A origem da vida é a maior incógnita que o homem busca desvendar. A ciência tenta em vão provar suas teorias, que estão repletas de lacunas. As religiões também têm muito a opinar sobre o assunto e conquistam aqueles que possuem fé. Mas ainda não se pode afirmar nada de concreto. Em entrevista à revista teológica do Unasp, Kerygm@, Michelson Borges aborda questões fundamentais sobre o assunto, entre as quais se encontram: a posição da igreja católica em relação ao evolucionismo, as contradições entre as pesquisas científicas e as afirmações bíblicas e também a origem dos dinossauros. Michelson Borges é editor da Casa Publicadora Brasileira, membro da Sociedade Criacionista Brasileira, e tem feito palestras em diversos lugares no Brasil sobre as questões referentes ao evolucionismo e o criacionismo.
Kerygm@ - Qual a sua opinião sobre a posição da igreja católica ao afirmar que a criação e a evolução não são incompatíveis?
Michelson Borges - Essa posição católica se deve à postura liberal dela em relação à Bíblia. Se tida como a Palavra inspirada de Deus, que não se contradiz, a Bíblia não pode concordar com os postulados fundamentais do darwinismo. Se antes de ter havido seres humanos sobre a Terra já havia organismos com ciclo de vida, isso significa que a morte também já existia e, portanto, não foi fruto do pecado. Se a morte é inerente à criação, logo a história do pecado (em decorrência do qual a morte passou a existir) também passa a ser ficção. Consequentemente, a redenção também tem seu sentido esvaziado. Essa postura liberal me parece mais uma tentativa de evitar o debate; é um discurso convenientemente conciliatório.
O papa João Paulo II certa ocasião afirmou que a teoria da evolução é mais do que uma hipótese, pois tem bases científicas. Quais são essas bases? Elas realmente excluem a teoria da evolução do patamar das hipóteses?
A grande contribuição de Darwin foi fornecer uma explicação científica para a diferenciação observada em organismos: a seleção natural. Isso, sim, é científico. Mas a seleção natural, diferentemente do que querem os darwinistas, dá conta apenas da chamada microevolução, ou seja, mudanças limitadas entre tipos de seres vivos em níveis taxonômicos [a palavra deriva de Taxonomia que é a ciência da identificação] também limitados. Já a extrapolação para o passado, como se todos os organismos tivessem derivado de um único ser, é pura especulação, sem base científica. Isso seria a macroevolução. A seleção natural explica bem como os seres vivos sobrevivem nos diversos ambientes, mas não explica como esses seres vivos vieram à existência.
Quais são os métodos que os cientistas usam para determinar a idade da Terra? Eles são confiáveis?
O método mais utilizado é o do decaimento radioativo, com um elemento "pai" e um "filho". Conhecendo-se a taxa/velocidade de decaimento e a quantidade dos elementos "pai" e "filho" na amostra, teoricamente seria possível datar as rochas, por exemplo. Esse é um assunto muito controverso, que exige discussões mais técnicas. Mas, de passagem, o que se pode dizer é que esse processo de decaimento não é assim tão preciso quanto parece. Certos fatores podem acelerar ou retardar esse "relógio". Além disso, pode haver contaminações nas amostras, o que ocasiona discrepâncias significativas no resultado final das datações.
O que se pode afirmar, do ponto de vista criacionista, sobre os fósseis com características de humanos e de macacos?
Volta e meia surge uma notícia dando conta de que a "árvore da evolução humana" foi reestruturada, com certos "hominídeos" sendo rebaixados à condição de macacos, ou promovidos ao status de ancestral humano. Essa é outra área bastante especulativa. Via de regra, ou esses fósseis, geralmente muito incompletos, são simplesmente símios ou se tratam de seres humanos com algum tipo de deformidade física.
E quanto aos homens gigantes que viviam antes do dilúvio, como explicar a ausência de fósseis?
Simplesmente porque estão sendo procurados nos lugares errados. A Bíblia diz que os cadáveres dos antediluvianos foram levados por forte vento, possivelmente até as encostas de montanhas, onde devem ter sido soterrados. Portanto, esses fósseis dificilmente serão encontrados nos desertos da África, onde se concentram as pesquisas. Pena que os paleontólogos, motivados pela visão naturalista e pela teoria de que os seres humanos vieram da África, estejam procurando apenas nessas planícies.
Os dinossauros foram criação divina ou dos antediluvianos?
Sem dúvida, Deus criou os dinossauros "originais", que eram herbívoros e pacíficos, só Deus é Criador. Mas, após o pecado, houve um processo que ocasionou alterações em alguns animais como os dinossauros, os tubarões e os leões, para citar apenas três exemplos; mesmo assim, a maioria dos dinos era herbívora. Creio que, assim como o ser humano faz hoje com os cães, deve ter havido algum tipo de experiência realizada pelos antediluvianos, ou até mesmo pelos anjos caídos, que acabou por ressaltar certas características dos grandes répteis. Impróprios para o mundo pós-diluviano, esses grandes animais acabaram, em sua maioria, sendo extintos pela catástrofe do dilúvio. E a enorme quantidade de fósseis de dinossauros é perfeitamente explicada por esse acontecimento descrito na Bíblia.
"Mas se havia um pecado acima de outros que exigia a destruição da raça pelo dilúvio, era o nefando crime de amalgamação de homem e animal, que desfigurava a imagem de Deus, e causava confusão por toda parte. Era propósito de Deus destruir por um dilúvio aquela poderosa de longeva raça que havia corrompido seus caminhos diante do Senhor." Muitos afirmam que essa declaração de Ellen White sugere que os homens e animais cruzaram gerando outras raças. Essa interpretação está correta?
Na seção "Perguntas", em meu blog (www.criacionismo.com.br), publiquei um extenso estudo sobre "amalgamação". É um texto bastante polêmico. Um grupo defende que a amalgamação era entre animais e animais. Outro diz que poderia ser entre seres humanos e animais. Com os recursos tecnológicos atuais, isso parece até ser possível. Se era naquela época? Não sabemos.
A revista Veja publicou uma matéria sobre a educação adventista, com o título "Graças a Deus e não a Darwin". Algumas das críticas contidas na reportagem diziam que "Falta ainda a essas escolas, no entanto, entender que o criacionismo foi superado pela ciência há mais de um século". Qual sua opinião sobre esta declaração?
A matéria em si me pareceu bastante contraditória num ponto: ao passo que elogia a educação adventista por sua excelência acadêmica, a critica por ensinar o criacionismo. A crítica seria válida se a educação adventista apenas ensinasse o criacionismo, mas não é isso o que ocorre. Ambos os modelos são ensinados ali. Dizer que a ciência superou o criacionismo há mais de um século é quase como dizer que a ciência provou que Deus não existe. Como ferramenta humana, a ciência tem seus limites e é incapaz de afirmar algo sobre o transcendente. O argumento mais básico do criacionismo é filosófico/teológico: Deus criou o Universo. E, como tal, não pode ser provado ou refutado empiricamente.