terça-feira, maio 24, 2011

Cientista criacionista publica artigo na Science

Rodrigo Mendes nasceu em junho de 1979, em Limeira, SP. A irmã dele é professora de Português no Unasp e o irmão é biólogo, cursando doutorado na USP. Casado há cinco anos com Ana Paula (professora de Língua Portuguesa), Rodrigo é pai do Guilherme, de um ano de idade. Após a graduação em Engenharia Agronômica (USP), com especialização em Biotecnologia, Dr. Rodrigo obteve o doutorado na mesma instituição, com período de um ano na Universidade de Wageningen, Holanda. Antes de cursar o pós-doutorado, ele trabalhou como melhorista genético na multinacional americana Monsanto, para então retornar à Universidade de Wageningen, a fim de trabalhar como pesquisador associado de pós-doutorado, com períodos de trabalho na Universidade de Lausanne e Universidade da Califórnia, Berkeley (foto acima). Após dois anos, retornou ao Brasil para assumir a função de pesquisador A na Embrapa, nas áreas de ecologia microbiana e genética molecular. Seus hobbies incluem coleções, leitura, fotografia, futebol com os amigos e música cristã contemporânea.

Nesta entrevista, concedida ao jornalista Michelson Borges, o Dr. Rodrigo (que teve um artigo recentemente aprovado para publicação na prestigiada revista Science) fala sobre suas pesquisas e sua visão de mundo relacionada ao criacionismo e ao design inteligente.

Descreva em linhas gerais sua pesquisa.

O estudo revelou que da mesma forma que humanos hospedam micro-organismos para evitar infecções, as plantas dependem de uma complexa comunidade de micro-organismos do solo para se defenderem de patógenos. O conhecimento detalhado da interação entre as plantas e essas comunidades permitirá sua exploração para benefícios na agricultura, como, por exemplo, o desenvolvimento de técnicas sofisticadas de controle de doenças. [Para mais detalhes sobre a pesquisa, confira aqui e aqui.]

E a publicação na Science, como foi?

O estudo envolveu a participação de onze cientistas das universidades de Wageningen, Utrecht e Berkeley, ao longo de seis anos. Fui o responsável pela maior parte dos experimentos, análise dos dados e contextualização do impacto da pesquisa na ciência atual. A redação foi realizada principalmente por mim e pelo líder da pesquisa (último autor), mas com constantes revisões dos demais autores. Quando finalizamos a versão a ser submetida, enviamos o trabalho a um cientista de renome (e geralmente editor de importantes revistas) para uma leitura crítica. Com isso, tínhamos o texto pronto para ser submetido.

O texto segue pelo fluxo the peer review [revisão por pares], que, no caso da Science, tem como primeiro filtro o editor, que normalmente consulta mais dois ou três colegas do corpo editorial, em 48 horas. Em caso de consenso, o texto é enviado para outros três cientistas especialistas no campo de pesquisa escolhidos pelo editor para uma avaliação profunda e crítica do mérito do trabalho. Em caso de aprovação, devido à sua importância, alguns trabalhos ainda são selecionados para serem publicados on line ahead-of-print na Science Express, como foi o caso do nosso. Posteriormente, é publicada a versão impressa.

A Science publica apenas trabalhos de forte influência na ciência mundial atual, e com a condição de representar um significativo avanço no entendimento científico. O trabalho deve ter o mérito reconhecido pela comunidade científica e também pelo público geral. Por causa disso, as chances de publicar na Science são extremamente remotas. Mesmo trabalhos excelentes são rejeitados e os autores devem encaminhar a revistas especializadas. Como consequência de tudo isso, os autores que publicam trabalhos na Science têm um prestígio muito grande e são considerados como parte da elite da comunidade científica mundial.

Você tem doutorado e pós-doutorado na área de genética. Ao se deparar com a complexidade do genoma humano, o próprio diretor do Projeto Genoma, Francis Collins, deixou de ser ateu. O que você pode dizer dessa área em relação ao design inteligente e à origem da informação complexa e específica?

O Dr. Collins teve uma experiência extraordinária, na qual encontrou Deus através do conhecimento da natureza. Nesse sentido, sinto-me privilegiado em ter encontrado Deus antes. Isso permitiu que meu conhecimento da natureza fosse acompanhado pelo crescimento do entendimento de Deus. Tenho experiência em genomas bacterianos, os quais, apesar de serem muito menores que o genoma humano, não deixam de ser tão complexos quanto. Mesmo nos seres mais “simples” e unicelulares, existem fortes evidências de que os mecanismos complexos tiveram origem repentina. Pesquisas recentes têm revelado que o genoma humano e mesmo o das plantas (estudo da Science) não funcionam sozinhos; dependem de e estão associados aos milhares de outros genomas de microrganismos que vivem em íntima relação com seu hospedeiro. Nesse contexto, podemos dizer que os humanos possuem um segundo genoma chamado de microbioma.

Quais você acha são as maiores fragilidades da teoria da evolução e do modelo criacionista?

No contexto da metodologia científica, ambos têm suas limitações. Na teoria da evolução, não podemos provar a existência de um ancestral universal – que é a base da teoria; e no modelo criacionista, não podemos provar a existência do Criador.

Por queexiste tanto preconceito no meio acadêmico e na mídia secular contra pesquisadores criacionistas?

O preconceito parece ainda ser um reflexo desencadeado pelo Iluminismo. Aparentemente, no meio acadêmico, o criacionismo está fortemente associado às ideias medievais de um período em que o conhecimento foi monopolizado pela igreja cristã da época.

Por ser criacionista, você enfrentou algum tipo de preconceito durante seu tempo de estudos?

Felizmente, não.

O método científico (naturalismo metodológico) é uma boa ferramenta humana. Mas o que dizer do naturalismo filosófico que muitas vezes “contamina” as pesquisas científicas?

Esse pensamento é fruto da falta de reconhecimento das limitações humanas. O fato de não termos ferramentas para acessar e entender algo, não quer dizer que ele não exista.

Há quem diga que o criacionista não pode ser um bom cientista. O que você diz disso?

Ser cientista não significa ser evolucionista. Um cientista legítimo mantém a mente aberta e reconhece as limitações do método científico. Essa é uma postura de humildade diante da natureza.

Como foram as bases da sua educação?

Estudei na escola adventista do 5º ao 8º ano do ensino fundamental. Os demais anos do ensino fundamental, médio e superior foram cursados no sistema público de educação. Nasci em família adventista e, durante minha infância, estive envolvido com todas as atividades proporcionadas pela igreja, como clube de desbravadores, conjuntos e corais. Como tive o privilégio de pertencer a uma igreja jovem e vibrante (a Igreja Adventista Central de Limeira), servi em várias funções de liderança, incluindo diretoria da Escola Sabatina, do coral jovem, do Ministério Jovem e ancionato.

Como você avalia a controvérsia entre o criacionismo e o evolucionismo?

Há alguns anos, assisti a um debate sobre evolucionismo e criacionismo realizado no campus da Unesp, em Rio Claro. De um lado, alguns professores da Unesp, e de outro, os Drs. Rui Vieira, Nahor Neves de Souza Jr. e outros. Esse, assim como outros debates, tomou rapidamente o rumo das discussões pessoais e filosóficas. Infelizmente, a postura das pessoas que participam desses fóruns é extremamente defensiva e não permite uma discussão sincera no campo da ciência. Como adventistas, deveríamos ter toda a tranquilidade em expor nosso modelo e reconhecer suas falhas. Um exemplo dessa postura é a agressividade de Richard Dawkins, no livro Deus um Delírio, mas ela não é tão diferente do tom irônico e também agressivo de alguns criacionistas, que tratam de um assunto muito interessante, mas num discurso não tão seguro. Até aqui, tenho concluído que a melhor maneira de lidar com esse assunto consiste em expor com segurança nossos pensamentos, mas sem ataques gratuitos aos evolucionistas; que a crítica seja dirigida ao evolucionismo.

O que você tem a dizer sobre o blog www.criacionismo.com.br, levando em conta que ele é mantido por um jornalista interessado, mas leigo em ciências?

Não é por acaso que o blog tem cerca de três mil visitas por dia. Você tem realizado um trabalho excelente que tem servido de referência não apenas no meio adventista. Os pontos fortes são a atualização e a seleção dos tópicos. Desejo que Deus continue lhe inspirando nesse trabalho.