, os pacientes são vistos
como um todo: corpo, mente e espírito. Não tratamos somente a doença, mas a
pessoa que tem aquela doença. Amor, cortesia e espírito de serviço também são
um diferencial.
Mais
especificamente sobre o trabalho da clínica, acreditamos que as doenças não vêm
sem uma causa. As principais que afetam a humanidade atualmente, como pressão
alta, diabetes, doenças cardíacas e câncer, estão diretamente relacionadas ao
estilo de vida. Os maus hábitos prejudicam gradativamente o corpo até causar uma
doença.
Por
isso, nosso foco está em ajudar as pessoas a mudar o estilo de vida e a remover
as causas das doenças. Todo o tratamento é direcionado para a reversão e a
cura, e não somente ao controle de sintomas. Fazendo assim, ajudamos o corpo em
seu esforço para alcançar o equilíbrio e restabelecer a saúde.
Com
essa abordagem, temos visto diabéticos reverterem a doença; depressivos
retomarem o ânimo; obesos escapar da cirurgia de redução do estômago; e muitas
outras curas e milagres.
Como você considera a
mensagem de saúde adventista no contexto das três mensagens angélicas?
Creio
que os cristãos adventistas, como Daniel e seus amigos em Babilônia, são
chamados a permanecer em pé e não se render à cultura dos prazeres. Segundo
Apocalipse 14 e as profecias de Daniel, vivemos no tempo do juízo desde 1844. E
a questão em jogo é: A quem nós adoramos? Assim como Daniel e seus amigos foram
submetidos a um teste de adoração, diante da Babilônia histórica, nós também
seremos provados no tempo do fim. Creio que Daniel e seus amigos só tiveram
firmeza moral para ficar firmes diante de um decreto de morte por terem sido
obedientes a Deus nas pequenas coisas, decidindo, desde o início, não se
contaminar com os manjares de Babilônia. Cuidar da saúde também é um ato de
adoração, uma forma de glorificar a Deus no nosso corpo. As leis de saúde também
são leis de Deus e devem ser obedecidas igualmente.
Sabendo
que Satanás planeja fazer o máximo de mal possível ao ser humano, transformando
alimentos em veneno, como diz o livro Temperança,
na página 12, a mensagem de saúde é nossa proteção. A manutenção da integridade
física e mental é essencial para o crescimento espiritual, para que ouçamos a
voz de Deus, tenhamos discernimento e sabedoria na tomada de decisões.
Para
nós, adventistas, a mensagem de saúde também tem que ver com evangelismo. Num momento
em que o mundo todo está doente e precisando de respostas, a mensagem de saúde
quebra preconceitos, abre portas e prepara a mente das pessoas para receber a
mensagem do terceiro anjo. Deus prometeu que, quando a obra médico-missionária
estiver conectada ao ministério evangelístico, colheremos mais frutos para o
Senhor.
Qual é o papel das
nossas clínicas na missão da Igreja?
As
clínicas devem ser como um ponto de luz, um baluarte da verdade presente.
Nelas, pessoas de todas as classes e denominações devem ser tratadas de maneira
diferente da do mundo. Quando bem estabelecidas, nossas instituições de saúde
cumprem a missão de curar e evangelizar, aliviando o sofrimento do mundo e
levando as pessoas a Cristo, o Médico dos médicos.
Ellen
G. White diz que, quando o grande conflito chegar a seu clímax e as pessoas
forem confrontadas com o dilema do sábado versus
domingo, e os adventistas do sétimo dia estiverem sendo acusados de ser os
responsáveis pelas tragédias do mundo, as pessoas que passaram por nossas
instituições serão lembradas pelo Espírito Santo do tratamento e do amor que
receberam, e muitas tomarão decisões ao lado da verdade.
Acredito
também que a Igreja só vai cumprir a grande comissão de evangelizar a todos
quando o braço direito da terceira mensagem angélica (a reforma de saúde) se
unir novamente com o corpo. A seara é muito grande e os trabalhadores são
poucos. Por isso, cremos que todo membro da igreja, mas, principalmente, os
profissionais de saúde, devem lançar mão da obra médico-missionária. Segundo os
escritos de Ellen G. White, nossas clínicas também devem preparar esses
missionários para atender às necessidades evangelísticas em outros lugares.
Fale um pouco sobre o livro que você escreveu com sua esposa. Como
surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o conteúdo dele?
Deus operou um verdadeiro milagre na nossa
vida. Realmente fomos chamados para uma missão especial. Depois de alguns anos
compartilhando o nosso testemunho em igrejas e palestras, recebemos muitos
pedidos das pessoas para que escrevêssemos a nossa história. Oramos bastante e
sentimos ser essa a vontade de Deus. O livro narra nossa história de vida e
conversão. Mostra um pouco da nossa vida antes e depois de conhecer a Cristo.
Também relata com detalhes nossas viagens missionárias e alguns testemunhos de
pacientes que tiveram a vida transformada pela mensagem de saúde adventista.
Também tem uma pitada de romance, contando alguns detalhes do nosso namoro e
casamento. O objetivo final do livro é despertar no leitor o desejo de ter uma
experiência real com Deus e se preparar para a volta de Jesus.
Deixe uma mensagem para os leitores.
Estamos nos momentos finais da história deste
mundo. Deus precisa de nós. Ele anseia derramar o Espírito Santo e nos usar na
Sua obra. Precisamos nos entregar sem reservas e confiar que Ele sabe o que é melhor
para a nossa vida.