quarta-feira, junho 17, 2009

Jornalista criacionista

O jornalista Michelson Borges concedeu esta entrevista à aluna de jornalismo Ana Manoela Reis Rios, do Centro Universitário Adventista (Unasp), campus Engenheiro Coelho:

Na sua infância você tinha algum sonho, que hoje realizou?

Sempre sonhei em trabalhar como desenhista ou escritor. De certa forma, pude ver realizados ambos os desejos. Um sonho que não realizei foi o de ser cientista. No entanto, como divulgador de assuntos científicos por conta do ministério criacionista, também me sinto realizado.

Você já escreveu vários livros para crianças. De onde partiu esse desejo?

Quando descobri o criacionismo, já era jovem e cursava o ensino médio. Fiquei muito chateado e me senti lesado ao perceber que minha educação havia sido unilateral. De repente, me dei conta de que havia passado por um verdadeiro processo de lavagem cerebral, um tipo de doutrinação darwinista (embora tenha certeza de que muitos de meus bons professores nem soubessem disso). No curso de Química, ouvi a respeito da síntese de aminoácidos e do “surgimento” da vida. Quando comecei a estudar mais a fundo o criacionismo, notei que havia inconsistência no modelo evolucionista. Mas ninguém mais percebia isso, pois o edifício conceitual já lhes havia sido construído na mente. Ninguém mais questionava o “fato” da evolução e da geração espontânea. Por isso resolvi escrever. O livro infantil que mais me agradou produzir com essa temática foi o “Se Deus Fez, Se Deus Não Fez”, que procura mostrar os dois lados da moeda. O que a criança vai ser quando crescer é uma questão de escolha dela, mas, pelo menos, que ela tenha contato com essas duas visões de mundo para que um dia tome sua decisão.

Desde quando você é adventista? Em algum momento você já sentiu vontade de sair da igreja?

Fui batizado em dezembro de 1991, mas comecei a estudar a Bíblia com um jovem adventista cerca de dois anos antes. Eu era católico praticante. Fazia palestras para freiras, tomava parte em eventos diocesanos e liderava grupos de jovens. Cheguei a fazer estágio em um seminário para amadurecer a ideia de ser padre (esse era o sonho da minha mãe que agora sonha em me ver pastor...). Minha mudança não foi fácil. Relutei muito, estudei outras religiões nesses dois anos e enfrentei muitas barreiras. Mas, quando me tornei adventista, sabia exatamente o que estava fazendo. Por isso, nunca me passou pela cabeça a ideia de deixar a igreja, porque nunca pensei em abandonar o Senhor desta igreja.

Li vários artigos publicados por você, sobre família, inclusive num blog seu com sua esposa. Como a família cristã pode vencer as dificuldades colocadas pela mídia no século 21?

Tendo o mínimo de contato com essa mídia. Pode parecer um contrassenso ouvir isso de um jornalista. Pode até mesmo parecer meio alienante. Mas como a pergunta se refere à família, creio que essa seja a melhor postura. Para você ter uma ideia, minhas filhas (uma tem sete anos e a outra tem três) praticamente desconhecem a programação dos canais abertos e não temos TV paga. Selecionamos muito bem os DVDs que elas assistem, monitoramos o acesso à internet e temos certeza de que elas não perdem nada com isso; muito pelo contrário. Ambas desenham muito bem e a mais velha tem até um blog (www.giovannaborges.com). Foi ela que me pediu para ser blogueira, aos seis anos, e foi ela quem estabeleceu o alvo de escrever um texto por semana. Quem me dera ter perdido menos tempo com desenhos animados e histórias em quadrinhos para me dedicar a ler bons livros e a escrever, como faz minha filha. Além de tudo isso, o tempo que não perdemos com a TV, por exemplo, podemos dedicar a brincadeiras em família e ao culto familiar, todas as noites. Fico muito feliz ao vê-las cantar com entusiasmo e ouvir as histórias bíblicas com atenção. Esse interesse não é fruto do acaso. Um dia elas terão tempo e necessidade de estar mais informadas por meio da mídia. Quando isso acontecer, o caráter delas estará devidamente bem formado e elas terão condições de fazer escolhas sábias, escolhendo as pedras preciosas em meio a tanto lixo.

Onde você estudou para se formar jornalista? Era uma faculdade secular? Como você enfrentava as barreiras com os colegas e professores?

Formei-me pela Universidade Federal de Santa Catarina. O secularismo era tão forte que, como jovem recém-convertido, até pensei em trancar a matrícula para cursar teologia. Mas fui incentivado a continuar no curso, dando o meu testemunho. Entendi que deveria ser amigo de todos, se quisesse que eles apreciassem meu estilo de vida. Então passei a orar para que Deus me ajudasse a ver a linha de demarcação entre amizades e princípios – até onde eu poderia ir sem transgredi-los. E a experiência foi muito boa. Fiz boas amizades. Dei estudos bíblicos para colegas e até consegui fazer um trabalho de conclusão envolvendo a história da Igreja Adventista no Brasil; uma grande reportagem que acabou publicada pela CPB com o título “A Chegada do Adventismo ao Brasil”.

Todos o conhecem por ser um jornalista criacionista. Qual é sua visão para defender essa teoria, quando muitos são evolucionistas?

Conheço bem o ônus de ter assumido essa posição. Mais do que em anos passados, ser criacionista hoje é ser visto como retrógrado, anticientífico, fundamentalista e outros adjetivos nem um pouco amigáveis. Mas o jornalista, embora jamais consiga ser imparcial, deve ser honesto primeiramente consigo mesmo. Por isso, o que falo e escrevo sobre o assunto é feito com honestidade. É fruto de minha busca pessoal. Sou criacionista e jamais vou esconder isso por conveniência.

Seu mestrado é em Teologia. Você já pensou em exercer a função pastoral numa igreja convencional?

Tenho bem claro que meu “púlpito” é a internet, são os livros e demais impressos. Mas sempre tive muito carinho pelas atividades na igreja, tanto que sou ancião de igreja há vários anos, sempre procuro dar estudos bíblicos para pessoas interessadas em conhecer melhor a Palavra de Deus e gosto muito de pregar e apresentar palestras. Mas, como sou obreiro na causa de Deus, estou aqui para servir e ir aonde Ele me enviar.

Como você vê a participação dos membros da igreja quando o assunto é criacionismo. Eles estão preparados, ou nem se importam com esse assunto?

Creio que o interesse tem crescido, até porque esta época demanda isso dos adventistas. Nunca antes houve tanta discussão em torno das origens. Volta e meia aparece uma revista ou é veiculada uma reportagem na TV tratando da controvérsia entre o criacionismo e o darwinismo. Cedo ou tarde, alguém vai perguntar ao adventista por que ele acredita que o relato dos primeiros capítulos de Gênesis é real e não alegórico; por que ele acredita no dilúvio; e como pode ter certeza de que a macroevolução não é um fato. Afinal, por que guarda o sábado, se a Criação segundo a Bíblia não é factual? O que lamento é que muitos de nossos irmãos ainda desconhecem os rudimentos da ciência e, às vezes, se atrevem a fazer afirmações que apenas denigrem a imagem dos criacionistas. A regra deveria ser: se sabe do assunto, não se acanhe; se não sabe, vá estudar.

Qual é a relevância desse assunto para a salvação pessoal?

Ninguém deixará de ser salvo porque não entende de datação radiométrica, complexidade irredutível, ou porque não sabe que a explosão cambriana e os trilobitas podem ser explorados como bom argumento criacionista. A salvação consiste numa relação íntima com Jesus e na aceitação dos méritos dEle pela fé. Mas as evidências podem ajudar a fortalecer a fé e podem abrir os olhos de pessoas cuja mente é mais inquiridora. Dessa forma, a biologia, a geologia e outras áreas do saber podem acabar levando a pessoa ao Criador de todo o conhecimento.

No livro “Nos Bastidores da Mídia”, você escreve de forma bem expressiva, e fala sobre como desmascarar as ciladas de Satanás. Como que foi para reunir todas essas ideias e colocá-las em ordem?

Na verdade, o livro nasceu de algumas palestras que eu ministrava em igrejas e escolas. Ao fim dessas apresentações, algumas pessoas me perguntavam se eu tinha algo publicado sobre o assunto e me dei conta de que um livro assim era necessário. Eu já tinha praticamente todo o material como fruto de pesquisas de quase dez anos. O trabalho para o livro consistiu em organizar tudo isso.

Em sua opinião, como esses meios manipulam as pessoas?

Principalmente por meio da repetição. Goebbels já dizia que “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. É isso o que a mídia faz. Ela martela nossas convicções até conseguir abrir uma fresta que, com o tempo, se transforma numa brecha. Por isso é tão difícil falar sobre criacionismo, ressurreição e mortalidade da alma, pureza mental e física, e por aí vai.

Por que as pessoas preferem ficar diante da TV em vez de ler um bom livro?

Porque não querem se esforçar. É a cultura do menor esforço. Por que ler um livro se a TV, além de mais atraente aos olhos, me entrega o conteúdo “mastigado”? Só que a mente se acostuma com aquilo em que se demora. Que tipo de mente você quer? O tipo esponja que só absorve conteúdos sem entender bem o que recebe (e que, consequentemente, é dominada por outras mentes), ou o tipo cujo discernimento claro o ajuda a entender criticamente a realidade? Nunca nos esqueçamos de que quem não lê, mal ouve, mal fala, mal vê.

Na sua visão, qual é o papel do jornalista criacionista no século 21?

Li na Veja desta semana (17/6/09) entrevista com o grande escritor e jornalista Gay Talese. Segundo ele, “de todas as profissões, se um jovem estiver interessado em honestidade e não estiver interessado em ganhar muito dinheiro, eu aconselharia o jornalismo, que lida com a verdade e tenta disseminar a verdade... Acho uma profissão honrosa, honesta. Tenho orgulho de ser jornalista”. Creio que ele resume bem o papel do jornalista criacionista: o desejo de lidar com a verdade e disseminá-la. Devemos estar mais preocupados em estar do lado da verdade do que em tê-la ao nosso lado. Buscar as evidências e os fatos levem aonde levar. Promover o debate e a divulgação de ideias que mostrem que os criacionistas podem contribuir educadamente nas discussões científicas, porque também estudam e fazem boa ciência. Enfim, se alguém pode ajudar a quebrar o preconceito e mostrar a verdadeira “cara” dos criacionistas, esse é o jornalista.

quarta-feira, junho 03, 2009

Como falar do criacionismo

Esta entrevista com o jornalista Michelson Borges, feita por Emanuelle Sales, foi publicada no site do Unasp:

Num mundo de céticos, qual é a melhor forma de apresentar as provas da crença criacionista?

Primeiramente, é interessante mostrar para o cético o que é o verdadeiro ceticismo. Eu não considero o ceticismo uma coisa totalmente negativa. Um dos doze discípulos era ligeiramente cético e Jesus não o repreendeu por isso. Esse era Tomé. Ele buscava experimentar por si mesmo aquilo que os outros falavam. Claro que Jesus enalteceu aqueles que sem tocar creram, mas ele não repreendeu Tomé por querer tocar. Existe uma frase que sempre levo comigo que diz: “Não tenha medo da dúvida se tiver disposição para crer.” A melhor forma de apresentar o criacionismo é convidar os céticos a serem céticos de verdade, questionar tudo e buscar evidências que sejam sólidas para sua futura crença. Nós temos bastantes evidências para apresentar; veja quantas descobertas da arqueologia bíblica, da biologia molecular que apontam um design da vida. Então, mostre os fatos e deixe que os céticos tirem suas próprias conclusões.

Como o senhor afirma, a natureza tem as digitais do Criador. O que nela mais te impressiona e te faz ver melhor essas marcas?

Acredito que a complexidade num amplo espectro. Os próprios darwinistas afirmam essa complexidade. Por exemplo, Richard Dawkins. no livro O relojoeiro cego, diz que o núcleo de uma ameba tem tanta informação quanto em toda a enciclopédia de 30 volumes da Barsa. Saindo desse espectro e indo para outro, o cérebro humano é uma máquina tão complexa que faz você ver que a ideia de vida simples não existe. Toda vida, da mais simples até a mais complexa, revela que houve um planejamento. Mas, sem dúvida, o que mais me fascina é ver o céu à noite. Eu acho impressionante olhar as estrelas. Claro que meus olhos não alcançam tudo, mas vejo fotos revelando as galáxias, a nebulosa de Helix que tem o formato de um olho, outra que tem o formato de um DNA. Eu creio que são pinceladas de Deus numa noite para a gente lembrar que Ele existe.

Quais são as maiores dificuldades encontradas por alguém que trabalha em favor da pregação criacionista?

Primeiro, a angústia de querer mostrar uma coisa que você sente e crê de todo o coração às pessoas que escolheram, a priori, não crer. Dizem que nós temos a mente fechada, mas na verdade nós abrimos a mente para o natural e o sobrenatural, enquanto os naturalistas fecham a mente para o sobrenatural. Então, com essa metodologia um tanto limitadora que não admite a existência de algo que não seja natural, ou cientificamente demonstrado, é realmente complicado você tentar mostrar que existe algo além.

Outra dificuldade é ter que adequar nossa linguagem ao vocabulário científico. Muitos usam de falácias e falam do darwinismo sem ter muito conhecimento, e ao falarem “verdades” sem consistência acabam desacreditando o próprio criacionismo. Nós, criacionistas, temos que ser mais multidisciplinares que os darwinistas. Temos que transitar em vários campos do saber: a arqueologia, a biologia, a física, a teologia – e isso causa um grande desgaste.

O que todo adventista deve saber sobre ciência?

Primeiro, deve saber o que é ciência. É importante saber diferenciar a ciência experimental da ciência histórica, porque hoje se confundem muito. Por exemplo, quando se fala da origem da vida, as pessoas acham que isso é ciência experimental, mas não é, porque não tem como demonstrar em laboratório como a vida funcionou no começo. Tem que simular um suposto ambiente primordial sem ter certeza de que foi aquele. A ciência experimental também está do nosso lado porque os criacionistas não são anticientíficos, eles vão a laboratórios, pesquisam, estudam a realidade química, a biológica e tudo que foi criado. Se você entender o que é ciência e suas ramificações, fica mais fácil dialogar com um darwinista.

Vários livros e filmes ateístas são lançados no mercado literário e cinematográfico. Como o teísmo se encontra nesse ambiente?

Curiosamente nós estamos vivendo o renascimento da religiosidade na era pós-moderna. Esse crescimento não é do teísmo, mas sim da espiritualidade. As pessoas estão mais abertas à crença e à religião, mas não necessariamente a Deus. Eu creio que o teísmo está em desvantagem nessas produções. Ou se vê ateísmo sendo divulgado, ou as crenças espiritualistas. A realidade pós-moderna é descompromissada com igreja e regras; as pessoas querem mais uma vivência espiritual e livre. Vemos o crescimento dos novos ateus e de uma religiosidade esvaziada também crescendo bastante. Nas produções de Hollywood, em vários filmes, em revistas e livros, vemos a transposição dessa realidade.

Dicas de livros.

Não tenho fé suficiente para ser ateu (Norman Geisler & Frank Turek)
Em defesa da fé (Lee Strobel)
Em defesa de Cristo (Lee Strobel)
Um ateu garante: Deus existe (Antony Flew)
A alma da ciência (Nacy Pearcey)