quinta-feira, dezembro 10, 2009

Sonhos e desafios de um jovem editor adventista

Marcos Gabriel Blanco nasceu em Mendoza, Argentina, em 1975. Casado com Claudia Elizabeth Blath de Blanco, tem um casal de filhos: Gabriel, de cinco anos, e Julieta, de quatro. Formado em Teologia, estudou comunicação e atuou como revisor, tendo se especializado em textos jornalísticos. Mestrando em Teologia (falta-lhe apenas defender a dissertação), publicou o livro Jesús Extremo (em fase de preparo para publicação também em língua portuguesa, pela Casa Publicadora Brasileira). Seu passatempo preferido são os esportes ao ar livre, como corrida, mountain bike e alpinismo (esteve no Aconcágua).

Recentemente eleito para chefiar o departamento de Redação da Associación Casa Editora Sudamericana (Aces), a editora adventista da Argentina, concedeu esta entrevista ao jornalista Michelson Borges:

Como recebeu a notícia da sua escolha para chefiar a Redação da Aces?

Foi uma grande surpresa. Não esperava tal responsabilidade nesta etapa da minha vida. É um desafio muito grande, no entanto, entendo que Deus pode nos capacitar a cumprir com a tarefa para a qual nos chama. Abrimos uma oportunidade a Deus quando nos sentimos pequenos para a tarefa que temos diante de nós, porque vamos a Ele em busca da sabedoria necessária.

Por outro lado, amo o ministério da página impressa, e agradeço a Deus por dar-me esta oportunidade de trabalhar com as publicações. Este ministério desempenha um papel muito importante na pregação do evangelho e é um privilégio servir com esse objetivo em mente.

Como você encara o papel de um editor adventista?

As publicações têm o objetivo de preparar um povo para a vinda de Jesus. Sob esse ponto de vista, o editor adventista prepara materiais para proclamar as boas-novas do evangelho, de um lado, e para ajudar no crescimento espiritual daqueles que já fazem parte do povo de Deus, de outro. Isso exige que o editor compreenda muito bem a mentalidade secular e, ao mesmo tempo, conheça a realidade da igreja.

Atualmente, as publicações são o meio que chega a maior quantidade de adventistas e, nesse sentido, estabelece a pauta teológica, vela por manter a identidade de nossa mensagem. Ademais, o editor deve compreender que as editoras são servas da igreja e que, portanto, devem acompanhar o movimento e a missão da igreja.

Fale um pouco sobre a Aces e o trabalho que você vinha desenvolvendo aí.

A Aces serve aos sete países de fala hispana da Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Tem uma longa trajetória editorial (neste ano, comemorou 105 anos de existência) e, em certo sentido, tem sido uma referência para as publicações em espanhol em todo o continente e também na Espanha. Até o momento de ser designado chefe da Redação, eu desempenhava as funções de editor da revista Vida Feliz (semelhante à revista Vida e Saúde), editor da revista Ministerio, editor associado da Revista Adventista, editor da revista Ação Jovem, editor da Lição da Escola Sabatina dos juvenis e editor ocasional de livros.

O que muda em sua rotina daqui para frente?

Até agora, se bem que já trabalhava em equipe, minha tarefa consistia fundamentalmente na preparação e edição de materiais. Agora, a isso se soma a grande responsabilidade de liderar todo o grupo de redatores e editores. Isso significa estabelecer a linha editorial e motivar todo o grupo para cumprir os objetivos da Redação. Também inclui resolver as dificuldades que surgem no dia a dia de uma editora que possui parque gráfico. A dinâmica de trabalho de uma publicação é vertiginosa, desde sua redação e edição, até a impressão, e isso implica levar em conta grande quantidade de detalhes em uma editora que imprime centenas de materiais continuamente.

Você foi escolhido para um cargo de grande responsabilidade com “apenas” 34 anos. O jovem adventista deve estar preparado para assumir grandes responsabilidades? O que envolve esse preparo?

Há um grande movimento ultimamente na Igreja Adventista em geral e, particularmente, na Divisão Sul-Americana, pelo qual estão sendo abertas grandes oportunidades aos jovens. Cada dia há mais jovens ocupando cargos de liderança. Porém, o jovem necessita estar preparado para assumir as responsabilidades que isso envolve. O primeiro requisito indispensável é a comunhão com Deus. Sem um contato diário com Deus, por meio do estudo da Bíblia e da oração, dificilmente alguém pode estar preparado para enfrentar os desafios de assumir grandes responsabilidades na igreja. A segunda condição é o desejo de servir a Deus e cumprir a missão que Ele nos confiou, sem importar o que devemos deixar para trás a fim de realizar essa tarefa. Finalmente, a obra necessita de pessoas preparadas, pelo que é necessário capacitar-se o melhor possível, especializar-se com o fim de apresentar um serviço qualificado.

Quais os seus maiores desafios como redator chefe e seus sonhos para a imprensa adventista na Argentina?

Temos o grande desafio de lidar com as demandas da igreja na América do Sul, que está crescendo com rapidez e, ao mesmo tempo, tem uma ampla variedade de ministérios e programas. Como equipe de Redação da Aces, devemos estar preparados para atender as necessidades que a igreja tem nos sete países aos quais atendemos.

Há o desafio de capacitar o grupo de editores e redatores. É necessária sólida formação teológica. O adestramento no manejo do idioma e a atividade jornalística também são importantes.

Temos também uma dívida com os jovens: poder compreendê-los e oferecer-lhes materiais que sejam atrativos para eles e que, ao mesmo tempo, os ajudem a crescer em sua relação com Deus.

Meu maior sonho como chefe da Redação é ver a igreja preparada para a segunda vinda de Cristo e comprometida com a missão de pregar essa mensagem. As publicações desempenharão papel importantíssimo na terminação da obra, e anelo ser testemunha ativa nessa proclamação.

Você publicou recentemente o livro Jesús Extremo. Fale um pouco sobre ele.

É um livro destinado aos jovens, embora possa ser aproveitado por todas as faixas etárias. Parte do livro é um testemunho, no qual descrevo meu afastamento de Deus e o que me levou a voltar para Ele. O livro trabalha com a ideia das contradições da vida cristã: morrer para nascer, ser o último para chegar a ser o primeiro, perder a vida para ganhá-la, etc. São ensinos do Evangelho que ajudaram em minha caminhada cristã, e que quis compartilhar com os leitores, com a certeza de que poderão ajudá-los também.

segunda-feira, novembro 09, 2009

A lógica do Sabino

Marcos André Sabino Ferreira nasceu em 18 de agosto de 1986, na cidade de Vila Nova de Gaia, Portugal. Membro da Igreja Evangélica de Belomonte, na cidade do Porto, gosta de jogar futebol, tocar guitarra, ler e passear pela blogosfera. Licenciado em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho, em Braga, está a poucos meses de concluir o Mestrado em Informação e Jornalismo. Atualmente, trabalha como gestor de comunicação numa empresa e mantém o blog A Lógica do Sabino. Nesta entrevista concedida a Michelson Borges, ele fala sobre seu interesse pelo criacionismo:

Desde quando surgiu seu interesse pelo criacionismo?

Meu interesse pelo criacionismo é bem recente. Surgiu há coisa de dois anos. Na época, entrei num debate sobre a existência de Deus, no blog de um amigo do meu curso, e a partir daí senti necessidade de me aprofundar mais nesse tema.

Que tipo de leituras e estudos fez a fim de se capacitar para essas discussões?

Eu costumo dizer que comecei pelo lado oposto. Primeiro, li livros que eram contra o Cristianismo, nomeadamente A Desilusão de Deus, do Richard Dawkins [Deus Um Delírio], e o livro Evolução e Criacionismo: uma relação impossível, de quatro evolucionistas portugueses. A ideia era saber quais os argumentos usados por eles.

Só depois comecei a ler coisas sobre criacionismo. Conheci sites como o Creation Ministries International e o Institute for Creation Research, mandei vir alguns livros e todos os dias lia umas duas horas. Tive a felicidade de conhecer o blog Génesis contra Darwin, um blog criacionista português e, mais tarde, seu autor. Ele já conhecia as falácias evolucionistas e foi uma grande ajuda quando dos meus primeiros passos no criacionismo.

Por que resolveu também criar um blog para defender a visão teísta/criacionista?

Criei o blog primeiro para responder ao meu amigo de curso. Depois o blog foi ficando com mais conteúdo e o objetivo aí era dar argumentos a outros cristãos que não sabiam muito bem como encaixar os dados “científicos” na história bíblica, à semelhança das dificuldades que eu também tinha sentido anteriormente.
Atualmente, dois anos depois, o propósito do blog é expor as mentiras evolucionistas ensinadas como se fossem ciência objetiva e anunciar a verdadeira origem das espécies e as suas implicações.

Quais os maiores desafios para manter um blog dessa natureza?

Talvez a maior dificuldade seja ter em mente que estou escrevendo tanto para pessoas que entendem do assunto, como para pessoas que apenas o conhecem superficialmente. Isso por vezes é complicado porque há postagens que escrevo pensando que todos os que as vão ler têm o mesmo conhecimento que eu tenho e isso pode constituir um obstáculo à compreensão do assunto abordado. É algo que eu tenho aprendido a trabalhar com o tempo.

Arranjar tempo para o blog não é um desafio pois é algo que faço com gosto e faz parte do dia a dia.

E as maiores alegrias proporcionadas por esse trabalho?

Essa é fácil. Sem dúvida que as maiores alegrias proporcionadas por esse trabalho são as palavras que ouço/leio de pessoas que eu nunca sequer vi na minha vida. Ao longo destes dois anos de blog, já falei com pessoas (1) que não estão seguras quanto à existência de Deus, mas que gostam de acompanhar o blog porque lhes dá a conhecer outras perspectivas que elas não imaginavam existir; (2) que estavam na dúvida quanto à existência de Deus e à veracidade da Bíblia, mas que fortaleceram a fé; (3) que não sabiam como debater certos assuntos com os amigos, mas que agora sabem.

É bom quando recebemos comentários ou e-mails desse gênero. É aqui que vemos que nosso trabalho não está sendo em vão (também sinto a sua alegria sempre que você publica o “E-mails que nos alegram”).

Às vezes, pensamos que nossa mensagem não está sendo dada, apenas por aquilo que dizem os ateus que comentam no blog. No entanto, temos que lembrar que o número de pessoas que apenas acompanha as postagens e os comentários é muito maior do que o daquelas que comentam. É para essas que é importante continuar a escrever.

Como você encara a responsabilidade do jornalista/comunicador criacionista?

Não tenho muita experiência nisso. Atualmente não desempenho funções jornalísticas. A única experiência que tive com isso foi quando estagiei na TV Ciência. Tive que fazer alguns artigos que tinham noções evolucionistas (ex: Terra com bilhões de anos), mas não muito mais.

Em sua opinião, quais os argumentos mais fortes em favor do criacionismo?

Um dos mais fortes é, sem dúvida, o design presente em todas as formas de vida. A natureza está cheia de design por todo o lado. São os ateus evolucionistas que têm que se esforçar por explicar o porquê de o design não ter designer, se nós sabemos que design tem sempre um designer.

Algo que me fascinou foi quando eu estava na TV Ciência e assisti a uma conferência de robótica. A certa altura, o diretor de uma das empresas lá representadas disse que só o simples movimento do braço de um robô é extremamente complexo e que demorará alguns anos até podermos sonhar com empregadas como a dos Jetsons. Isso me fascinou porque nós executamos milhares de movimentos simultâneos por segundo. Isso é um nível de design fora de série. O cientista que conseguir colocar um robô para executar um “moonwalk” será considerado um gênio. Pois bem, o gênio de Deus já fez isso. São coisas que damos por garantido e que nem pensamos nelas.

E as maiores fragilidades ou pontos em que se deve aprofundar a pesquisa?

Acho curioso você falar em “aprofundar a pesquisa”, uma vez que muita gente (evolucionistas) pensa que os criacionistas não conduzem nenhum tipo de investigação, quando isso está longe de ser verdade.

Os criacionistas têm feito um bom trabalho relativamente à área da datação radiométrica. O grupo RATE, constituído por cientistas doutorados em áreas como Geologia e Física, reuniu evidências de como o decaimento radioativo já foi mais acelerado no passado. Claro que isso é visto pelos evolucionistas como sendo “má pesquisa” ou “pesquisa enviesada”, porque não lhes dá jeito admitir que os métodos de datação se assentam em pressupostos errados. No entanto, é curioso que são os próprios evolucionistas que têm constatado que o decaimento radioativo talvez tenha sido acelerado no passado (confira aqui).

Acho que a pesquisa criacionista deveria se concentrar nesse assunto. É fulcral. Se se colocar em dúvida os bilhões de anos atribuídos à Terra, toda a teoria evolucionista cai por terra (aliás, como já caiu, quando se encontraram tecidos moles em fósseis de dinossauros. Se eles realmente tivessem milhões de anos, esse tipo de material já não estaria ali à espera de ser encontrado).

Fale sobre como andam as discussões sobre as origens em seu país.

Aqui o debate público Criacionismo vs. Evolucionismo é praticamente nulo. A discussão ocorre mais ao nível da blogosfera. Mas espero que isso mude, a médio prazo. Atualmente, o grande defensor do criacionismo é o Jónatas Machado, professor de Direito na Universidade de Coimbra. Estou à espera de que Deus também me use para espalhar a verdade bíblica por terras lusitanas. Tenho procurado encorajar outros criacionistas jovens a se envolverem mais nessa área (meu amigo do http://samdizque.wordpress.com e a minha amiga virtual do http://portal-cristao.blogspot.com).

Fala-se que a Europa está muito secularizada. O que os cristãos podem e devem fazer para lidar com esse quadro?

Acho que os cristãos deveriam ser mais ativos na defesa do Cristianismo. Cada vez mais os valores morais se afastam dos valores de Deus. Aqui em Portugal, depois da legalização do aborto, agora a discussão é sobre a legalização do casamento homossexual. Sei que muitos vão achar que sou retrógrado ou coisa do gênero, mas a verdade é esta: se não querem que os valores bíblicos imperem, depois não perguntem por que é que “Deus permite” coisas como a fome e guerras. Se o ser humano não quer que Deus reine, Ele, gentilmente, fará a nossa vontade.

Encorajo todos os cristãos que acompanham o blog a criarem seu próprio espaço. Cada um de nós pode chegar a pessoas às quais outros jamais chegarão.

Você tem tido bastante contato com brasileiros. Quais as semelhanças e diferenças entre o trabalho feito por criacionistas aqui e em Portugal?

O que eu noto é que a discussão desse assunto é muito mais forte no Brasil do que em Portugal. Espero que daqui a alguns anos se discuta, em Portugal, metade do que se discute aí no Brasil a respeito desse tema.

Que sites e blogs brasileiros você costuma acompanhar e por quê?

Acompanho diariamente o seu [Criacionismo.com.br], assim como o blog do Cético – o cara é muito maneiro (para usar uma expressão brasileira, eheh). Também acompanho o Fatos em Foco, do pastor Artur Eduardo. São blogs parecidos com o meu, que se debruçam sobre os mesmos assuntos. Desejo que continuem atingido mais pessoas com as palavras da Verdade.

O que diria a um jovem que enfrenta oposição e críticas na universidade pelo fato de ser criacionista? Como ele deve lidar com isso?

Tenho amigos que se encontram nessa posição. Estudam em áreas como Biotecnologia, Medicina e Biologia Marinha, e certamente vão levar com muita evolução em cima. A pessoas que se encontram nessa situação diria para não se deixarem intimidar com aquilo que vão ouvir como sendo verdades científicas. Uma coisa que o tempo nos tem mostrado é que as especulações evolucionistas acabam sempre por cair e aquilo que foi ensinado ontem como verdade, hoje já está completamente ultrapassado e foi substituído por outro tipo de mentiras.

Suas últimas palavras.

Alguém uma vez disse: “Um pouco de ciência nos afasta de Deus, muita nos aproxima”. Gosto da frase porque ilustra bem o que se passa. Se realmente ficarmos com as evidências “científicas” selecionadas pelos evolucionistas, aí é normal acharmos que Deus não existe. Mas se aprofundarmos nosso conhecimento científico, conseguiremos ver que é impossível não haver um Criador, já que a natureza vive mostrando as obras dEle (Romanos 1:20).

domingo, setembro 27, 2009

“Ele não me abandonou”

No fim da década de 1980, um jovem adventista não mediu esforços para compartilhar o evangelho com um amigo relutante. Por mais de dois anos, o criciumense Vanderlei Ricken orou e trabalhou por seu conterrâneo e colega de escola. Valeu a pena o esforço. Depois de muito estudo da Bíblia, apelos e lágrimas, Michelson Borges aceitou a Jesus e a verdade revelada nas Escrituras.

O blog www.amissão.com entrevistou os dois amigos que hoje moram a mais de mil quilômetros um do outro (Vanderlei é bibliotecário do Instituto Adventista Cruzeiro do Sul, em Taquara, RS; Michelson é editor na Casa Publicadora Brasileira, em Tatuí, SP). Conheça a seguir alguns lances dessa história de amizade, perseverança, amor e fé:

Vanderlei, conte um pouco da história da sua conversão e de como conheceu o Michelson.

Vim para a Igreja Adventista em 1981-1982 (meu batismo foi realizado no dia 31 de janeiro de 1982). Eu estava com 12 anos de idade. Meu irmão, o Volnei Ricken (atualmente tesoureiro do Colégio Adventista de Porto Alegre), foi o primeiro adventista na família. Ele usava drogas, fumava, bebia e fazia outras coisas terríveis. Deus escolheu o caso mais difícil da família para impressionar os demais em favor do evangelho. Ele ainda não era batizado e dava muitos estudos bíblicos, inclusive para mim. Decidi-me por Cristo quando, nas primeiras lições, li a Lei de Deus na Bíblia, contrastada com a lei que tinha aprendido no catecismo. Para mim, isso foi determinante.

Quando comecei a frequentar os cultos na igreja de Criciúma, havia lá um adolescente muito fiel a Deus, o Aguinaldo Carvalho da Silva. Com ele eu saia todos os sábados à tarde para entregar folhetos e depois começamos a estudar a Bíblia com algumas pessoas. Quando esse meu amigo foi para o colégio interno, fiquei sozinho, numa igreja pequena, com poucos jovens e a maioria deles afastada de Deus, apesar de frequentarem a igreja. No meio dessa situação desanimadora, fiz uma oração: “Senhor, preciso de um amigo da igreja com quem eu possa compartilhar as dificuldades e crescermos juntos na fé.”

Deus, como sempre, conduziu tudo. Eu havia parado de estudar assim que terminei o ensino fundamental. Quando voltei a estudar, escolhi o curso técnico em química. Fiz o primeiro ano e, no ano seguinte, tive que parar para servir ao Exército. Aquele foi um ano de muito preparo espiritual, pois as circunstâncias eram extremamente desfavoráveis para um cristão. Peguei detenções e outras punições por ser fiel a Deus, especialmente em relação à guarda do sábado. Mas Deus operou grandes livramentos nesse particular, e deixei um grande testemunho dentro do Exército, tanto para companheiros como para os oficiais.

Voltei no ano seguinte a fazer o curso de química. Nessa turma, eu cheguei com todo “gás espiritual”. E justamente naquela turma estudava o Michelson.

Como sempre gostei de estudar a Bíblia e de dar estudos bíblicos, pedi licença à professora, no início de uma aula, para dar um recado à turma. Ela permitiu e ofereci diferentes estudos bíblicos para toda a turma (Família Feliz, Encontro com a Vida, e outros). Praticamente todos aceitaram fazer algum tipo de estudo.

Em nossa turma havia uma testemunha de Jeová, um presbiteriano e um adventista, além de católicos. Com o Michelson, formamos um quarteto e mantínhamos o jornal da escola, o Tô Sabendo. O jornal tinha sido ideia do Michelson. Toda a turma participava do jornal, mas nós participávamos um pouco mais. Um dia, estávamos nós quatro conversando e o Paulinho (a testemunha de Jeová) começou a falar contra Maria, mãe de Jesus. Foi o momento que tive para defender o católico Michelson, dizendo que José poderia muito bem ser viúvo ao casar com Maria e já ter tido outros filhos, sem ter sido necessariamente com Maria, pois os textos bíblicos dão margem para essa compreensão. A intenção era justamente me aproximar do Michelson.

Noutro momento, disse algo assim: “Michelson, vejo que você é um cara inteligente. Você não tem curiosidade em relação ao livro do Apocalipse?” Não deu outra: ele “mordeu a isca”. Ofereci o estudo, ele aceitou e fiquei dando as lições para ele. Depois de respondê-las, ele me devolvia, e assim foi.

Comecei a ir à casa dele, e sempre esperava ele puxar alguma conversa religiosa. Frequentemente, ele tocava no assunto quando já era muito tarde, mas, mesmo assim, não me preocupava com o tempo e muitas e muitas vezes saí da casa dele de madrugada, depois de muitos estudos da Bíblia e explicações de textos e outros questionamentos.

Michelson, como você venceu o preconceito e acabou se tornando amigo do Vanderlei?

Isso é realmente interessante, já que eu alimentava certo preconceito contra os “crentes”. Eu era católico praticante. Tinha feito estágio num seminário teológico em Tubarão, SC, e era líder de jovens. O sonho de minha mãe era ver-me padre. Quando conheci o Vanderlei, o que mais me chamou a atenção nele foram duas coisas: (1) o espírito brincalhão, que o tornava uma pessoa agradável e bem quista de todos, e (2) a ousadia com que falava de suas convicções. Eu podia discordar dele em assuntos de fé, mas uma coisa não podia deixar de admitir: ele tinha mesmo convicção no que cria. De vez em quando, ele deixava uns folhetos sobre as carteiras na sala de aula. Ao mesmo tempo em que me sentia meio afrontado com aquilo, meu respeito crescia por aquele “crente” cujo testemunho era coerente com a mensagem que espalhava.

Como você encarou o desafio para estudar o Apocalipse?

Com um misto de surpresa e curiosidade. Quando o Vanderlei me convidou para fazer os estudos, deixei bem claro de início que eu os faria sozinho, em casa, com minha Bíblia Edições Paulinas, com Imprimatur do papa. Na verdade, quando ele me desafiou a estudar o Apocalipse, lembrei da minha adolescência, quando tentei estudar esse livro sem entender muita coisa. Sempre tive vontade de estudar as profecias bíblicas e aquela poderia ser uma oportunidade, inclusive, de mostrar para o Vanderlei que ele, e não eu, estava errado em sua interpretação do livro profético.

E o que aconteceu?

Nem preciso dizer quem caiu do cavalo, não é? Além das lições, o Vanderlei me entregava vários materiais adicionais, livros, apostilas, e me incentivava a ler várias passagens bíblicas. Lembro-me de ter lido o Novo Testamento em poucos dias. Cada vez mais a Palavra de Deus me fascinava e constatei que as doutrinas adventistas estão fortemente embasadas na revelação bíblica. Eu sublinhava tudo em minha Bíblia e tentava explicar para os meus amigos do grupo de jovens e para os padres que eu conhecia. Eles não compreendiam ou não aceitavam. De líder respeitado, passei a ser incompreendido e até considerado “cabeça fraca”. Isso doeu muito. Mas a dor maior que senti veio quando sugeriram que me retirasse do grupo de jovens, pois “minhas” ideias estavam causando desconforto. E não é pra menos: o último sermão que apresentei como católico, aos 17 anos, numa celebração, tratava da ressurreição de Lázaro e do sono da morte, e as últimas três reuniões que dirigi no grupo de jovens abordaram os temas volta de Jesus, estado do ser humano na morte e a vigência da lei moral e do sábado bíblico.

Como sua família viu essa sua mudança?

Meu pai não deu muita importância. Achava que era coisa de adolescente que “passaria” quando eu fosse para a faculdade. Mas minha mãe acabou tornando minha vida num verdadeiro inferno, por algum tempo. Todas as manhãs, ela me acordava para eu ir para a escola e fazia todo tipo de chantagem emocional, dizendo que eu estava acabando com a vida dela. Até que a convidei a estudar a Bíblia para saber por que eu estava pensando diferente. Como ela odiava o Vanderlei, aceitou os estudos, desde que fosse comigo. Resultado: um ano depois do meu batismo, para a honra de Deus, ela e minha irmã mais nova também foram batizadas - as duas primeiras pessoas a quem tive o privilégio de levar o conhecimento da verdade bíblica e que aceitaram o batismo.

Vanderlei, desde quando você tem esse interesse em dar estudos bíblicos? Por que você considera importante fazer isso?

Desde que me tornei adventista, me envolvi na entrega de folhetos e, depois, na ministração de estudos bíblicos. Um dia, ouvi a história de uma mulher que queria sair da igreja. O pastor a desafiou a dar um estudo bíblico, e, depois, sim, poderia sair sem problema algum. No fim desse estudo, ela se animou tanto que desistiu da intenção de abandonar a fé. Nas palavras de Paulo: para que, pregando a outros, ele mesmo não fosse de alguma forma reprovado. Dar estudos bíblicos anima profundamente nossa própria fé. Se estiver desanimado, é só pregar que anima.

Mais de dois anos se passaram até que o Michelson tomasse a decisão final ao lado da verdade bíblica. A que você atribui essa relutância por parte dele?

O Michelson participava num programa de rádio chamado “Missa no Rádio”, era líder do grupo de jovens da igreja matriz da cidade, até pensava em ser padre, fazia a celebração numa igreja católica em que o padre pouco aparecia, ajudava num jornalzinho da igreja, tinha amizade com toda a liderança... Tudo isso pesava fortemente para acentuar a relutância dele.

Michelson...

Além disso, eu não gostava da ideia de perder minha influência e os amigos que tanto amava (e amo). Pra piorar a situação, pouco antes de tomar a decisão final de me tornar adventista, eu estava cursando o pré-vestibular. Como estava desempregado, era o meu pai quem pagava as mensalidades. Quando decidi não mais estudar aos sábados, fiquei preocupado. Se não fosse aprovado no vestibular e meu pai soubesse que eu havia perdido todas as aulas de sexta-feira à noite e de sábado à tarde, o que ele iria dizer? Mas Deus me ajudou, fiz a minha parte estudando bastante, e, no início de 1992, mudei-me para Florianópolis. Havia sido aprovado para o curso de Jornalismo da UFSC.

Vanderlei, você também orou intercessoriamente pelo Michelson. Você acha que essas orações foram determinantes?

Orei muito por ele. Eu olhava para ele e pensava assim: “Já pensou um cara desse na Igreja Adventista?” Eu pedia muito e muito a Deus para me dar sabedoria ao apresentar os assuntos para ele e ao Espírito Santo para tocar sempre o coração dele.

Qual a maior resposta a uma oração que Deus já lhe concedeu?

Acredito que o Michelson na Igreja Adventista foi a maior resposta a uma oração minha. Deus me deu um grande amigo e irmão... Um irmão mesmo.

Michelson, como você via a dedicação do Vanderlei em lhe transmitir a Palavra de Deus?

Posso dizer que isso foi o que mais me impressionou. Mesmo eu tendo relutado por mais de dois anos, Deus nunca desistiu de mim. Nem o Vanderlei. Ele pedalava alguns quilômetros para me visitar toda sexta-feira à noite, chovesse ou não, fizesse frio ou não. Ficávamos durante horas estudando a Bíblia. Eu apreciava muito aqueles momentos. Sentia que o Vanderlei era um amigo verdadeiro. A paciência que ele teve comigo foi uma prova de que ele verdadeiramente se interessava em minha salvação.

O que esses estudos bíblicos e essas orações fizeram por você, Vanderlei?

Na minha igreja não existia um plano de discipulado que ensinasse os adolescentes a dar estudos bíblicos, visitar, etc. Aprendi isso pelo método de tentativa e erro. Muitos erros, inclusive.

Mas Deus vai capacitando quem se coloca à disposição dEle. Eu era muito tímido, tinha vergonha, mas muita vergonha mesmo de até fazer uma oração em público. Eu chegava a sair de dentro da igreja nos momentos em que escolhiam alguém para orar. Falar em público era uma tortura para mim. Deus foi trabalhando em minha vida e hoje alguns podem dizer ou achar: “Ah, para ele foi fácil. Ele tem facilidade de se expressar.” Ledo engano. Só por Deus mesmo. “Não digas: Eu sou uma criança, porque a todos a quem Eu te enviar irás e tudo quanto Eu te mandar falarás. Não temas diante deles, porque Eu sou contigo para te livrar, diz o Senhor” (Jr 1:7, 8).

Como foi o dia do batismo do seu amigo? O que sentiu quando viu o Michelson, finalmente, no tanque batismal?

Não existe felicidade maior do que você ver o batismo de alguém que você conduziu a Cristo. Como é importante participarmos da salvação de outras pessoas. Como cuidamos desses recém-nascidos. Como nos preocupamos com eles. Hoje, precisamos muito desse envolvimento com os que são batizados. Se fizéssemos isso, fecharíamos a “porta dos fundos” das nossas igrejas.

Antes de o Michelson ser batizado, você o convidou a participar de projetos evangelísticos e até mesmo o incentivou a ministrar estudos bíblicos com você. Qual era o seu objetivo com isso?

O Michelson teve tudo o que eu não tive ao entrar na igreja. Fiz questão de ensinar a ele tudo o que eu sabia, na teoria e na prática. Ele foi comigo discutir com pessoas de outras religiões, fazer visitas, dar estudos bíblicos, até para pregar eu o coloquei, numa Semana do Calvário que fizemos num acampamento dos desbravadores. Ele não era batizado, ainda, e o clube de desbravadores foi também uma grande força para ajudá-lo a superar a separação do grupo de jovens da Igreja Católica. Eu também participava de muitas coisas com ele no grupo de jovens. Estava “em todas”. O pessoal do grupo de jovens ficava me olhando com cara feia, desconfiados... Fui até em procissão com ele; ele foi o Cristo e eu, o fotógrafo (risos).

Que história é essa Michelson?

Foi uma encenação de Via Sacra. Eu fiz o papel de Jesus e me senti honrado. Graças ao Vanderlei, tenho fotos desse momento. Ele participou de algumas reuniões do grupo de jovens também, e isso me mostrou que, diferentemente de mim, ele não tinha preconceitos. Posso dizer que verdadeiramente o Vanderlei se fez de gentio para ganhar um gentio (cf. 1Co 9:19-23).

Você gostava de acompanhar o Vanderlei nas atividades missionárias?

E como! Eu tinha uma motoneta mobilete que apelidamos de “evangelista”. Com ela, o Vanderlei e eu íamos a bairros distantes dar estudos bíblicos. Na época, eu não compreendia, mas hoje vejo que meu “pai na fé” fez exatamente o que Jesus fez com os discípulos dEle: primeiro, ele me mostrou como se prega; depois, foi comigo; em seguida, me enviou. Essa experiência de partilhar o evangelho com outras pessoas solidificou minha fé e meus conhecimentos doutrinários. Pregar o evangelho é um dos maiores privilégios que podemos ter neste mundo. Ainda hoje, mesmo envolvido nas atividades da instituição adventista (obra), procuro sempre dar estudos bíblicos acompanhado de minha esposa e filhas. Ajudando a salvar o próximo, também colaboramos para a nossa própria salvação, na medida em que precisamos manter viva nossa comunhão com o Salvador.

A igreja possui hoje o Plano de Discipulado. O objetivo é que o instrutor bíblico não seja apenas o “professor” das doutrinas, mas um discipulador que ensine o novo membro a viver o estilo de vida adventista e a pregar o evangelho. Vanderlei, você crê que isso é importante? Por quê?

Eu pratiquei exatamente isso. Podemos dizer que o Michelson é fruto do Plano de Discipulado. Isso é fundamental para a vida cristã. Afinal, “todo verdadeiro discípulo de Cristo nasce no Reino de Deus como um missionário”, nas palavras de Ellen White.

Quando estudava a Bíblia com o Michelson, num dos últimos apelos que fez a ele, antes do batismo, você disse que esperava que ele fosse um “Paulo moderno”.

O Michelson tinha todo o conhecimento que me foi possível passar a ele. Ele estava quase salvo, mas ainda estava totalmente perdido. Eu apelei ao coração dele para ele não ser um rei Agripa (“por pouco me persuades...”) e sim um Paulo moderno. Ele quase rejeitou o convite divino, mas, graças a Deus, aceitou a Cristo e a Verdade.

Esse apelo mexeu com você, Michelson?

Sim. O Vanderlei é mestre em fazer apelos. Desde o início dos estudos e quando me visitava em casa, ele não perdia a oportunidade de apelar para que eu me entregasse a Jesus. Quando ele falou de Paulo e Agripa e disse que eu precisava descer do muro da indecisão, não consegui mais resistir ao chamado do Espírito Santo.

Michelson disse que pregar o evangelho ajudou a fortalecer a fé dele. Você também pensa assim, Vanderlei?

Não consigo ver outra coisa na igreja que possa fortalecer a fé de um membro, em igual intensidade, como pregar o evangelho. A pessoa pode ser alimentada ou entretida dentro da igreja com a música, programas especiais, etc., mas, para ter a fé fortalecida, só pregando aos outros.

Que conselho vocês dariam para os jovens que sentem vontade de partilhar o evangelho, mas não sabem como fazer isso?

Vanderlei: hoje temos à disposição uma série de coisas que podemos fazer para partilhar o evangelho. Envolva-se com algumas delas e você sentirá, em pouco tempo, a diferença em sua vida.

Michelson: há muitas pessoas sinceras esperando para ouvir da esperança que temos. Muitas vezes me deitei de costas nas areias úmidas da praia do Rincão (no litoral sul-catarinense), onde meus pais têm uma casa de verão, e ficava me perguntando, ao olhar as estrelas: De onde viemos? Para onde vamos? Qual o sentido da vida? Somos tão pequenos em comparação com o Universo, será que temos mesmo valor para Deus? Estudar a Bíblia abriu-me os olhos e forneceu respostas para muitas perguntas que me atormentavam havia anos. Como posso manter essa revelação maravilhosa apenas comigo? Cada um tem seu círculo de amizades e é, em certa medida, responsável pela salvação dessas pessoas. Que tal orar a Deus para que Ele lhe prepare uma oportunidade de pregar a uma dessas pessoas? Experimente e você terá surpresas.

E para aqueles que não sentem vontade de evangelizar?

Vanderlei: Ellen White dá a solução: “Meus irmãos e minhas irmãs, quereis romper o encanto que vos prende? Quereis despertar dessa indolência que se assemelha ao torpor da morte? Ide trabalhar, quer vos sintais dispostos a isto, quer não. Empenhai-vos em esforço pessoal para levar almas a Jesus e ao conhecimento da verdade. Em tal trabalho, encontrareis tanto um estímulo como um tônico; ele a um tempo despertará e fortalecerá” (Testemunhos Seletos, v. 2, p. 128, 129).

Michelson: Antes de conhecer o Vanderlei, tive contato com uma adventista do sétimo dia no primeiro ano do ensino médio. Mas ela nunca falou de Jesus para mim e eu nem sabia a que religião ela pertencia (só soube disso quando a vi, tempos depois, na igreja). Ainda bem que Jesus não desistiu de mim e colocou o Vanderlei em meu caminho. Serei eternamente grato a ambos.

(Se você quiser conhecer mais da história de conversão do Michelson e da esposa dele, a Débora, leia o e-book Deus Nos Uniu)

quinta-feira, setembro 17, 2009

Púlpito virtual

Vanessa Meira tem 31 anos e esbanja alegria e vontade de viver. Quem
conhece a empolgação com que realiza seu trabalho voluntário de
moderadora da maior comunidade direcionada a jovens adventistas no
Orkut (que tem quase 70 mil membros), nem imagina as lutas que viveu
no passado e a linda história da conversão pela qual passou. Natural de
São Paulo, ela dá aula para o 5º ano do Ensino Fundamental no Colégio Adventista de Indaial, SC, e é casada com Isaac Malheiros Meira Jr., capelão do mesmo colégio. Nesta entrevista, concedida ao jornalista Michelson Borges, Vanessa conta um pouco de sua vida e fala do potencial evangelístico da web:

Fale um pouco sobre sua vida antes de se tornar adventista.

Tive uma infância confusa. Meu pai vendia drogas, era usuário e praticava outras atividades ilegais. Uma hora era extremamente brincalhão, afetuoso... Mas, de repente, se tornava agressivo. Quebrava a casa inteira, batia na gente sem motivo.

Um dia morávamos numa casa bonita, tínhamos tudo que queríamos... No outro, estávamos num barraco com poucos móveis.

Minha mãe era uma mulher totalmente apaixonada. Suportava as loucuras do meu pai, vivia para ele. Não via esperança nos olhos dela e a gota d’água foi quando aos oito anos eu disse para meu pai que chamaria a polícia. Minha mãe percebeu o mal que toda aquela situação estava trazendo para os filhos.

Aos nove anos de idade, fumei sozinha, no banheiro de casa. E bebia o restante de bebida que meu pai deixava nos copos espalhados pela casa.

Comecei a trabalhar bem nova e gostava de estudar, então, trabalhava o dia todo e estudava à noite. Sempre tive êxito em tudo o que fazia. Antes dos 18 anos, já era gerente de uma loja com vários funcionários.

Meu pai foi preso algumas vezes e minha mãe sempre vendia tudo o que tinha para libertá-lo. A última prisão dele me marcou bastante. Eu já era adulta e as visitas que fiz ao presídio realmente me faziam mal. Sentia pena do meu pai e raiva de tudo.

Minha vida em casa era um caos. Meus pais haviam se separado e eu sofria tentando lidar com isso. Minha mãe se casou com outro homem e a confusão só aumentou.

Meu pai cada vez mais viciado, conhecendo drogas novas e mais letais. Me doía vê-lo se destruindo. Ele continuava se mantendo com atividades ilegais e muitas vezes o via na rua drogado ou bêbado e me escondia. Com vergonha, com pena, com raiva... E muito culpada por fugir do meu próprio pai.

Eu buscava alívio bebendo muito. Passei a usar drogas, fumava demais, vivia na rua, em festas... Eu estava literalmente perdida.

Como entrou em contato com a mensagem adventista?

Foi a mensagem que me encontrou. Era um domingo e em meu bairro estava acontecendo uma gincana bastante tradicional ali. Eu já tinha bebido muito, o dia estava terminando, quando conheci uns jovens que foram participar da gincana. Eles moravam em outro bairro e foram ali só pra isso. Eles eram muito divertidos e acabei me envolvendo com um deles. E num papo meio “fim de festa”, falamos brevemente sobre Deus. Ele estava afastado da Igreja Adventista, mas “louco” pra voltar para os braços de Cristo.

Frequentei igrejas batistas e resistia bravamente à mensagem adventista. Mas num morno culto de quarta-feira, na Igreja Adventista de Ermelinda, senti o toque do Espírito Santo e vi que era inútil procurar a verdade em outro lugar. Fui batizada em 1994.

Como a filha de um traficante acabou casando com um pastor?

Algum tempo depois, já batizada, meu namoro com aquele rapaz terminou. Chateada e sozinha, fui visitar a Igreja Adventista da Concórdia. Lá alguns jovens estavam montando um coral e resolvi fazer o teste. O pianista era um rapaz magrinho, estudante de Engenharia. Passei no teste, me tornei a secretária do coral e amiga da irmã do Isaac, o pianista. A família dele me adotou e me deu fortes alicerces para minha fé. Eu e o Isaac éramos amigos apenas e uns quatro anos depois ele foi para o Unasp estudar Teologia. Eu sentia a falta dele e só então decidimos namorar. Namoramos a distância e nos casamos no civil, por procuração.

O que mais a atraiu na mensagem adventista?

Eu já estava buscando a Deus há um tempo. Frequentei muitas igrejas evangélicas. Mas quando li a respeito do sábado, percebi que estava faltando algo. Resisti por um tempo. A Igreja Adventista era um ambiente muito diferente do que eu estava acostumada. Mas as amizades que fiz na igreja foram fundamentais. Os amigos seguraram minha mão e não soltaram mesmo. Graças a Deus!

No estilo de vida adventista, o que para você foi mais difícil de adotar?

O vestuário foi uma luta. Nunca tinha vestido saia na vida. Eu usava muitas gírias. Morria de medo de conversar com as senhoras da igreja. E os hábitos saudáveis? Quando alguém me perguntava: “Você come carne?”, eu pensava: “Ora e quem não come? Que pergunta!”

Olha, acredite em mim, foi uma mudança radical.

E a sua família?

Meu pai faleceu em 2005. Sofri muito por talvez não ter usado bem as oportunidade que Deus me deu ao lado dele. Será que ele sabia que Deus o amava, apesar de tudo?

Minha mãe fica feliz em ver que estou bem. Sempre que vamos a Belo Horizonte, ela e minha irmã vão à igreja. Elas gostam muito de ouvir meu marido pregar.

Meu irmão trabalha muito e as algemas de que um dia Jesus me livrou ainda o prendem. Mas creio em um milagre na vida dele.

Ninguém se converteu na minha família, por enquanto, mas a mudança nessa família já começou em mim!

Como surgiu a ideia de criar a comunidade de jovens adventistas no Orkut?

A comunidade foi criada em agosto de 2004 na intenção de unir os jovens adventistas que estavam ali pelo Orkut, fazer novas amizades, trocar experiências... O rapaz que a criou a abandonou e o Rodrigo Mengue a assumiu e recrutou jovens para ajudar na moderação. E a notícia foi se espalhando. Passei a fazer parte no mês seguinte ao da criação da comunidade. Os outros moderadores gostaram da minha participação e me convidaram para ajudá-los.

Que tipo de manutenção a comunidade exige?

Temos que apagar postagens e tópicos inconvenientes, moderar a participação dos membros e aplicar as regras da comunidade. Muitas pessoas são realmente assíduas e participam todos os dias. Acredito que, em média, temos uns 600 posts diários. O movimento é maior em feriados e férias. A maioria quer apenas socializar, trocar experiências, pedir oração.

Mas nossa comunidade tem uma variedade incrível de membros: pessoas que não têm religião, que não creem em Deus, jovens adventistas atuantes, jovens afastados de Jesus, e muitos críticos. E cada dia, mais jovens nos procuram. Aceitamos como membros de 30 a 50 jovens por dia.

Realmente dá trabalho. Mas somos cinco moderadores (além do Rodrigo). Leonardo, Bruno, Jonatas e Tiago. Sou a “luluzinha” do “clube do bolinha”. Os meninos são muito estudiosos e trabalhamos em equipe.

Conte alguma história marcante desses anos de existência da comunidade.

No início do ano, uma moça chamada Panmella Veras criou um tópico dizendo que estava afastada e que queria voltar. Ela participava em outros tópicos e comecei a orar por ela. Eu estava certa de que ali estava mais um filho pródigo. Ela, de fato, voltou para Jesus e está firme em sua decisão.

Essas situações me tocam especialmente. E são frequentes os casos. Alguns estão sem coragem de visitar uma igreja real e encontram na comunidade uma “igreja virtual”.

Não podemos ignorar um grupo de mais de 60 mil pessoas reunidas em nome da Igreja. Ainda não presenciei um evento denominacional que pudesse reunir tantos jovens.

Como você avalia o uso da internet como instrumento de pregação?

Existem vantagens e desvantagens. A impessoalidade é uma desvantagem. Muitos estão se afastando do convívio com pessoas e acabam trocando o real pelo virtual.

A abrangência e o acesso rápido são pontos positivos. O Brasil é o país campeão de uso de sites de relacionamentos. São muitos brasileiros ligados a esse tipo de ferramenta. A internet permite que você interaja com pessoas que, às vezes, não querem mostrar o rosto, mas que estão sofrendo e querem mudar de vida. Muitos jovens têm dificuldade de olhar nos olhos do pastor e dizer o que estão passando. Mas se expressam bem em um e-mail ou scrap.

Quais os assuntos mais debatidos na comunidade?

Muitas dúvidas a respeito de textos bíblicos, dúvidas sobre os escritos de Ellen White, a credibilidade da Bíblia, música, sexo e comportamento em geral. Aquelas dúvidas clássicas, tipo “Pode ou não pode fazer tal coisa”, são bem comuns.

Que cuidados os jovens devem ter ao usar o Orkut e outros sites de relacionamento?

Acredito que o grande risco seja a exposição da imagem e da vida pessoal e o contato com uma variedade incrível de pessoas. O jovem que cria um perfil cheio de informações pessoais está se expondo e expondo sua família a tantos riscos quanto nossa imaginação possa supor.

E a possibilidade de contato com pessoas de outros Estados e até de outros países é uma faca de dois gumes. Existem inúmeros perfis falsos com pessoas mal-intencionadas abusando da boa fé de muitos.

terça-feira, setembro 15, 2009

O evangelho e a rede

Jobson Dornelles Santos nasceu em 1962, em São Paulo, SP. Estudou no Instituto Adventista de São Paulo (Iasp), no Unasp, campus São Paulo, onde se formou em Teologia em 1985, e no Unasp, campus Engenheiro Coelho, onde cursou o mestrado e o doutorado em Teologia Pastoral. Foi pastor distrital por 11 anos em Mato Grosso e Goiás, capelão do Hospital Adventista de Belém por dois anos e nos últimos dez anos tem trabalhado no Sistema Adventista de Comunicação em diversas funções: diretor da Escola Bíblica, tradutor, produtor e apresentador do programa “Lugar de Paz”. Atualmente trabalha no departamento de Web Móbile como coordenador de evangelismo via internet. Em julho, Jobson defendeu sua tese doutoral sobre o uso evangelístico da internet pela Igreja Adventista do Sétimo Dia. Depois de aprovado sem observações pela Banca, concedeu esta entrevista ao jornalista Michelson Borges:

Por que você decidiu pesquisar sobre o evangelismo via internet?

A ideia de pesquisar o uso da internet para o evangelismo surgiu de um diálogo com o Dr. Alberto Timm, meu orientador de tese no programa de doutorado em Teologia oferecido pelo Salt, campus Engenheiro Coelho. O Dr. Timm me incentivou a descobrir maneiras pelas quais esse meio de comunicação poderia contribuir para o cumprimento da missão evangélica. Desde o princípio, me empolguei com o tema e com muito prazer me dediquei a explorá-lo. A pesquisa de nove anos resultou numa tese de doutorado com 386 páginas.

Fale um pouco sobre a história do evangelismo adventista na internet.

O primeiro site adventista em língua portuguesa, o www.cvvnet.org, foi lançado em 1994 por Cleandro Viana. O primeiro site adventista institucional brasileiro foi criado em 1995 pelo ministério “Está Escrito”, o qual, mais tarde, no mesmo ano, passou a integrar o site do então recém-criado Sistema Adventista de Comunicação, www.sisac.org.br. Outras iniciativas voluntárias e institucionais se seguiram nesse período de pioneirismo.

Nos anos de 1996 e 1997, vemos o surgimento principalmente de sites institucionais como os de sedes de Associações, de Uniões e da Divisão Sul-Americana, www.dsa.org.br.

De 1998 a 2001, observou-se uma diversificação nos domínios adventistas. Surgiram sites de igrejas locais, evangelísticos, educacionais, de músicos, do ministério jovem, entre outros. Nessa época, foram lançados portais que se tornaram muito acessados como o www.advir.com.br, o www.bibliaonline.net e o www.jesusvoltara.com.br.

A partir de 2002, começaram a surgir sites adventistas especializados como o portal www.educacaoadventista.org.br, elaborado pela Agência de Desenvolvimento Web da USB, estabelecida no campus do IAP. Um site desenvolvido por profissionais e mantido por trabalhadores de tempo integral tem bem mais condições de sobressair no competitivo mundo cibernético.

A criação do departamento de internet da Novo Tempo, em 2008, por ocasião da campanha Impacto Esperança (www.esperanca.org.br), representou o reconhecimento, por parte da Igreja, da importância de se utilizar melhor esse poderoso meio de comunicação de massa. A partir de 2009, o departamento passou a contar com cinco funcionários de tempo integral.

Existem atualmente mais de 800 sites e blogs adventistas em língua portuguesa, a maioria fruto de iniciativas pessoais. Esses sites têm sido um aporte para a Igreja Adventista do Sétimo Dia em sua missão.

Qual é o papel da internet na pregação do evangelho e que vantagens esse recurso tem sobre outras mídias?

O rádio e a TV têm alcance geográfico limitado e exigem investimentos elevados. A internet permite a divulgação mundial de conteúdos com investimentos relativamente pequenos.

A imprensa, o rádio e a TV são veículos de comunicação um para todos, em que um emissor envia mensagens para grande número de receptores. A internet é um veículo de comunicação todos para todos, em que é possível não apenas enviar informações, mas também receber retorno da parte dos usuários conectados, o que a torna excelente ferramenta para a evangelização mundial.

Por meio de serviços como pedidos de oração, cursos bíblicos e redes sociais, é possível estabelecer relacionamentos de qualidade com pessoas que estão em busca de Deus e encaminhá-las para igrejas locais. Muitas dessas pessoas se integram a comunidades adventistas e são batizadas.

Em que aspectos a Igreja precisa, como organização, avançar na pregação virtual?

Os principais desafios que se apresentam para o êxito do evangelismo adventista via internet são: falar a linguagem da sociedade, superar desafios tecnológicos, desenvolver conteúdos de qualidade, capacitar colaboradores voluntários e alcançar eficácia na visitação aos interessados. Esses objetivos são muito abrangentes e não poderão ser alcançados por esforços independentes sem o apoio da estrutura organizacional.

Arne Fjeldstad, doutor em teologia pela Universidade de Fuller, afirma que “um dos principais desafios para a pregação do evangelho através da internet é o domínio das novas tecnologias”. Para Allan Beeber & Siam Rogers, “o que precisamos fazer é integrar alta tecnologia com alta simpatia, o que é tanto uma arte como uma ciência”.

A fim de se obter os melhores resultados na utilização da internet em esforços evangelizadores adventistas, é importante estabelecer um núcleo responsável pelo evangelismo via internet, prática já adotada por outras organizações religiosas. Essa equipe precisa ser composta por pelo menos quatro profissionais de tempo integral: (1) um diretor de evangelismo; (2) um programador web; (3) um coordenador de voluntários; e (4) um coordenador de interessados.

Evangelizar pela internet é bem mais do que colocar conteúdos religiosos na web.

Sim, e uma das áreas mais importantes diz respeito à capacitação dos colaboradores. Atualmente, o www.bibliaonline.net, site adventista oficial de estudos bíblicos para a América do Sul, tem oito mil colaboradores voluntários cadastrados como intercessores, conselheiros e instrutores bíblicos via internet. A previsão é de que nos próximos cinco anos sejam 18 mil colaboradores. O apoio adequado a esses dedicados missionários exige alguém competente para assessorá-los.

A principal tarefa do coordenador de interessados é a de criar condições para que visitadores adventistas possam atender adequadamente aos interessados. Por meio de um cadastro de interessados disponível, mediante senha, através da internet, cada igreja, pastor ou Associação pode saber quais estão mais próximas de uma decisão ao lado de Deus, em sua região geográfica. A partir dessa informação, esforços missionários poderão ser direcionados aos mais receptivos, possibilitando maior colheita evangelística.

O núcleo responsável pelo evangelismo via internet deverá também criar mecanismos para evangelizar através de celulares e outros aparatos tecnológicos que possam surgir.

É importante a igreja compreender que, sem os devidos investimentos em recursos humanos e financeiros, não há como se tornar relevante na competitiva rede mundial.

Em sua pesquisa, você constatou que mais de 60% das iniciativas evangelísticas na web são de irmãos voluntários. Como você vê isso?

A igreja, como organização, jamais terá condições de criar e manter sites em todas as áreas necessárias e importantes. Os membros voluntários que têm se dedicado a estabelecer sites e blogs evangelizadores dão uma significativa contribuição para a missão da Igreja e precisam ser incentivados em suas atividades.

Necessitam-se milhares de sites e blogs a respeito dos mais variados assuntos. Cada iniciativa deve ter seu espaço, sua relevância e seu público específico. O ideal é que cada site adventista se especialize num segmento e estabeleça parcerias com sites que ofereçam serviços de qualidade em outras áreas.

Você também propõe uma coordenação por parte da Igreja. Como e por que isso deveria ser feito?

Os muitos sites e blogs adventistas existentes em língua portuguesa correm o risco de atuar nas mesmas áreas com multiplicidade de esforços na realização das mesmas tarefas. Apenas um trabalho coordenado permitirá a ocupação de maior número de áreas estratégicas com menor desperdício de recursos.

Existe enorme boa vontade, por parte dos líderes voluntários de sites e blogs, em colaborar com a Igreja Adventista do Sétimo Dia, mas essas pessoas precisam receber orientação e motivação. Encontros presenciais e à distância, promovidos pela organização adventista, são necessários a fim de que esses sites alcancem eficácia em seus esforços e avancem como uma frente unida.

Vamos tomar o exemplo de uma rede de oração, um serviço que abre portas para amizades significativas e gera confiança na equipe de colaboradores do site evangelizador. Sem a coordenação da Igreja, provavelmente existiriam 50 ou 100 redes de oração pequenas competindo umas com as outras, exigindo diversas pessoas dando treinamento aos voluntários. Caso a Igreja assuma a coordenação desse serviço, poderia haver uma rede de oração oficial, a qual seria replicada em centenas de sites e blogs adventistas. O treinamento dos intercessores seria feito por uma equipe central com inúmeros benefícios em termos de eficiência.

O site/blog que decidisse participar dessa grande rede de oração poderia escolher exibir os pedidos e agradecimentos recebidos apenas no site de origem ou o total dos itens recebidos por todos os sites. A programação computacional para tal rede de oração já existe e foi feita por Marcelo Castello, atualmente desenvolvedor da Novo Tempo. Entretanto, o maior desafio, neste caso, não é o tecnológico, mas sim ações de liderança que permitam a adesão de inúmeros sites e blogs a esse sistema. A coordenação dessa rede de oração poderia ficar a cargo da Novo Tempo, instituição responsável pela utilização dos meios de comunicação de massa na América do Sul.

Dê sugestões de como um site ou blog pode ser usado para evangelizar.

Um dos primeiros aspectos a serem considerados ao se criar um blog ou site é determinar o público-alvo e a área de atuação do site. Esses dois aspectos interagem entre si e determinam, em grande medida, as pessoas que haverão de acessar o site/blog e ser beneficiadas com os conteúdos e serviços.

Segundo Mark Kellner, um site de organização religiosa deve buscar três coisas: (1) apresentar uma mensagem persuasiva; (2) atualizar com frequência seus conteúdos; e (3) responder rapidamente às perguntas. Um site ou blog que persiga esses três objetivos, receberá crescente número de usuários.

Devem ser feitos esforços para tornar a rede mundial um veículo de transmissão de valores cristãos, em vez de ser um meio de comunicação que traga problemas aos usuários que o utilizam de forma inadequada.

De que forma o evangelismo pela internet poderia ser mais pessoal, já que não existe “batismo” via internet?

Para algumas pessoas, a internet é um ambiente distante e impessoal. Entretanto, pesquisas demonstram que os relacionamentos desenvolvidos através da web têm as mesmas qualidades dos relacionamentos presenciais. Num relacionamento à distância, muitas vezes a pessoa expressa opiniões e sentimentos que não teria coragem de expressar de forma presencial. O conselho brasileiro de psicologia já aceita o aconselhamento através da internet, realizado por profissionais treinados.

Existem algumas maneiras pelas quais é possível estabelecer relacionamentos significativos por meio da internet. Uma delas é a troca de e-mails. Outra é a troca de mensagens instantâneas ou debates em chats ou fóruns. Outra ainda é participar de redes sociais. Através desses meios é possível repartir conhecimentos e experiências num clima de amizade e respeito.

Ao perceber que um serviço de respostas bíblicas e aconselhamento teria grande chance de beneficiar significativamente a vida dos internautas, o site www.bibliaonline.net passou a oferecer esses serviços com excelentes resultados. De 2001 a 2008, foram recebidas 53 mil perguntas bíblicas e de aconselhamento, 80 mil alunos de cursos bíblicos e 393 mil pedidos de oração.

Os brasileiros são muito sociáveis e grandes adeptos das redes sociais, mas, a fim de capitalizar essas características, é preciso haver pessoas suficientes para estabelecer pontes com os internautas. Caso a Igreja Adventista do Sétimo Dia invista no treinamento de evangelizadores via internet, colherá bons resultados evangelísticos.

Conte uma ou duas experiências marcantes de evangelismo pela web.

Giovana Rocha, advogada de 27 anos de idade, havia feito quatro cursos bíblicos via internet oferecidos pelo site www.bibliaonline.net, e em cada um dos cursos solicitou visita. Ao ser visitada pelos colaboradores do site, na semana seguinte começou a frequentar a Igreja Adventista Central Paulistana, e, cinco meses depois, foi batizada.

A dedicação dos colaboradores voluntários tem sido significativa nas decisões por Cristo. Marta Cristina de Castro Reis cadastrou-se como visitadora ao site www.bibliaonline.net em 2007. Nesse mesmo ano, teve a oportunidade de visitar uma pessoa na cidade de Cachoeira Paulista, SP, que havia solicitado visita após assistir a TV Novo Tempo. Marta visitou Maria de Lourdes, estudou a Bíblia com ela e, posteriormente, Maria foi batizada.

Histórias como essas ilustram o modo como a internet tem contribuído para o batismo de diversas pessoas. Certamente, muitas outras pessoas foram beneficiadas e nada soubemos de suas histórias. Os relatos que chegaram até nós, entretanto, nos permitem perceber o potencial que o meio internético representa para a pregação do evangelho.

Diversos meios de comunicação semeiam a mensagem do evangelho. A internet é o veículo ideal para a colheita do que foi semeado por diversas fontes, pois permite a identificação das pessoas interessadas e facilita o atendimento a elas.

quinta-feira, setembro 03, 2009

Pastor adventista fala sobre criacionismo na Univille

Douglas Reis nasceu em Guarulhos, SP, em 1981. É formado em Teologia pelo Unasp, campus Engenheiro Coelho, em 2002. Depois de um período como obreiro bíblico em Juiz de Fora, MG, São Luís, MA, e em São Paulo, casou-se (em janeiro de 2006) com Noribel Kirsch de Oliveira Reis (formada em Pedagogia também pelo Unasp). O casal foi chamado para Corumbá, MS, onde o pastor Douglas trabalhou como capelão do colégio adventista da cidade. Ainda em 2006, foram chamados para Itajaí, SC, onde ficaram até o ano passado. Em 2009, o pastor Douglas assumiu a capelania do Colégio Adventista de Joinville – unidade Saguaçu (CAJ). Mantem o blog Questão de Confiança e tem um livro a ser lançado pela Casa Publicadora Brasileira – Enfraquecido Pela Visão. Nesta entrevista concedida a Michelson Borges ele fala sobre a palestra que apresentou na Univille:

Como surgiu a oportunidade de falar sobre criacionismo no campus da Univille?

A princípio, a universidade havia convidado um palestrante de São Paulo para representar o criacionismo em um debate, durante os eventos em comemoração ao Dia do Biólogo. Uma vez que não conseguiram confirmar com ele, buscaram junto à educação adventista um representante do criacionismo. Pela proximidade de nossa unidade escolar com a Univille, foi-me feito o convite.

As palestras eram alusivas ao Dia do Biólogo. Como não biólogo, você preferiu falar sobre as cosmovisões que sustentam os modelos que tratam das origens. Por que resolveu ir por esse caminho?

Rubem Alves diz que a ciência moderna é uma deformação do senso comum. Essa é uma afirmação contundente, mas nos ajuda a pensar que, de alguma maneira, a concepção atual de fazer ciência não reflete o objetivo inicial dos primeiros cientistas, os quais buscavam uma forma unificada de conhecimento, sem descartar outras áreas do saber na busca de respostas para suas indagações. Acho oportuno refletir sobre nossas práticas científicas, questionando as motivações e verificando se as evidências favorecem nossa visão de mundo, ou se nos forçam a alterar a cosmovisão que abraçamos.

Por que intitulou sua palestra de “Evolução, criação e o making-off da ciência”? Que “making-off” é esse?

O objetivo era retomar contribuições da filosofia humanista à ciência, bem como ressaltar o impulso que o cristianismo deu à pesquisa científica. Quando falo de Humanismo, valho-me da classificação que Oss Guinnes usa em seu The Dust of Death, quando fala de três períodos humanistas: na Grécia antiga, na Renascença e durante o Iluminismo. Certamente, muito do aspecto antirreligioso que determinados cientistas apresentam se deve ao Iluminismo. As visões de mundo teísta e humanista formam um substrato, o qual precisa ser levado em conta, a fim de entendermos o modus operandi da ciência moderna. Conhecer os bastidores filosóficos da ciência ajuda a redefinir seu potencial e sua limitação.

Você falou sobre as contribuições do cristianismo para a ciência. Que contribuições foram essas?

O estudioso Paolo Rossi ressalta que a Reforma deu um aspecto redentivo à cultura; outros autores se referem ao “mandato cultural”, a ordem divina para criarmos cultura. Sob o impulso da Reforma, não só as ciências, mas as artes plásticas, a música, a filosofia e outras áreas da cultura ganharam um sopro de vida.

Especialmente no que se refere às ciências, a noção de um Deus que criou o Mundo, mas que não faz parte do mundo, desmistificou a natureza; se o mesmo Deus originalmente ordenara que o homem cuidasse da natureza, o que faz parte do conceito de mordomia cristã, conhecer a natureza e explorá-la era uma forma de cumprir essa ordem (como o filósofo elizabetano Francis Bacon frizava). Além dos fatores já citados, se Deus era definido pela Teologia como um Ser racional e o homem, por ser à imagem de Deus, possui racionalidade, entendia-se que a criação poderia ser compreendida racionalmente. Essas e outras proposições cristãs foram fundamentais para o desenvolvimento da ciência moderna.

Por isso você afirma que religião e ciência não são excludentes.

Sim. Os primeiros cientistas eram majoritariamente cristãos. Stephen Hawking, em livro recentemente lançado no Brasil, fala dos maiores cientistas de todos os tempos – e dentre os cientistas sobre os quais Hawking escreve, apenas Einstein não é propriamente um cristão (embora acreditasse em algum tipo de misticismo panteísta). Ainda hoje, cristãos continuam contribuindo com diversos ramos da atividade científica. Não há desarmonia entre religião e ciência, apenas entre religião cristã e ciência naturalista.

Você tratou das insuficiências do darwinismo? Quais mencionou?

O darwinismo possui um componente filosófico, o naturalismo filosófico. Essa visão de mundo encara o mundo físico como uma caixa fechada, sem a intervenção de nada externo (ou seja, sobrenatural). Isso traz problemas para determinar as origens da vida, por exemplo. Afinal, na melhor das hipóteses, a seleção natural explicaria o desenvolvimento de novas espécies a partir de outras espécies (coisa que, efetivamente, ninguém conseguiu provar exaustivamente); ainda assim, como explicar o surgimento da primeira vida?

A evolução não explica a chamada sintonia fina do Universo – ou seja, o ajuste perfeito das leis físicas, que tornam possível a vida humana. Uma leve modificação na gravidade ou na posição do planeta Terra em relação ao Sol, e não haveria vida como a conhecemos. Será que o equilíbrio delicado nas leis físicas, o qual surpreende os estudiosos, é resultado de mero acaso?

No campo epistemológico, o darwinismo inspira menos confiança ainda. Darwin expressou, em carta datada de 3 de julho de 1881, a desconfiança em relação à mente humana, sendo que esta descendia da mente de animais inferiores. Assim, não se pode conhecer nada, porque nossa razão não é confiável! Também caem por terra as bases morais da humanidade (não existem mais categorias como “certo” ou “errado”, pois tudo se torna “natural”, fruto de um determinismo biológico).

Fale um pouco a respeito da palestra de Marcos Ribeiro Balieiro, doutorando em Filosofia pela USP, convidado para defender o darwinismo.

Antes, preciso ressaltar que, embora fosse um debate, o clima foi de respeito amistoso. Marcos Ribeiro argumentou que, com o início do método científico (Bacon), com a ideia posterior de falseabilidade (Karl Popper) e o trabalho de Thomas Khun (A Estrutura das Revoluções Científicas), houve um desenvolvimento que descartou a concepção teísta. Após sua fala, vi-me forçado a lembrá-lo de que Bacon era um criacionista! Não só ele, evidentemente, mas muitos dos que ajudaram a construir a metodologia científica moderna também o eram. Entre eles, podemos citar Newton, Kepler, Pascal, entre outros. A argumentação é uma falácia genética – ainda mais porque, antes de Darwin, o filósofo Hebert Spencer já cunhava conceitos caros ao evolucionismo, como o conceito da “sobrevivência do mais apto” e de uma “gradual perfectibilidade dos seres vivos”. A mudança de paradigma se deveu mais a questões de preferência filosófica do que propriamente de evidências em sentido contrário.

Qual foi a reação do auditório às palestras?

A princípio, ficaram ressabiados a respeito do criacionismo; depois, boa parte dos alunos da faculdade que estavam presentes mostrou-se interessada em saber mais sobre o assunto.

Na seção de perguntas, quais mais lhe chamaram a atenção e por quê?

As perguntas iniciais do público se dirigiram a mim, uma vez que defendia a posição com a qual eles tinham menos familiaridade. Fui questionado sobre meus motivos para confiar na Bíblia, uma vez que, supostamente, diversas teriam sido as alterações (e adulterações) efetuadas no texto bíblico. Respondi que havia vários motivos para se confiar nas Escrituras, sendo um deles a descoberta dos pergaminhos do Mar Morto (a partir de 1947, em Qumran). As 11 cavernas continham manuscritos da comunidade judaica conhecida como essênios. As cavernas mais importantes, 1, 4 e 11, guardavam manuscritos bíblicos mil anos mais antigos do que os que havia disponíveis na época. Apesar de pertencerem a épocas distantes, os manuscritos não tinham diferenças essenciais significativas. Normam Geisler afirma que o texto bíblico que temos hoje possui mais de 99% de confiabilidade.

Também fui inquirido sobre a possibilidade de o criacionismo sofrer mudanças ou se ele estava fadado à estagnação. Nesse ponto, pude diferenciar as formas de se encarar ciência de suas bases epistemológicas. Tanto o criacionismo quanto o evolucionismo trabalham com hipóteses, levantamento de dados, aquisição de conhecimento, etc. Mas suas bases filosóficas não mudam. Citei que uma mudança que o criacionismo sofreu se deveu justamente à seleção natural - sabe-se hoje que os organismos podem apresentar pequenas mudanças (chamadas por alguns de microevolução), embora tais mudanças não gerem modificações tão profundas. A aceitação da seleção natural (de forma restrita) revela que o criacionismo, enquanto prática científica, pode e continuará a crescer, embora a base teísta-cristã não sofra alteração. O mesmo se pode afirmar sobre o naturalismo filosófico por trás do evolucionismo - ele não muda enquanto “crença”.

Em sua opinião, como o criacionismo deve ser apresentado nos campi seculares?

Acredito que a promoção de debates e o diálogo entre correntes diferentes de pensamento correspondem a oportunidades para que pessoas de mente aberta pesem as evidências por si mesmas, considerando qual posição aponta o melhor caminho. Para isto, mais cristãos, em diversas áreas, precisam se engajar e adquirir treinamento em apologia, a fim de apresentar “a razão de sua fé”, mas com “mansidão e temor” (1Pe 3:15).

No encerramento do debate, o moderador Tascísio Possamai (geólogo da Univille) disse que as portas da universidade estariam abertas para que adventistas participassem de debates futuros. A que você atribui essa abertura?

Ao poder de Deus. Minha esposa, Noribel, e a professora Odete Pasold, diretora do CAJ, estavam presentes e oraram o tempo todo. No fim de semana anterior, eu havia jejuado pelo assunto. Também no dia sofri de forte crise renal e estive durante algumas horas hospitalizado. A todo instante, Deus estava me dizendo que não seria pelo meu poder ou conhecimento, mas pela influência da Pessoa de Seu Espírito que as pessoas entenderiam algo sobre Ele. Este é o trabalho da apologia, no dizer de alguns estudiosos cristãos: ela não converte, mas funciona como catalisador, removendo barreiras de preconceito e antagonismo, para que o Espírito Santo trabalhe com a mente das pessoas.

domingo, julho 26, 2009

Entrevista para o Correio Braziliense

No fim do mês de junho, o jornalista Michelson Borges concedeu esta entrevista ao jornal Correio Braziliense (leia também a reportagem aqui):

Quais são as principais ideias e linha de pensamento do criacionismo?

O criacionismo bíblico é uma associação coerente entre a ciência experimental e a religião bíblica. Seu objetivo é entender a realidade, especialmente no que diz respeito à origem e destino do Universo e da vida. Outras linhas de pensamento, como o darwinismo, também se valem desse tipo de associação, neste caso, entre a ciência e o naturalismo filosófico. Assim, ambos os modelos têm um componente científico e outro metafísico. Qualquer paradigma que busca compreender eventos passados únicos e irreproduzíveis (cientificamente não testáveis ou não falseáveis), utilizará, necessariamente, argumentos científicos e metafísicos na construção de modelos. Portanto, nenhum desses paradigmas deveria ser traduzido como uma teoria puramente científica (ou seja, um conjunto conciso de afirmações que explicam um conjunto abrangente de fenômenos). Da mesma forma, o evolucionismo não deveria ser confundido com filosofia (ou naturalismo filosófico), bem como o criacionismo não seria sinônimo de religião (ou conhecimento bíblico).

A discussão entre criacionismo e evolucionismo é antiga. Por que para a sociedade científica é tão difícil aceitar as ideias criacionistas?

Justamente porque muitos consideram o criacionismo como um modelo apenas religioso, sem levar em conta seu aspecto científico. Portanto, muito dessa rejeição aos criacionistas tem origem no preconceito. Criacionistas, embora reconheçam a Bíblia Sagrada como fonte de princípios morais e de respostas satisfatórias para as perguntas fundamentais da humanidade, também fazem boa ciência e se pautam pelo método científico. Dentre os vários cientistas criacionistas atuais que fazem pesquisas relevantes, podem-se destacar dois biólogos norte-americanos: Leonard Brand e Harold Coffin. Ambos têm artigos publicados nos mais prestigiados periódicos científicos, respectivamente, sobre baleias fossilizadas da Formação Pisco (Peru) e sobre as florestas petrificadas de Yellowstone (EUA). No Brasil, destaca-se o químico e professor da Unicamp, Dr. Marcos Eberlin, que dirige o Laboratório Thomson de espectrometria de massas, é membro da Academia Brasileira de Ciências e o terceiro cientista brasileiro mais citado em publicações científicas de renome. Para eles, é possível fazer boa ciência e defender o criacionismo bíblico.

A “sociedade científica”, como quaisquer outras sociedades, é fruto de seu meio cultural e é influenciada por ele. Após o Iluminismo, o mundo ocidental assistiu a uma crescente rejeição à religião institucionalizada. Mas isso nem sempre foi assim. Cientistas do quilate de Galileu e Newton não apenas ajudaram a criar o método científico, como eram profundamente religiosos. Newton e Pascal estudavam avidamente as Escrituras e não viam incompatibilidade alguma entre ciência e religião. Os criacionistas de hoje se consideram em boa companhia.

A teoria da evolução descrita por Darwin é realmente possível? Ela pode ser complementada pela teoria da criação?

Pode-se dizer que Darwin acertou no varejo, mas errou no atacado. Traduzindo, ele teve o brilhante insight da seleção natural, que é capaz de promover a microevolução, ou variação de baixo nível. Mas a macroevolução – o conceito de que todos os seres vivos se originaram de um único ancestral comum – se trata de extrapolação não confirmada pelos fatos.

Simpatizantes do modelo criacionista que tenham tido formação acadêmica entendem a importância da teoria da evolução e reconhecem a contribuição dada por Darwin à comunidade científica. Há aspectos no evolucionismo fundamentados, os quais são úteis para a compreensão de muitos fenômenos naturais, assim como para a interpretação de dados. A esses aspectos nenhum criacionista que tenha formação científica se opõe. Porém, como em toda teoria, há alguns pontos no evolucionismo que não são sustentáveis e devem ser questionados.

Por exemplo: a teoria da evolução não consegue explicar a origem da vida por processos naturais, a partir de matéria não viva; também não consegue explicar a origem da informação genética de sistemas irredutivelmente complexos; não consegue explicar o aumento de complexidade que teria acontecido nos organismos durante o processo evolutivo, ou seja, não consegue explicar a origem de novos órgãos, sistemas de órgãos e novos planos corporais. Em relação ao registro fóssil, a teoria da evolução não consegue explicar a Explosão Cambriana (surgimento repentino de formas de vida complexas no registro fóssil); e também não consegue explicar a falta de formas de transição entre os principais grupos de organismos.

Você acredita que seja possível misturar as crenças religiosas nas pesquisas científicas sobre a criação do mundo?

Não creio que seja interessante misturar crença com pesquisa científica. A ciência deve continuar funcionando à luz do naturalismo metodológico (que é bem diferente do naturalismo filosófico). Mas a Bíblia bem poderia fornecer algumas linhas de pesquisa, especialmente quando se percebe que o paradigma darwinista encontra limitações, insuficiências e becos sem saída. Por exemplo: quando os geólogos se deparam com as vastas camadas da coluna geológica observadas no Grand Canyon, que supostamente estiveram expostas cada uma a muitos milhares de anos, e não encontram nelas vestígios de erosão, deveriam ter a liberdade de racionar sob as premissas de outro modelo. O que aqueles estratos plano-paralelos indicam? Uma superposição rápida e catastrófica de sedimentos. Bem, a Bíblia sugere um tal cenário ao falar do dilúvio.

Outro exemplo: a biologia darwinista não consegue explicar a origem da informação complexa especificada presente no DNA. Mas, para o criacionista, que também pesquisa e estuda essa maravilhosa complexidade, o enigma é simples: informação pressupõe uma fonte informante inteligente e muito poderosa.

Portanto, o verdadeiro embate entre as argumentações evolucionistas e criacionistas está centrado na existência ou não de planejamento e intenção nas coisas existentes. Dentro desses limites, a discussão poderia ser puramente científica. Enquanto o evolucionismo defende a ideia de acaso e aleatoriedade, buscando explicar a vida como o resultado de causas puramente naturais, o criacionismo defende a ideia de propósito e planejamento, buscando explicar a vida como resultado da ação criadora de um Deus que ainda hoje se relaciona com o ápice de sua criação: o ser humano.

Por que você decidiu criar um blog sobre o assunto?

Porque me dei conta de que, de modo quase geral, a grande imprensa não tem tratado do assunto com o mínimo de neutralidade que seria esperado. Alguns veículos já classificaram os criacionistas como “aniti-intelectuais”, “obscuros”, “esquizofrênicos” e até “criminosos”! As pessoas que leem essas matérias e não procuram aprofundamento em livros e outras publicações criacionistas terão uma visão muito distorcida do criacionismo.

Criei o criacionismo.com.br como jornalista preocupado em mostrar o “outro lado da moeda” e levar a público uma discussão que muitas vezes fica restrita aos círculos acadêmicos. Amo a ciência, amo o jornalismo e amo o meu Criador. Era o mínimo que eu podia fazer pelos três.

segunda-feira, julho 13, 2009

No compasso certo

Bartolomeu Rodrigues Lima, 44 anos, é natural de Maragogipe, BA, e estuda Música no Centro Universitário Adventista de São Paulo, campus Engenheiro Coelho. No intervalo de seu trabalho como segurança do colégio, concedeu esta entrevista a Michelson Borges e falou sobre o milagre que Deus operou em sua vida.

Como teve início sua carreira musical?

Aos 18 anos, comecei a tocar nas igrejas católicas de minha cidade, em um grupo de jovens. Eu não era católico praticante; ia à igreja mais pela música. Depois, fui chamado para tocar contrabaixo no Trio da Prefeitura de Maragogipe. Após algum tempo nesse trio, recebi convite para tocar na cidade de Feira de Santana, como guitarrista de uma banda que se apresentava em bailes. Permaneci nessa banda por aproximadamente três anos. Lá, a gente tocava de tudo: de Michael Jackson a samba!

A seguir, voltei para Maragogipe, onde passei a tocar noutra banda. Sempre tive vontade de tocar nessa banda porque ela era formada por bons músicos e tinha instrumentos de qualidade.

Nessa época, passamos a viajar muito pelo Brasil, fazendo shows e apresentações em programas de TV. Toquei com vários artistas, como Beto Barbosa, Netinho, Ricardo Chaves e outros.

E foi assim o início da minha carreira musical.

Que instrumentos você toca?

Contrabaixo, guitarra, violão (que é o meu forte) e bandolim. Além disso, gosto de compor e fazer arranjos.

Como seu gosto pela música foi despertado?

Meu gosto pela música começou por volta dos 15 anos. Lembro que minha babá tinha um sobrinho chamado Jorge, que tocava violão. Eu aproveitava os “cochilos” dela para pegar o violão do Jorge e tocar. Foi assim que tive o interesse despertado pela música.

Isso é realmente coisa de Deus, porque nunca tive professor de música. Aprendi a tocar apenas observando os músicos. Hoje, procuro adquirir os conhecimentos teóricos, e Deus está me dando a oportunidade de estudar no curso de Música no Unasp.

Como foi sua vida no mundo dos shows e espetáculos?

Certo dia, logo que comecei a tocar e viajar, tive o desprazer de experimentar maconha. Experimentei e gostei. Infelizmente, o consumo de drogas é muito comum no meio artístico.

Depois disso, saí do grupo na Bahia e fui para o Rio de Janeiro. Houve um desentendimento no grupo, que resultou na minha saída. Foi muito desagradável, porque essa era a minha fonte de renda. Na mesma época, perdi a namorada. Então, meu mundo realmente desabou!

Em 1993, me convidaram para ir ao Rio de Janeiro fazer uma excursão musical com um grupo de Castro Alves, Bahia. Fizemos essa turnê, mas nosso empresário, que era muito esperto, nos “passou a perna”. Então, o grupo resolveu voltar para a Bahia. Mas decidi ficar porque não queria rever minha ex-namorada. Eu ainda gostava dela.

No Rio, sua experiência com as drogas foi ainda pior?

Sim. Eu estava lá, sem dinheiro e sem instrumento musical. O pessoal da banda havia retornado para a Bahia me deixando naquela situação, porque eles não tinham condições de me pagar.

Como não tinha instrumento, um rapaz, que nem me conhecia, me emprestou um violão. Então, passei a tocar MPB em barzinhos, fazendo voz e violão. Depois de dois meses, devolvi o violão ao rapaz e peguei outro emprestado com um professor de teatro de Vassouras, RJ. Graças a esse instrumento, consegui comprar um violão importado, o mesmo que está comigo até hoje.

Toquei em Vassouras por seis anos. Depois, fui para a cidade de Miguel Pereira, onde passei a morar e tocar em um hotel. Lá, as coisas começaram a melhorar, financeiramente. Então, além da maconha, passei a consumir cocaína. Por duas ou três vezes, passei tão mal que pensei que fosse morrer. Eu usava drogas mais para acompanhar os amigos.

Como Deus começou a chamá-lo para fora dessa vida?

Na Bahia, tive uma namorada evangélica. Ela se chama Rosângela e há aproximadamente sete anos se tornou adventista. Certo dia, quando já era adventista, Rosângela sonhou que eu estava muito mal. A irmã dela, quando soube do sonho, disse que ela deveria me procurar e falar de Jesus para mim.

Um tempo depois, Rosângela me encontrou no Rio de Janeiro, guiada pela oração. Ela orou a Deus pedindo que a ajudasse a me encontrar. E assim foi feito!

Rosângela ligou para mim, no hotel, para contar o sonho. Ela disse que eu devia procurar urgentemente uma igreja, pois Satanás queria tirar minha vida. Mas eu não deveria ir para qualquer igreja, e sim para a Igreja Adventista. Eu ainda não conhecia a Igreja Adventista, mas Rosângela já havia se informado sobre o lugar em que havia um templo perto de onde eu morava.

Antes de ir para a Igreja Adventista, eu já havia sido batizado na Igreja Universal, já tinha participado da Igreja Metodista e havia ido algumas vezes à Assembleia de Deus. Quando voltava dos cultos, eu costumava chorar em meu quarto. Lia a Bíblia e chorava, dizendo para Deus que não queria mais aquela vida para mim. Certamente, o Espírito Santo de Deus já estava me impressionando.

Apesar da realização profissional e financeira, eu não era feliz. Mesmo quando frequentava essas igrejas, não havia mudanças em minha vida. Continuava bebendo, usando drogas, etc. E o vazio interior só aumentava.

Rosângela também me escreveu uma carta, dizendo que eu corria risco de morte, mas que Deus havia falado para ela que não ia deixar Satanás tirar minha vida, pois eu pertencia a Ele.

Depois desse apelo, fui visitar a Igreja Adventista de Paty do Alferes, que fica a alguns minutos da cidade de Miguel Pereira, RJ. Logo percebi que se tratava de uma igreja diferente, pois as pessoas não gritavam, não se atiravam ao chão. Aquele lugar havia me impressionado.

Comecei a frequentar aquela igreja. Certo dia, perguntei a uma irmã, chamada Hilda, se eu poderia tocar violão na hora do louvor. Ela amavelmente me disse que eu não poderia tocar porque ainda não era batizado. Então, eu disse a ela que um dia iria tocar lá na igreja.

O tempo passou, a irmã Hilda foi para o Japão dizendo que iria orar por mim. E, quando ela voltou, eu já estava batizado. Ao me ver, ela chorou de emoção!

Foi difícil abandonar os vícios?

Enquanto fazia estudos bíblicos, antes de ser batizado, Deus tirou de mim toda a vontade que eu tinha de consumir drogas. Depois de ter ido à igreja por duas ou três vezes, naturalmente parei de beber, de fumar cigarro e maconha.

Então, o pastor achou que eu já tinha condições de ser batizado. Meu batismo foi no dia 5 de maio de 2007.

E sua vida profissional?

Primeiramente, tive que abrir mão de parte da minha renda por não mais trabalhar aos sábados. Depois, tive que parar definitivamente de tocar em barzinhos, pois percebi a incompatibilidade disso com a vida cristã. Então, as coisas começaram a ficar difíceis. Foi então que um amigo que conhecia a professora Ana Schäeffer, do Unasp, perguntou se ela não poderia abrir um espaço para eu tocar no colégio. Ela me convidou para fazer uma apresentação durante a Semana de Letras.

Com o apoio financeiro dos irmãos da igreja de Miguel Pereira, fui para o Unasp fazer minha apresentação. Permaneci no colégio por uma semana e gostei muito do lugar.

Percebendo meu interesse, a professora Ana se prontificou a falar com o pastor Paulo Martini, diretor da instituição, para ver se ele poderia conseguir algum trabalho a fim de que eu pudesse custear os estudos no colégio. Mas isso era bem difícil, pois havia muitas pessoas na fila buscando uma vaga.

No entanto, eu sabia que, se fosse da vontade de Deus que eu estudasse no colégio, Ele iria providenciar todos os recursos para que isso acontecesse. Ele prepararia o caminho.

Voltei para o Rio de Janeiro e, algum tempo depois, o Unasp me chamou para trabalhar como um dos seguranças no colégio. O salário não é como na época em que eu tocava, mas o pouco que ganho é abençoado. Antes, o que eu ganhava não era suficiente para pagar as contas. Agora, graças a Deus, consigo manter as finanças sob controle.

Como está sua vida hoje? Aquele vazio interior que você sentia já foi preenchido?

Agora é só paz e amor! Estou tranquilo, com o coração sossegado. A única coisa que me preocupa é melhorar minha vida espiritual, minha conduta. Oro para que Deus me transforme.

Agora, para mim, música só em louvor a Deus! Em meu coração, sinto que não posso mais abandonar meu Senhor Jesus Cristo. O que Ele fez por mim não tem preço. Ele me tirou da lama e da miséria em que eu vivia. Posso ver o quanto Jesus me ama!

Hoje, como você vê a música secular? Você acha que ela afasta de Deus o cristão?

Com certeza! Existem algumas músicas que até nos passam uma mensagem bonita; elas podem não falar exatamente de Deus, mas também não nos trazem pensamentos ruins. Mesmo assim, a música é um instrumento muito forte nas mãos de Satanás. Ele a usa para desvirtuar as pessoas. É triste ver isso acontecendo mesmo dentro da nossa igreja. Temos que tomar muito cuidado com o louvor que vamos apresentar a Deus. Nosso louvor é para o Deus Todo-poderoso. Temos que oferecer o melhor para Ele, porque Ele sempre faz o melhor por nós.

Em sua opinião, qual é a melhor música para se oferecer a Deus?

Temos que buscar aquilo que é mais tradicional da igreja, especialmente os hinos do Hinário Adventista. Devemos oferecer a Deus um louvor mais suave, sem gritaria. Ellen White diz que nosso louvor deve ser para adorar a Deus, e não para satisfazer nosso ego.

Hoje, na igreja, vemos pessoas gritando demais, usando ritmos mundanos. Devemos cantar com mais simplicidade e reverência.

Quais são seus planos para o futuro?

Na verdade, não tenho muita preocupação com relação ao futuro. Minha única preocupação é estar ligado a Jesus Cristo dia a dia, fazendo sempre o meu melhor para Ele, ajudando as pessoas naquilo que eu puder, cumprindo a vontade de Jesus. Quero que meu futuro corresponda às expectativas de Deus para minha vida.

quarta-feira, junho 17, 2009

Jornalista criacionista

O jornalista Michelson Borges concedeu esta entrevista à aluna de jornalismo Ana Manoela Reis Rios, do Centro Universitário Adventista (Unasp), campus Engenheiro Coelho:

Na sua infância você tinha algum sonho, que hoje realizou?

Sempre sonhei em trabalhar como desenhista ou escritor. De certa forma, pude ver realizados ambos os desejos. Um sonho que não realizei foi o de ser cientista. No entanto, como divulgador de assuntos científicos por conta do ministério criacionista, também me sinto realizado.

Você já escreveu vários livros para crianças. De onde partiu esse desejo?

Quando descobri o criacionismo, já era jovem e cursava o ensino médio. Fiquei muito chateado e me senti lesado ao perceber que minha educação havia sido unilateral. De repente, me dei conta de que havia passado por um verdadeiro processo de lavagem cerebral, um tipo de doutrinação darwinista (embora tenha certeza de que muitos de meus bons professores nem soubessem disso). No curso de Química, ouvi a respeito da síntese de aminoácidos e do “surgimento” da vida. Quando comecei a estudar mais a fundo o criacionismo, notei que havia inconsistência no modelo evolucionista. Mas ninguém mais percebia isso, pois o edifício conceitual já lhes havia sido construído na mente. Ninguém mais questionava o “fato” da evolução e da geração espontânea. Por isso resolvi escrever. O livro infantil que mais me agradou produzir com essa temática foi o “Se Deus Fez, Se Deus Não Fez”, que procura mostrar os dois lados da moeda. O que a criança vai ser quando crescer é uma questão de escolha dela, mas, pelo menos, que ela tenha contato com essas duas visões de mundo para que um dia tome sua decisão.

Desde quando você é adventista? Em algum momento você já sentiu vontade de sair da igreja?

Fui batizado em dezembro de 1991, mas comecei a estudar a Bíblia com um jovem adventista cerca de dois anos antes. Eu era católico praticante. Fazia palestras para freiras, tomava parte em eventos diocesanos e liderava grupos de jovens. Cheguei a fazer estágio em um seminário para amadurecer a ideia de ser padre (esse era o sonho da minha mãe que agora sonha em me ver pastor...). Minha mudança não foi fácil. Relutei muito, estudei outras religiões nesses dois anos e enfrentei muitas barreiras. Mas, quando me tornei adventista, sabia exatamente o que estava fazendo. Por isso, nunca me passou pela cabeça a ideia de deixar a igreja, porque nunca pensei em abandonar o Senhor desta igreja.

Li vários artigos publicados por você, sobre família, inclusive num blog seu com sua esposa. Como a família cristã pode vencer as dificuldades colocadas pela mídia no século 21?

Tendo o mínimo de contato com essa mídia. Pode parecer um contrassenso ouvir isso de um jornalista. Pode até mesmo parecer meio alienante. Mas como a pergunta se refere à família, creio que essa seja a melhor postura. Para você ter uma ideia, minhas filhas (uma tem sete anos e a outra tem três) praticamente desconhecem a programação dos canais abertos e não temos TV paga. Selecionamos muito bem os DVDs que elas assistem, monitoramos o acesso à internet e temos certeza de que elas não perdem nada com isso; muito pelo contrário. Ambas desenham muito bem e a mais velha tem até um blog (www.giovannaborges.com). Foi ela que me pediu para ser blogueira, aos seis anos, e foi ela quem estabeleceu o alvo de escrever um texto por semana. Quem me dera ter perdido menos tempo com desenhos animados e histórias em quadrinhos para me dedicar a ler bons livros e a escrever, como faz minha filha. Além de tudo isso, o tempo que não perdemos com a TV, por exemplo, podemos dedicar a brincadeiras em família e ao culto familiar, todas as noites. Fico muito feliz ao vê-las cantar com entusiasmo e ouvir as histórias bíblicas com atenção. Esse interesse não é fruto do acaso. Um dia elas terão tempo e necessidade de estar mais informadas por meio da mídia. Quando isso acontecer, o caráter delas estará devidamente bem formado e elas terão condições de fazer escolhas sábias, escolhendo as pedras preciosas em meio a tanto lixo.

Onde você estudou para se formar jornalista? Era uma faculdade secular? Como você enfrentava as barreiras com os colegas e professores?

Formei-me pela Universidade Federal de Santa Catarina. O secularismo era tão forte que, como jovem recém-convertido, até pensei em trancar a matrícula para cursar teologia. Mas fui incentivado a continuar no curso, dando o meu testemunho. Entendi que deveria ser amigo de todos, se quisesse que eles apreciassem meu estilo de vida. Então passei a orar para que Deus me ajudasse a ver a linha de demarcação entre amizades e princípios – até onde eu poderia ir sem transgredi-los. E a experiência foi muito boa. Fiz boas amizades. Dei estudos bíblicos para colegas e até consegui fazer um trabalho de conclusão envolvendo a história da Igreja Adventista no Brasil; uma grande reportagem que acabou publicada pela CPB com o título “A Chegada do Adventismo ao Brasil”.

Todos o conhecem por ser um jornalista criacionista. Qual é sua visão para defender essa teoria, quando muitos são evolucionistas?

Conheço bem o ônus de ter assumido essa posição. Mais do que em anos passados, ser criacionista hoje é ser visto como retrógrado, anticientífico, fundamentalista e outros adjetivos nem um pouco amigáveis. Mas o jornalista, embora jamais consiga ser imparcial, deve ser honesto primeiramente consigo mesmo. Por isso, o que falo e escrevo sobre o assunto é feito com honestidade. É fruto de minha busca pessoal. Sou criacionista e jamais vou esconder isso por conveniência.

Seu mestrado é em Teologia. Você já pensou em exercer a função pastoral numa igreja convencional?

Tenho bem claro que meu “púlpito” é a internet, são os livros e demais impressos. Mas sempre tive muito carinho pelas atividades na igreja, tanto que sou ancião de igreja há vários anos, sempre procuro dar estudos bíblicos para pessoas interessadas em conhecer melhor a Palavra de Deus e gosto muito de pregar e apresentar palestras. Mas, como sou obreiro na causa de Deus, estou aqui para servir e ir aonde Ele me enviar.

Como você vê a participação dos membros da igreja quando o assunto é criacionismo. Eles estão preparados, ou nem se importam com esse assunto?

Creio que o interesse tem crescido, até porque esta época demanda isso dos adventistas. Nunca antes houve tanta discussão em torno das origens. Volta e meia aparece uma revista ou é veiculada uma reportagem na TV tratando da controvérsia entre o criacionismo e o darwinismo. Cedo ou tarde, alguém vai perguntar ao adventista por que ele acredita que o relato dos primeiros capítulos de Gênesis é real e não alegórico; por que ele acredita no dilúvio; e como pode ter certeza de que a macroevolução não é um fato. Afinal, por que guarda o sábado, se a Criação segundo a Bíblia não é factual? O que lamento é que muitos de nossos irmãos ainda desconhecem os rudimentos da ciência e, às vezes, se atrevem a fazer afirmações que apenas denigrem a imagem dos criacionistas. A regra deveria ser: se sabe do assunto, não se acanhe; se não sabe, vá estudar.

Qual é a relevância desse assunto para a salvação pessoal?

Ninguém deixará de ser salvo porque não entende de datação radiométrica, complexidade irredutível, ou porque não sabe que a explosão cambriana e os trilobitas podem ser explorados como bom argumento criacionista. A salvação consiste numa relação íntima com Jesus e na aceitação dos méritos dEle pela fé. Mas as evidências podem ajudar a fortalecer a fé e podem abrir os olhos de pessoas cuja mente é mais inquiridora. Dessa forma, a biologia, a geologia e outras áreas do saber podem acabar levando a pessoa ao Criador de todo o conhecimento.

No livro “Nos Bastidores da Mídia”, você escreve de forma bem expressiva, e fala sobre como desmascarar as ciladas de Satanás. Como que foi para reunir todas essas ideias e colocá-las em ordem?

Na verdade, o livro nasceu de algumas palestras que eu ministrava em igrejas e escolas. Ao fim dessas apresentações, algumas pessoas me perguntavam se eu tinha algo publicado sobre o assunto e me dei conta de que um livro assim era necessário. Eu já tinha praticamente todo o material como fruto de pesquisas de quase dez anos. O trabalho para o livro consistiu em organizar tudo isso.

Em sua opinião, como esses meios manipulam as pessoas?

Principalmente por meio da repetição. Goebbels já dizia que “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. É isso o que a mídia faz. Ela martela nossas convicções até conseguir abrir uma fresta que, com o tempo, se transforma numa brecha. Por isso é tão difícil falar sobre criacionismo, ressurreição e mortalidade da alma, pureza mental e física, e por aí vai.

Por que as pessoas preferem ficar diante da TV em vez de ler um bom livro?

Porque não querem se esforçar. É a cultura do menor esforço. Por que ler um livro se a TV, além de mais atraente aos olhos, me entrega o conteúdo “mastigado”? Só que a mente se acostuma com aquilo em que se demora. Que tipo de mente você quer? O tipo esponja que só absorve conteúdos sem entender bem o que recebe (e que, consequentemente, é dominada por outras mentes), ou o tipo cujo discernimento claro o ajuda a entender criticamente a realidade? Nunca nos esqueçamos de que quem não lê, mal ouve, mal fala, mal vê.

Na sua visão, qual é o papel do jornalista criacionista no século 21?

Li na Veja desta semana (17/6/09) entrevista com o grande escritor e jornalista Gay Talese. Segundo ele, “de todas as profissões, se um jovem estiver interessado em honestidade e não estiver interessado em ganhar muito dinheiro, eu aconselharia o jornalismo, que lida com a verdade e tenta disseminar a verdade... Acho uma profissão honrosa, honesta. Tenho orgulho de ser jornalista”. Creio que ele resume bem o papel do jornalista criacionista: o desejo de lidar com a verdade e disseminá-la. Devemos estar mais preocupados em estar do lado da verdade do que em tê-la ao nosso lado. Buscar as evidências e os fatos levem aonde levar. Promover o debate e a divulgação de ideias que mostrem que os criacionistas podem contribuir educadamente nas discussões científicas, porque também estudam e fazem boa ciência. Enfim, se alguém pode ajudar a quebrar o preconceito e mostrar a verdadeira “cara” dos criacionistas, esse é o jornalista.