À medida que a Biologia Molecular e a Bioquímica se desenvolvem, mais dúvidas surgem sobre a teoria da evolução
Dra. Márcia Oliveira de Paula é bióloga, formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde também concluiu seu mestrado em Ciências, com ênfase em Microbiologia. De 1989 a 1991, lecionou em várias universidades e faculdades particulares.
Em 1991, iniciou seu doutorado na USP (também na área de microbiologia) e começou a dar aulas no Instituto Adventista de Ensino, campus São Paulo.
Atualmente, além de professora e chefe do Departamento de Biologia Geral da Faculdade de Ciências do Unasp, também é membro do Núcleo de Estudos das Origens (NEO). O grupo desenvolve trabalho de divulgação de estudos criacionistas para a igreja, universidades, escolas, etc.
Dra. Márcia nasceu no dia 22 de maio de 1960, em Capão Redondo, São Paulo. Porém, morou a maior parte de sua vida em Minas Gerais, principalmente em Juiz de Fora e Belo Horizonte. Só voltou para São Paulo em 1991, para fazer o doutorado.
No intervalo de uma de suas aulas, concedeu esta entrevista a Michelson Borges:
O caderno “Mais!”, do jornal Folha de S. Paulo (31/12/98), apresentou artigos sobre o evolucionismo, dizendo que essa teoria é um dos principais debates deste fim de século. Por que, depois de quase 140 anos da formulação da teoria de Darwin, os evolucionistas ainda não chegaram a um consenso?
Nenhuma das teorias atuais explica todos os pontos da evolução. Embora muitos experimentos tenham sido feitos e muita coisa tenha sido discutida, não se tem uma teoria para explicar a origem da vida, de maneira clara.
Temos que lembrar, também, que a Ciência não é algo estático. Ela está sempre mudando. À medida que se conhece mais, novas opiniões surgem. Além disso, grande parte dos cientistas considera a evolução um fato. Eles acreditam que são as teorias que mudam para explicar a evolução. E nós, criacionistas, contestamos isso porque evidências não são provas. E a evolução só dispõe de evidências.
A idéia de um Criador não pode ser provada por experiências de laboratório. Mesmo assim, podemos considerar o criacionismo “científico”?
Particularmente, não gosto da expressão “criacionismo científico” porque, na verdade, o criacionismo científico que existia há alguns anos, talvez com poucas exceções, tentava apenas contradizer o evolucionismo. Não era “criacionismo” mas uma “teoria antievolucionista”.
A ciência atual não aceita a presença do sobrenatural e tenta explicar tudo pelos mecanismos naturais. Os cientistas procuram explicar o comportamento do universo físico, em termos de causas puramente físicas e materiais, sem invocar o sobrenatural. Mas por que não podemos invocar o sobrenatural? Alguns cientistas têm medo de que, se o sobrenatural for invocado, pare de se fazer ciência, atribuindo-se ao sobrenatural tudo o que a ciência não puder explicar. Só que invocar o sobrenatural para explicar, por exemplo, a origem da vida – que é algo que ninguém consegue explicar – não parece ser uma coisa tão ilógica.
O criacionismo também tem evidências daquilo que defende?
Temos muitas evidências do planejamento do Universo e da vida. Mas isso não prova a existência de Deus. Até que ponto se pode provar que Deus existe? Eu acredito que Deus não quer ser provado. As pessoas devem acreditar nEle pela fé. Se fosse possível provar que Deus existe, todo mundo teria que acreditar nEle. E então, onde entraria a fé? Os evolucionistas têm evidências que apóiam sua teoria, mas nós também as temos.
Em última instância, dá para se considerar que, no campo das evidências, nenhuma teoria leva vantagem sobre a outra?
Sim. Alguns criacionistas mal-informados acham que a evolução é uma bobagem, porque não existe nenhuma base para se acreditar nela. Mas isso acontece porque essas pessoas realmente não conhecem a ciência. É lógico que a teoria da evolução faz algum sentido, porque, se ela fosse totalmente absurda, não haveria milhares de cientistas e uma boa parte da população que a aceitaria. O evolucionismo tem alguma lógica, mas também tem muitas incoerências.
Quais são as maiores incoerências do evolucionismo?
Não dá para explicar a origem dos sistemas vivos pela evolução. Isso não era um problema para os evolucionistas do século 19, como Darwin, que acreditavam que as células vivas eram organismos muito simples. Mas, hoje em dia, cada vez mais os estudos de biologia molecular e bioquímica estão mostrando que a célula e os sistemas celulares são altamente complexos e não podem ser explicados através de etapas sucessivas. É o problema da “complexidade irredutível”. Muitos sistemas biológicos são considerados irredutivelmente complexos, ou seja, eles dependem de várias partes que têm que interagir. E essas partes não poderiam ter surgido ao acaso simplesmente porque, se tirarmos uma delas, o todo não funciona mais.
Tomemos o exemplo da coagulação do sangue. A hemofilia B é uma doença que impede a coagulação, devido à falta de uma substância chamada Fator 8 da Coagulação. Portanto, se faltar somente essa substância na circulação sangüínea, e a pessoa não se tratar, ela irá morrer. Então, como o processo de coagulação poderia ter se desenvolvido a partir do nada, se quando falta uma única proteína, ele não funciona? Outro exemplo de complexidade irredutível é o sistema imunológico. É algo tão intrincado que não se pode explicar seu surgimento aos poucos.
Esses sistemas biológicos irredutivelmente complexos realmente indicam planejamento. Só que a ciência, ao invés de estar comemorando a existência do Planejador, se calou. Por quê? Porque admitir Deus exige postura e compromisso diante dEle. E as pessoas querem fugir de um compromisso com o Criador. Se, pelo contrário, surgimos pela evolução, somos livres para fazer o que quisermos, sem dar satisfação para ninguém.
O que a coluna geológica diz ao criacionista?
Há pelo menos dois problemas relacionados com esse assunto. No princípio do período cambriano você tem praticamente todos os filos representados: moluscos, ecnodermas, protozoários, algas, anelídeos, artrópodes (trilobitas)... Se todos os organismos aparecem no começo do cambriano, de onde eles evoluíram? Onde estão os ancestrais deles? Alguns dizem: “Ah, no pré-cambriano.” Mas olhando para o pré-cambriano, não encontramos absolutamente nada, a não ser bactérias e algas azuis. E todo mundo sabe que, para uma bactéria dar origem a um trilobita, seria um salto absurdo, porque eles são seres altamente complexos. De onde eles evoluíram, então? Alguns poderiam dizer: “Evoluíram de animais mais simples que se fossilizaram.” Mas nenhum deles se fossilizou! Esse é o “grande salto” que a evolução não explica.
A falta de elos intermediários no registro paleontológico é realmente um grande problema para a evolução. Se o darwinismo é verdadeiro – e os evolucionistas acreditam que as mudanças são lentas, ou seja, as espécies se modificam lentamente –, onde estão os fósseis intermediários entre os grupos de organismos? Deveria haver, na coluna geológica, milhares de fósseis de organismos em transição.
A biologia molecular e a bioquímica têm sido uma “pedra no sapato” dos evolucionistas. Por quê?
A biologia molecular e a bioquímica estão mostrando cada vez mais a complexidade da célula. Antigamente, os cientistas consideravam os protozoários sem importância, achando que eles poderiam ter surgido do nada. Tanto que eles acreditavam na teoria da geração espontânea e achavam que uma célula era como um simples pedaço de gelatina. Quando passamos a estudar as células em microscópios eletrônicos, vimos que a única célula de um protozoário é altamente complexa. Não dá para explicar a origem desses sistemas como vindo do nada. A teoria da evolução não consegue explicar nem a origem de proteínas. Até hoje, o máximo que se conseguiu produzir em laboratório foram alguns aminoácidos e proteinóides, que não são proteínas. E mesmo que se conseguisse formar uma proteína inteira ou um DNA inteiro, isso ainda não seria vida. Precisaríamos colocar todas essas moléculas em uma célula viva, com uma membrana, que se reproduzisse...
Uma célula mínima, a bactéria mais simples que se pode imaginar, precisa de pelo menos 600 proteínas diferentes para funcionar. O problema é que as proteínas nas células vivas são produzidas pelo DNA. E o DNA, para se duplicar, precisa de muitas proteínas e de enzimas. Aí vem aquela história do ovo e da galinha: “Quem surgiu primeiro: o DNA ou a proteína?” Os evolucionistas arranjaram a história de um RNA autocatalítico, ou seja, um RNA que pode se autoproduzir. Só que, na verdade, mesmo que isso tenha existido no passado, hoje em dia os sistemas biológicos não funcionam com esse RNA, e sim com DNAs. As proteínas são produzidas numa organela da célula chamada ribossomo, que, por sua vez, é formado por dezenas de proteínas diferentes e mais alguns tipos de RNA (que também são produzidos a partir do DNA). Então, para fabricarmos a “máquina” de produzir proteínas, teremos que ter muitas proteínas. Mesmo que elas tivessem surgido por acaso, no começo, como poderiam ter sido produzidas depois?
No livro Viagem ao Sobrenatural, publicado pela CPB, o autor Roger Morneau diz (nas págs. 54 e 55) que a teoria da evolução é uma arma eficaz nas mãos do inimigo de Deus. Por quê?
Porque desvia o pensamento de Deus como Criador. Para os que crêem em Deus e aceitam a evolução, o Senhor não criou o homem de maneira pessoal e não criou a Terra para ser habitada. Para eles, Deus teria dado início à vida através da evolução. Só que isso elimina a credibilidade das Escrituras porque, se passarmos a considerar o livro de Gênesis como uma alegoria, também poderemos considerar os demais livros da Bíblia como não-verdadeiros.
Para os evolucionistas, estamos num processo de aprimoramento e iremos evoluir, quem sabe, até atingir a perfeição. Esta é uma idéia totalmente oposta à Bíblia. A Bíblia mostra que o homem era perfeito mas caiu. E depois da queda, foi se degradando cada vez mais. E o único caminho para voltarmos ao plano de Deus é a salvação por meio de Cristo. Geralmente os evolucionistas não conseguem enxergar o plano da salvação como nós enxergamos.
Então é impossível conciliar a teoria da evolução com a teoria da criação...
Algumas pessoas até tentam, mas não dá. Se você se torna um evolucionista teísta, tem que deixar de crer em grande parte da Bíblia. Você não crê no Gênesis, por conseguinte você não vai acreditar no plano da salvação. E também vai questionar a existência de Satanás, porque vai achar que o mal está dentro do ser humano. E para que a volta de Cristo, se o homem tem a capacidade de melhorar? Será que as profecias estão se cumprindo mesmo? Não seriam linguagem figurada, poesia, etc.? Realmente, acho muito difícil conciliar as duas coisas.
Os evolucionistas teístas acham que conseguem fazer essa conciliação. O problema é que muitos deles não conhecem, não aceitam e não lêem a Bíblia. Na verdade, alguns até aceitam algumas partes que lhes convêm, mas não aceitam a Palavra de Deus como um todo, porque não dá para fazer isso e continuar sendo evolucionista.
Você acha, então, que a experiência da conversão é fundamental para que se aceite a Bíblia e o criacionismo?
Sem dúvida. Duvido que, algum dia, alguém consiga convencer um evolucionista a se tornar criacionista sem acreditar em Deus. Eu acredito que um evolucionista se torna criacionista quando passa pela experiência da conversão, quando encontra e aceita a Deus. Aí, sim, ele vai tentar explicar a origem das coisas de outra maneira, porque saberá que Deus é o Criador.
É lógico que, se fizermos uma palestra apresentando as incoerências da teoria da evolução, poderemos até despertar na pessoa algumas interrogações que abrirão caminho para a busca de Deus.