Controvérsia persistente |
Recentemente,
concedi entrevista ao jornal Nosso Tempo,
do Rio de Janeiro. Considerei as perguntas bastante interessantes e parte das
minhas respostas (numa edição bem feita) foi publicada na edição de maio do
jornal. Mas você, leitor do blog, pode ler aqui a
íntegra das minhas respostas:
Michelson, evocando o eterno embate entre
evolucionistas e criacionistas, acredita-se que o criacionismo apresenta uma
perspectiva essencialmente religiosa, confrontando-se com o evolucionismo. No
entanto, há ainda outra corrente, a do design
inteligente, que parece “intermediária”. Em breves palavras, o que cada teoria
preconiza? O design inteligente contradiz
o que acredita o Criacionismo?
Os
criacionistas não negam que existe um viés teológico-filosófico em sua
cosmovisão, mas os evolucionistas também não podem afirmar que seu modelo seja
inteiramente científico, já que a filosofia por trás do pensamento
evolucionista é o naturalismo filosófico, uma posição assumida a priori e não com base em dados
científicos e experimentação, até porque a hipótese naturalista não pode ser
submetida a qualquer teste. Assim, criacionistas e evolucionistas devem
reconhecer que, embora se pautem pelo método científico, suas respectivas
visões de mundo estão impregnadas de metafísica. Já o design inteligente é uma teoria que visa a detectar evidências de
projeto, de propósito (teleologia) na natureza. Os teóricos do design inteligente, na verdade, estão
mais próximos da ciência empírica do que criacionistas e evolucionistas. Eles
não se preocupam com a natureza do Designer, pois sabem que isso transcende o
método científico; não se valem de ciências históricas nem de hipóteses como a
da macroevolução ou da abiogênese, nem tampouco utilizam livros religiosos. A
teoria do design inteligente não
contradiz em nenhum aspecto o criacionismo, já que os criacionistas também
acreditam na teleologia e procuram igualmente evidências de design inteligente na criação. O que os
criacionistas fazem é ir um passo além ao procurar determinar a identidade do
Designer. Porque acreditam que a Bíblia Sagrada é a suprema revelação de Deus
(e eles têm muitas razões lógicas, racionais e razoáveis para crer nisso), os
criacionistas identificam o Designer como o Deus Yahweh das Escrituras.
Existe a possibilidade de essas teorias
serem combinadas de alguma forma, com os seres vivos criados por Deus, por
exemplo, terem passado por uma evolução (evolucionismo teísta, com a formação
de fósseis intermediários)?
O
criacionista bíblico que aceita na inspiração divina das Escrituras vê no
evolucionismo teísta uma tremenda contradição, mistura de má teologia com má
ciência. O evolucionismo teísta é apenas uma tentativa de fugir do debate.
Conforme indico neste artigo (confira),
criacionismo e macroevolucionismo são uma mistura impossível. Agora, em
“assuntos periféricos” como a “microevolução” (ou diversificação de baixo
nível), a seleção natural e as mutações, pode haver certa concordância, uma vez
que esses são aspectos científicos com os quais os defensores dos três modelos
concordam. O problema nunca reside nos fatos, mas na interpretação deles e nas extrapolações
que se fazem a partir deles. Em qualquer discussão envolvendo a controvérsia
entre criacionismo e evolucionismo, é preciso que inicialmente se defina a
palavra evolução. Se se considera
evolução, por exemplo, o desenvolvimento de resistência a antibióticos por
parte das bactérias, criacionistas podem muito bem concordar com
evolucionistas. Mas se se considera que um organismo unicelular poderia ao
longo de milhões de anos se transformar num ser humano, aí o criacionista não
pode concordar com o evolucionista, afinal, a macroevolução é uma extrapolação
não baseada em dados nem em observações. Aliás, como demonstram as pesquisas
com as moscas-das-frutas (confira),
os mecanismos alegados para a evolução (como as mutações) não fazem o que se
diz que fazem. Cem anos de pesquisas e muitas mutações induzidas provaram isso.
Cem anos de “tortura” em laboratório, e as mosquinhas não “confessaram” a
evolução.
Quais são as evidências “físicas” mais
fortes que sustentam o Criacionismo?
Creio
que sejam a origem da informação complexa e específica e a origem dos sistemas
de complexidade irredutível. Por mais que se argumente em contrário, não há
como explicar a partir do nada a origem da informação complexa da qual a vida
depende para existir e funcionar. Somente no núcleo de uma ameba há informação
equivalente à dos trinta volumes de uma enciclopédia como a Britânica. Num
grama de DNA é possível armazenar 700 terabytes de informação. Quando Darwin fez suas pesquisas e
sistematizou sua teoria, os conhecimentos da biologia molecular e da bioquímica
não estavam disponíveis. Ele sequer poderia saber o que há dentro de uma célula
e o que são máquinas moleculares. Darwin não tinha noção de quão complexo ele
era. Um dos muitos cientistas contemporâneos que se deram conta de que tamanha
complexidade só poderia apontar para um Criador foi o ex-ateu Francis Collins,
diretor do Projeto Genoma, que se rendeu às evidências de design inteligente e escreveu o livro A Linguagem de Deus.
Cientistas famosos na História eram
cristãos, como Isaac Newton. Como a fé desses homens deixou sua marca em suas
pesquisas científicas, que são defendidas e respeitadas até hoje? Como podemos
seguir esse exemplo em um país cada vez mais evangélico, mas onde as ideias têm
sido defendidas com um fervor religioso muitas vezes proselitista e que recebe
mais críticas do que admiração?
Os
precursores da ciência, também chamados “pais” da ciência, são realmente um bom
exemplo de compatibilização entre fé e ciência. Eles não apenas seguiam o
método científico como ajudaram a criá-lo. E provaram que foram justamente os
pressupostos bíblicos que possibilitaram o desenvolvimento da ciência.
Pressupostos como o de que a matéria é boa e não é divina, portanto, passível
de ser estudada e utilizada para o nosso bem; de que o Universo funciona regido
por leis estabelecidas pelo grande Legislador, portanto, um lugar em que os
processos se repetem com certa ordem e regularidade; e assim por diante. É
justamente na Europa cristã que a ciência moderna nasce. E isso definitivamente
não foi por acaso. O exemplo dos pais da ciência deveria inspirar os cristãos
da atualidade. Deveríamos ter sempre em mente que a ciência e a teologia são
ótimas “ferramentas” para se entender a realidade que nos cerca. Abrir mão de
uma delas é perder muito nesse processo. Às vezes, reclamamos de que certos
cientistas falam bobagem quando o assunto é religião, mas não podemos fazer o
mesmo quando falamos de ciência. Deus nos presenteou com um cérebro dotado de
capacidades tremendas. O mínimo que podemos fazer para agradecer-Lhe é usar bem
esse presente. Afinal, crer também é pensar.
Segundo
um novo estudo da Universidade de Stanford (EUA), os antecedentes comuns do
homem vieram da África e são chamados de “Eva mitocondrial” e “Adão
cromossomial-Y”, e surgiram entre 99 mil e 156 mil anos atrás. No que esse
estudo se aproxima do que diz a Bíblia sobre os primeiros habitantes do mundo?
A origem das primeiras populações humanas ainda é um tema
discutido e controverso. Há pesquisas que apontam a Ásia (confira), o que estaria
mais de acordo com o relato da dispersão a partir do Ararate, depois do
dilúvio. Quanto às pesquisas em relação à “Eva mitocondrial”, o interessante é
notar que os dados nos levam há alguns milhares de anos (confira aqui e aqui), o que estaria
mais de acordo com a Bíblia. Isso também nos leva à constatação de que temos, sim,
um ancestral comum, que, para o criacionista, se chama Eva.
Nessa
perspectiva, o que dizer sobre a existência dos dinossauros? Ela se deu no
mesmo período em que o homem já estava na Terra? A Bíblia fala algo sobre esses
animais?
Em meu livro A História da Vida, dedico dois capítulos a esse tema instigante. E está em
preparo para publicação pela CPB meu novo livro intitulado Terra de Gigantes, sobre os dinossauros e uma teoria a respeito da
extinção deles. A verdade é que todas as cerca de 30 teorias a respeito dessa
grande extinção não são conclusivas. Como explicar a fossilização de animais de
grande porte, sendo que seria necessária grande quantidade de água e lama e um
soterramento instantâneo para que isso acontecesse? Como explicar o fato de que
são encontrados fósseis desses grandes répteis em praticamente todas as partes
do mundo? Como explicar a constatação de que esses animais foram sepultados
vivos e que a posição deles revela estado de agonia e sufocamento? A Bíblia não
faz referência clara aos dinossauros, como também não faz a gatos e a girafas,
por exemplo. Mas há quem creia que o beemote, mencionado no livro de Jó, possa
ser um tipo de dinossauro. Os criacionistas creem que Deus criou os dinossauros
e que muitos deles, assim como outros animais, passaram por processos de
modificação e adaptação, o que levou ao surgimento de espécies violentas e
carnívoras. E, sim, para os criacionistas, seres humanos e dinossauros foram
contemporâneos, embora ainda não haja evidências materiais conclusivas a esse
respeito (confira).
A
ciência, de um modo geral, acredita que a Terra tem seus 4,5 bilhões de anos,
teoria rechaçada pelos criacionistas, que acreditam em um número bem menor.
Quais as evidências que provam que ela é realmente mais velha? E as que não
provam? Como o Criacionismo contabiliza a “idade da Terra”?
Na verdade, há criacionistas que acreditam numa Terra
“jovem”, com seis a dez mil anos de idade, e criacionistas que acreditam numa
Terra bem mais antiga, talvez com os alegados 4,5 bilhões de anos. O que ambos
os grupos concordam, via de regra, é com o tempo de existência da vida na
Terra, que teria sido criada há alguns milhares de anos, numa semana literal
com dias de 24 horas. Não fosse assim, a própria lei de Deus em Êxodo 20 não
faria sentido, uma vez que o quarto mandamento se justifica pelo fato de que
Deus criou todos os tipos básicos de vida aqui em seis dias, tendo reservado o
sétimo para ser memorial dessa criação. Em Apocalipse 14:6 e 7, esse tema é
retomado no contexto do fim, pouco antes da volta de Jesus. Quanto às evidências
a favor e contra a idade antiga da Terra, teríamos que discutir sobre os
métodos de datação e suas insuficiências, mas o espaço aqui não permite isso.
Recentemente,
o Ministério da Educação brasileiro declarou que o Criacionismo não deve ser
ensinado em aulas de ciência, restringindo-se às aulas de religião. O problema
não parece ser o ensino em si, mas a adequação do conteúdo à disciplina mais
apropriada. Por
que o Evolucionismo, apesar de ser uma teoria, é ensinado como comprovadamente
factual? Qual seria a melhor solução de abordagem, em sua opinião?
As ideias de Einstein também são teorias, e
são estudadas nas aulas de física. Teoria, na verdade, é um sistema consistente formado por observações, ideias e
axiomas ou postulados, constituindo no seu todo um conjunto que tenta explicar
determinados fenômenos. Isso, por si só, não seria motivo para que não se
ensinasse o evolucionismo em aulas de ciência. O problema é o ensino acrítico
dessa teoria, como se ela não contivesse inconsistências e insuficiências, e
fosse um “edifício bem acabado”, sem defeitos. Ensina-se macroevolução como se
fosse fato e não se distinguem os aspectos filosóficos do modelo. Os
criacionistas que eu conheço, incluindo aí os associados da Sociedade
Criacionista Brasileira, nem concordam que se ensine criacionismo nas aulas de
ciências, basicamente, por dois motivos: (1) criacionismo é um modelo
científico-religioso e (2) praticamente não existem professores capacitados
para ensinar devidamente o criacionismo. Num contexto assim, é melhor mesmo nem
abordá-lo em sala de aula. Se se pudesse ensinar um evolucionismo crítico, não
ufanista, já se faria uma grande coisa.
Como
jornalista, de que forma o senhor vê o tratamento da mídia, sobretudo a
brasileira, em relação a questões que retratam e explicam a origem da vida?
Muito limitado e preconceituoso. E tenho acompanhado essa
cobertura já há 20 anos, desde que me tornei criacionista. Nesta palestra (confira), apresento meu ponto de vista sobre o assunto e os
resultados dos meus estudos.
Um
professor de filosofia da Universidade Britânica de Oxford afirmou, em um vídeo que tem sido divulgado na internet, que “Deus não está morto” na Academia, em contradição à
famosa afirmação do filósofo alemão Friedrich Nietzsche no século XIX. A
sociedade, hoje, está menos ateísta e mais religiosa? Por outro lado, essa
visão religiosa se aproxima do que a Bíblia preconiza ou se afasta?
Sim, a sociedade está mais religiosa (apesar de que também
cresce o número dos que se consideram sem religião). Mas que religiosidade é
essa? É um tipo de religião pós-moderna e relativista, focada nos sentimentos,
na experiência, e menos na Revelação. Pouco se estuda a Bíblia e menos ainda se
crê em seus ensinamentos e suas doutrinas. É nesse cenário que o espaço está aberto
para o evolucionismo teísta e modalidades esdrúxulas de cristianismo.
Precisamos voltar à Palavra de Deus e aos pilares fundamentais da filosofia
judaico-cristã. E isso não significa ser fundamentalista. Significa ser
coerente com a revelação especial de Deus por meio da Bíblia Sagrada e também
com a ciência experimental. No meu entender, isso é o que significa ser
criacionista.