Michelson, qual a sua experiência com o vegetarianismo?
Eu era recém-convertido quando comecei meu curso de jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, em 1992. Na pensão em que eu morava, havia alguns jovens estudantes adventistas; um deles cursava engenharia de alimentos e o outro, processamento de dados. Os dois eram vegetarianos. Nos tornamos amigos e eles viviam lendo para mim trechos dos livros A Ciência do Bom Viver e Conselhos Sobre o Regime Alimentar, de Ellen White. Aos poucos, fui me convencendo de que o estilo de vida orientado por Deus promove não apenas a saúde física, mas também a saúde mental e espiritual. Entendi que nossa mente (a “antena” de comunicação com o Céu) pode se tornar muito mais clara quando vivemos de acordo com as orientações divinas e nos alimentamos o mais corretamente possível.
Depois de orar e pensar bastante, tomei a decisão de abandonar a dieta cárnea. Tornei-me, então, ovo-lacto-vegetariano. Mas não foi fácil. Não apenas porque o cheiro de churrasco e do peru que minha mãe sempre preparava na noite de Natal me eram tentadores, mas porque na universidade foi difícil obter uma dieta apropriada e a um preço razoável. Como tinha pouco dinheiro, eu costumava almoçar no restaurante universitário, que servia refeições a preços baixos. Como eu não mais consumia alimentos impuros, como a carne de porco, bacon, etc., praticamente não podia comer o feijão servido ali, quase sempre acompanhado de bacon ou toucinho. Comia arroz branco, carne bovina ou frango e salada. Quando deixei de comer carne, sobraram o arroz e a salada. Comecei a ficar magro e mal nutrido. Deixei o assunto com Deus e disse-Lhe: “Senhor, Tu me convidaste a uma reforma alimentar, agora Te peço que resolvas minha situação.”
Naquela mesma semana em que orei, meus dois amigos vegetarianos e eu descobrimos que havia sido inaugurado um restaurante vegetariano no mesmo bairro em que estava localizada nossa pensão. O preço das refeições era um pouco alto para estudantes sem dinheiro. Mas contornamos a situação da seguinte maneira: cada dia um de nós ia ao restaurante, enchia uma marmita grande e depois, em casa, a repartíamos em três porções. Era o suficiente para cada um de nós, o alimento era delicioso e melhor: ficava quase ao mesmo preço do almoço no restaurante universitário! Naquela época, aprendi que, quando queremos fazer a vontade de Deus, ele abre as portas.
Ah, sim, com o tempo, o cheiro do churrasco e do peru não mais me atraíam. Deus mudou meus gostos. Sem contar que também me convenci de que não é justo, num país com abundância de alimentos vegetais, como o nosso, permitir que animais sejam mortos simplesmente para satisfazer meu apetite.
Você acha importante a mudança na alimentação? Por quê?
Não vou responder diretamente a essa pergunta. Deixarei que a autora que motivou minha decisão o faça: “Satanás... sabe que as pessoas que têm hábitos errôneos e corpo doente, não podem servir a Deus tão resoluta, perseverante e puramente como se fossem sãos. Um corpo doente afeta o cérebro. Com a mente servimos ao Senhor. A cabeça é a capital do corpo” (Ellen White, Spiritual Gifts, v. 4, p. 146).
“Satanás está constantemente alerta, para submeter a humanidade inteiramente ao seu controle. Seu mais forte poder sobre o homem exerce-se através do apetite, e este procura ele estimular de todos os modos possíveis” (Conselhos Sobre o Regime Alimentar, p. 150).
“Mediante a satisfação do paladar, o sistema nervoso torna-se irritado e debilita-se o poder do cérebro, tornando impossível pensar calma e racionalmente. Desequilibra-se a mente” (Conselhos Sobre o Regime Alimentar, p. 151).
“O Redentor do mundo sabia que a condescendência com o apetite traria debilidade física, adormecendo órgãos perceptivos de maneira que se não discerniriam as coisas sagradas e eternas” (Conselhos Sobre o Regime Alimentar, p. 54).
“Muitos, por sua condescendência com o apetite, separam-se de Deus” (Conselhos Sobre o Regime Alimentar, p. 159).
“Com a mente servimos ao Senhor” (Temperança, p. 14).
“Repetidamente tem-se-me mostrado que Deus está trazendo de volta o Seu povo ao Seu desígnio original, isto é, que ele não dependa da carne de animais mortos. Ele gostaria que ensinássemos ao povo um caminho melhor. [...] Se a carne for abandonada, se o gosto não for estimulado nessa direção, se a apreciação por frutas e cereais for encorajada, logo será como Deus no início desejou que fosse. Nenhuma carne será usada por Seu povo” (Conselhos Sobre o Regime Alimentar, p. 82).
O que mais eu poderia dizer? Só me resta assinar embaixo e pedir forças a Deus para continuar buscando um “caminho melhor”.
Quais as dificuldades que você encontra na alimentação da família, principalmente das crianças?
Minha esposa também se tornou ovo-lacto-vegetariana mais ou menos na mesma época em que eu tomei essa mesma decisão, quando ainda nem nos conhecíamos. Ambos desfrutamos de mais saúde a partir de então. Meus filhos nunca comeram carne e espero que nunca o façam. Para eles, tudo é mais fácil, pois já nasceram nesse contexto. Eles consideram os animais como amigos, não comida. Atualmente, consumimos ovos caipiras, de vez em quando, e procuramos usar tanto quanto possível o leite de soja. Consumimos frutas e castanhas e bebemos sucos em lugar de cevada e refrigerantes (que minhas filhas odeiam, graças a Deus). Ainda temos muito para melhorar no que diz respeito ao estilo de vida saudável, que tem que ver não apenas com alimentação. Mas, com paciência, determinação, equilíbrio e, mais importante, com a ajuda de Deus, tudo é possível.
Quais os benefícios encontrados por você na alimentação natural e no estilo de vida saudável?
Vejo basicamente dois benefícios: o mais óbvio deles é a saúde de modo geral. E quando estamos fisicamente bem, a mente funciona melhor e podemos ser mais úteis a Deus e ao semelhante. Em segundo lugar, o estilo de vida saudável e o vegetarianismo mudam nossa maneira de encarar a vida. Quando abandonamos a dieta cárnea, nos tornamos mais sensíveis em relação à natureza. Passamos a ver os animais como “companheiros de planeta”, dignos e merecedores da vida. O que não podemos é ir a extremos a ponto de valorizar mais a vida dos animais do que a vida humana, ou de fazer da dieta nosso único assunto (a ponto de nos tornarmos vegechatos). Também não podemos ser intolerantes com as pessoas que vivem de maneira diferente. Temos que respeitar e amar as pessoas, e influenciá-las pelo exemplo de uma vida mansa, saudável e equilibrada.
Qual o conselho que você daria para as pessoas que gostariam de mudar a alimentação e ainda não conseguiram?
Que entreguem o caso a Deus (o maior interessado na saúde delas, de acordo com 3 João 2) e façam esforços decididos nessa direção. Comecem mudando um hábito de cada vez e progridam nessas mudanças. O importante é não desconsiderar o assunto como se fosse de menor importância, nem tampouco estacionar na reforma da vida. Devemos aprender e crescer sempre. Há pessoas que dedicam horas e horas para aprender como funciona um carro ou um computador. Leem manuais e buscam informações. Quanto mais vale o nosso corpo? Não deveríamos muito mais ler e estudar sobre o funcionamento do organismo a fim de mantê-lo nas melhores condições possíveis?