Entrevista concedida pelo jornalista e mestre em
teologia Michelson Borges a Rafael Lopes (professor de Física do IFMA, mestre e graduado em Física
pela Universidade Federal do Maranhão e doutorando em física pela USP), Felipe
Forti (estudante de teatro e criacionista progressivo), Camilli Martins (pré-vestibulanda de Joinville que está em
São Paulo há três anos) e Tales Moura (advogado em São Paulo). O programa foi
realizado na Igreja Adventista Central Paulistana, no dia 16 de maio de 2015,
às 18h. As perguntas foram feitas ao vivo pelos quatro participantes, com
interação do auditório.
Camilli: Existem evidências do
dilúvio? A genealogia pós-dilúvio é compatível, no tempo, com a quantidade e
diversidade de etnias que existem hoje?
Existem várias evidências. Vou mencionar apenas cinco:
(1) Praticamente metade dos sedimentos continentais são de origem marinha. (2)
A abundância de fósseis em todo o mundo, como os fósseis de peixes encontrados
em Crato, no interior do Ceará, na Chapada do Araripe, ou mesmo os fósseis de
baleias encontrados em Pisco, no Peru, a 30 km do litoral, ou no deserto do
Atacama, no Chile. (3) As evidências de que muitos dinossauros fossilizados
morreram afogados, em agonia, sufocando. (4) Os estratos plano-paralelos na
coluna geológica, que sugerem enorme deslocamento de sedimentos e uma
estratificação rápida. (5) A existência de relatos de uma grande inundação preservados
em mais de 200 culturas espalhadas pelo mundo.
Quanto à diversidade de etnias, acredito que o tempo após
o dilúvio foi suficiente para essa diversificação. Mutações, seleção natural e
isolamento geográfico podem muito bem explicar essa diversificação que, no
entanto, foi bem limitada. Em bem menos tempo, mas com uma “mãozinha” humana,
foi possível causar modificações bem mais acentuadas em cães e gatos, por
exemplo.
Tales: Rolam pela internet, no YouTube,
alguns vídeos que noticiam terem encontrado a arca de Noé. Mostram fotos
tiradas por pilotos de avião de quando sobrevoavam um local, durante a guerra,
que viram um pedaço de madeira de um barco. Após alguns anos, expedições foram
feitas no local e há os que afirmam terem encontrado a arca congelada. Alguns
cristão dizem que a arca seria encontrada no tempo do fim. Isso tudo é verdade?
Se for, por que não há uma repercussão maior?
Por enquanto, quanto eu saiba, é tudo muito especulativo.
Muitas dessas “evidências” são apresentadas no livro Em Busca da Arca de Noé, de Dave Balsiger e Charles Sellier. Mas
parece que nada daquilo foi realmente confirmado. O Ararate fica numa região
muito conturbada. Guerrilheiros curdos dificultam muito a vida dos
pesquisadores e a área é coberta de gelo praticamente o tempo todo. Além disso,
a Bíblia não identifica em que montanha daquela região a arca pousou. Mas,
teoricamente, levando em conta a resistência da madeira de gofer ou cipreste,
resistente a pragas e ao apodrecimento, e o clima frio da região em que está o
Ararate, talvez tenha sido possível a preservação da arca ou de parte dela.
Quem sabe possamos ter alguma surpresa no futuro, com novas expedições e com o
degelo das montanhas...
Tales: De acordo com o teste do Urânio-238,
a Terra tem 4,5 bilhões de anos. Pelo relato bíblico, a terra tem cerca de seis
mil anos. Como é possível essa diferença? Qual tempo está certo?
O princípio do
funcionamento dos “relógios radioativos” depende, fundamentalmente, da
determinação da relação existente entre a quantidade
de um determinado elemento radioativo na formação do material a ser datado,
como o urânio, e da quantidade de outro elemento formado (supostamente ausente
na formação do material) por decaimento radioativo, como o chumbo. O grande
problema com esses “relógios”, por mais lógicos que sejam, é que não temos como
determinar dois fatores muito importantes: (1) a quantidade de elementos “pai”
e “filho” na amostra no início, e (2) as taxas de decaimento radioativo ao
longo do tempo.
É bom saber, também, que
existe grande variação de um método de datação para outro. Há grande diferença
no tempo de decaimento dos elementos radioativos. Enquanto o Urânio-238, por
exemplo, tem meia-vida de 4,5 bilhões de anos, o Urânio-235 tem meia-vida de
0,7 bilhão de anos. O Tório-233 tem meia-vida de 14,1 bilhões de anos. A
meia-vida do Rubídio-87 é de 47 bilhões de anos, e do Potássio-40, 1,3 bilhão
de anos. De posse desses resultados, os evolucionistas resolveram que o Urânio-238 era o mais adequado à sua teoria. 0,7
bilhão de anos era pouco; 47 bilhões já era muito. Convencionou-se, então, 4,5
bilhões de anos. No fim, foi mais uma questão de escolha.
Quanto à idade da Terra pela ótica criacionista, não há
certeza absoluta se ela (o planeta e seus constituintes inorgânicos) tem
realmente seis mil anos ou se poderia ter bilhões. Nesse quesito, os
criacionistas se dividem basicamente entre criacionistas da Terra jovem e
criacionistas da Terra antiga. E parece existir evidências para ambas as
visões. O que os criacionistas bíblicos praticamente não discutem é a idade da vida na Terra: cerca de seis a dez mil
anos.
Rafael: Em sua
opinião, como devem os cristãos hoje se relacionar com a teoria do big
bang?
A teoria do big
bang tem implicações teológicas, já que estabelece um começo para o Universo,
um ponto inicial no tempo e no espaço. Como tudo o que tem começo precisa de uma
causa, qual teria sido a causa atemporal e imaterial que teria dado origem ao
cosmos? O que ou quem teria sido essa primeira causa não causada? Mas o big
bang ainda não é uma teoria consensual. Há questionamentos ao modelo. E um
deles tem que ver com a constatação de que já havia galáxias e outros corpos
celestes “adultos” há 12, 13 bilhões de anos. Isso não combina com o modelo de
um Universo imaturo que foi evoluindo ao longo do tempo. Algumas teorias
cosmológicas têm sido questionadas atualmente, como é o caso da velocidade da
suposta expansão do Universo e a teoria da formação dos planetas.
Tales: Em
1859, Charles Robert Darwin lançou o livro A Origem das Espécies. A teoria da evolução apresentada por ele
nesse livro foi inédita ou é uma ideia antiga? Existem incoerências na teoria?
Ela é provada ou precisa de fé para crer?
Na verdade, o avô de Charles, Erasmus
Darwin, já defendia algum tipo de evolução. Mesmo os gregos antigos pensavam
mais ou menos dessa forma. A grande “sacada” de Charles foi propor mecanismos
para essa evolução: mutações e seleção natural. Ele agiu como um verdadeiro
cientista, embora fosse formado em teologia. Partiu da observação para as
conclusões. Mas acertou no varejo e errou no atacado. Ao observar a variação na
plumagem e no formato dos bicos de uma passarinho chamado tentilhão, nas ilhas
Galápagos, Darwin chamou a isso de evolução e pensou ter provado sua teoria.
Mas o que fez foi apenas descrever variações de baixo nível causadas por
seleção natural, algo com que criacionistas também concordam. Ocorre que todos
aqueles pássaros observados por Darwin eram tentilhões, e nunca deixaram de ser.
Outro exemplo de diversificação de baixo
nível que não prova a ideia da macroevolução são as experiências realizadas há
mais de cem anos com as mosquinhas-das-frutas (Drosophila melanogaster). Por meio de mutações artificialmente
causadas, tudo o que os cientistas conseguiram obter foi moscas com asas
retorcidas, asas mais curtas e até sem asas. Nada de surgimento de um novo
órgão funcional ou novo plano corporal. E por quê? Simplesmente porque
informação complexa e específica não surge do nada. Mutações alteram a
informação ou causam sua perda. Nunca fazem aumentar o patrimônio genético a
ponto de originar novos órgãos funcionais.
A verdade é que até o título A Origem das Espécies está equivocado.
Darwin explicou os mecanismos de diversificação nas espécies, mas não a origem
delas. Explicou a sobrevivência do mais apto, mas não como esse mais apto se
originou.
A ideia da macroevolução e da origem da
vida continua sendo uma grande declaração de fé. Um assunto filosófico e não
científico, pois o naturalismo filosófico não pertence aos domínios da ciência
experimental.
Felipe: Como explicar o
“DNA lixo” que aparentemente não tem função?
Essa lenda surgiu
há quase 15 anos, quando o primeiro rascunho do sequenciamento do genoma humano
foi publicado. Na época, os cientistas concluíram precipitadamente que apenas
2% das três bilhões de letras que compõem o genoma humano correspondiam a genes
codificantes. Os outros 98% seriam o tal “DNA lixo”, aparentemente sem função,
um suposto resquício da evolução. Dez anos e muitas pesquisas depois,
confirmou-se que o apelido era jocoso e ignorante. O que teve que ser jogado no
lixo foi aquela conclusão absurda. O que antes era chamado de “DNA lixo” hoje se
sabe que possui funções essenciais no organismo.
Rafael: Devem as teorias
científicas afetar nossa interpretação dos textos sagrados?
Depende. Gosto de
uma afirmação de Ellen White em que ela diz que, corretamente compreendidas,
tanto a ciência quanto a revelação estão em pleno acordo. Assim, se algum
aspecto da ciência está em desacordo com a Bíblia, devemos pensar que isso
decorre de uma compreensão equivocada de uma ou de outra. Existem alguns exemplos
históricos, como o caso da afirmação bíblica de que a Terra está flutuando no
espaço (Jó 26:7). Esse texto foi escrito por Moisés, há 3.500 anos. Ele
aprendeu nas “faculdades” do Egito antigo que a Terra, além de plana, estava
apoiada sobre cinco colunas, mas não registrou esse conhecimento “científico”
nas páginas da Bíblia, pois estava equivocado. O mesmo tem acontecido na área
dietética, por exemplo. As recomendações bíblicas têm sido confirmadas dia após
dia por pesquisas mais acuradas.
Resumindo, eu
diria que a ciência empírica não afeta nossa interpretação dos textos sagrados,
pois está de acordo com eles. Mas algumas hipóteses estão em desacordo com o
texto sagrado, porque pertencem mais aos domínios da ciência histórica, como é
o caso da visão naturalista/darwinista sobre a origem da vida.
Tales: Recentemente, o papa Francisco foi
discursar na Academia de Ciências. Lá ele se posicionou pela corrente
evolucionista teísta, ou seja, disse que a teoria do big bang e o evolucionismo
não contradizem a Bíblia, e que Deus não agiu na criação como um mago com
varinha de condão. É possível a junção de ambas as teorias, criacionismo e
evolucionismo?
Sim, desde que você abra mão da interpretação literal dos
primeiros capítulos de Gênesis e abrace a teologia liberal defendida pelos
católicos. Mas, se fizer isso, estará violando a coerência interna das
Escrituras, desprezando doutrinas que dependem da criação literal (como é o
caso da guarda do sábado e da redenção) e desprezando a opinião de criacionistas
como Jesus e Paulo, por exemplo. Ambos fizeram referência a Adão e Eva como
personagens históricos, reais e ao dilúvio como um fato histórico comparável à
volta de Jesus. Além disso, se a árvore da vida mencionada em Gênesis é um
mito, a árvore da vida descrita no Apocalipse, a que os salvos terão acesso,
deixa de ter sentido também.
Creio em um Deus todo-poderoso que poderia ter criado a
Terra em sete segundos ou em sete mil anos, mas escolheu fazê-lo em sete dias e
deixou esse fato registrado nas Escrituras, celebrado por um dia, o sábado.
Felipe: Se
a evolução fosse provada, você continuaria sendo cristão?
Não. Eu
deixaria de ser cristão e me tornaria, quem sabe, agnóstico. Isso porque a
ideia da macroevolução contradiz totalmente a cosmovisão bíblica. Não é
possível acomodá-las. Para ser intelectualmente honesto, ou a pessoa abraça ou
evolucionismo materialista ateu ou o criacionismo teísta bíblico.
Camilli: A ciência, enquanto construção
humana, pode considerar o método científico como absolutamente puro de
interferências subjetivas, como o contexto histórico e as humanidades do
cientista?
O método científico é a melhor ferramenta de investigação
do mundo já inventada pelo ser humano, mas, como tudo que é humano, é
imperfeita e sujeita a subjetividades. Isso porque depende em grande medida da
interpretação dos dados. Em bom exemplo disso é apresentado por Thomas Kuhn, em
seu livro A Estrutura das Revoluções
Científicas. Perguntaram a um físico e a um químico se um átomo de hélio é
ou não uma molécula. Para o químico, é molécula, pois se comporta como tal do
ponto de vista da teoria cinética dos gases. Para o físico, não é molécula,
pois não apresenta espectro molecular. Assim, cada um deles definiu o que um
átomo de hélio deve ser, segundo sua
ótica, sua maneira de interpretar a realidade.
A verdade é que nenhum cientista consegue deixar fora do
laboratório suas subjetividades – suas opiniões políticas, seus sentimentos,
suas crenças. O método científico procura minimizar ao máximo isso, mas sempre
haverá alguma subjetividade envolvida.
Tales: Em seu blog, na seção Digitais do
Criador, você aborda alguns temas como: amebas gigantes geram dúvidas sobre
evolução, cérebro tem banda larga, semente que voa, etc. Mas um em especial me
chamou a atenção: “O radiador do tucano.” Como é isso?
Nessa
seção do www.criacionismo.com.br procuro apresentar evidências de design inteligente na natureza. No caso
do tucano, o bico serve como um verdadeiro “radiador”. Como é muito
vascularizado, o bico dissipa o calor, no verão, e aquece, no inverno. Um
radiador de carro consegue dissipar de 70 a 80% do calor do motor. O “radiador”
do tucano tem uma eficiência de 100%. Em “Digitais do Criador” falo também do
sonar do golfinho e do morcego, um sistema que funciona em ambas as espécies
graças a um mesmo gene chamado prestina. Como explicar evolutivamente o
surgimento de um sistema tão eficiente, com funcionamento igual em espécies tão
distantes na suposta história evolutiva? Além disso, para inventar o sonar, o
ser humano gastou muito dinheiro e usou muita inteligência. Mas o que ele fez
foi simplesmente imitar um sistema que já existia e funcionava perfeitamente
bem há milhares de anos. O original seria fruto do acaso enquanto a cópia,
resultado de esforços inteligentes?
Rafael: Qual seria a
melhor forma de harmonizar uma vida religiosa com uma boa formação científica?
O estudante
criacionista deve andar duas, três, quatro milhas a mais que seus colegas. É
importante que ele leia, além do conteúdo acadêmico, bons livros sobre ciência
e religião, defesa racional da fé, arqueologia bíblica, criacionismo, etc. Isso
para que possa responder adequadamente a toda pessoa que lhe perguntar por que
pensa como pensa (atendendo ao desafio de 1 Pedro 3:15). A Bíblia e livros
devocionais, que reforçam a comunhão com Deus, devem sempre estar à cabeceira.
Com esse reforço intelectual/espiritual, o estudante criacionista estará pronto
para enfrentar os desafios do campus e para ser um dos melhores alunos, com
dedicação, esforço e responsabilidade. Isso porque de nada adiantará ser um bom
“crente” e um mal aluno. Se está na universidade, é para estudar e dar bom
testemunho. E esse bom testemunho passa pelo comportamento e pelo desempenho
acadêmico.
Para mim, um dos
melhores exemplos de compatibilização entre religião e ciência é Isaac Newton.
A mesma dedicação que ele aplicou à pesquisa científica aplicou também ao
estudo da Bíblia Sagrada. Tenho certeza de que ele “viu mais longe” exatamente
por não ter desprezado estas duas ótimas ferramentas, estas duas ótimas lentes:
a ciência e a teologia.
Camilli: O que realmente significa ter contato com Deus? Eu entendo que é uma
questão muito pessoal, mas, pelo fato de ser pessoal, já faz desse contato uma
percepção subjetiva, e se ela é subjetiva, como podemos simplesmente achar que
o jeito como nós “percebemos” Deus é mais certo do que como outra pessoa diz que
“percebe” Deus?
Não podemos depender apenas da
percepção. Por isso temos a Revelação e temos que descobrir por que ela é
confiável. Claro que precisamos “experimentar” Deus por nós mesmos; ter uma
relação real e pessoal com Ele. Mas não podemos nos esquecer de que os
sentimentos são um tanto vagos e até contraditórios, às vezes. Por isso
precisamos da guia da Revelação. Devido às influências a que fomos submetidos
na infância, às coisas que aprendemos de nossos pais e na escola, nossa visão
de Deus pode variar grandemente em relação à visão de outra pessoa, de tal
forma que podemos estar adorando deuses
diferentes em nossa mente. Por isso precisamos de uma revelação dEle mesmo.
Quem é Deus? Como é Deus? Gosto de ler Hebreus 1:1 e 2 porque esse texto me
mostra que Deus tem muitas maneiras de Se revelar, inclusive por meio da ciência
e da filosofia (Francis Collins e Antony Flew que o digam), mas a maior
revelação dEle foi, sem dúvida, Jesus Cristo. Conhecer Jesus é conhecer Deus. E
podemos conhecer Jesus por meio da oração e, sobretudo, dos Evangelhos.
Felipe: Você não acha que
o debate criação x evolução e Terra jovem x Terra antiga tira algum foco da
apologética como evangelística, já que existem vários teístas evolucionistas e
criacionistas de Terra antiga? Quer dizer, não é melhor mostrar que Deus existe,
independentemente do método que Ele usou?
A menos que não se
dê importância a doutrinas como o sábado e à mensagem de Apocalipse 14:6, 7,
tudo bem. De fato, há muitos bons apologistas por aí, como William Craig, Alvin
Plantinga, Lee Strobel, Nancy Pearcey, Alister McGrath, Frank Turek, Norman
Geisler e outros, e admiro muito o trabalho deles. Mas há alguns “detalhes” da
pregação de alguns desses eruditos que não estão de acordo com a Bíblia, como é
o caso da defesa da santidade do domingo e da existência de um inferno eterno.
Além disso, muitos desses apologistas são evolucionistas teístas, o que, como
já vimos, contradiz as Escrituras. Se nos calarmos, quem mais vai defender a
permanência do sábado como memorial da criação e dia do Senhor? Quem mais vai
defender a criação em seis dias literais de 24 horas?
Respondendo
especificamente a sua pergunta: se a discussão for exclusivamente sobre a idade
da Terra e não da vida sobre a Terra, creio que realmente não precisamos
alimentar essa polêmica. Mas se a questão estiver relacionada com a semana da
criação, a vigência do sábado, a literalidade e historicidade de Adão e Eva e o
dilúvio, aí, sim, creio que devemos erguer a voz em defesa do nosso ponto de
vista bíblico. Se não o fizermos, quem mais fará?
Camilli: Qual é o
oposto de fé? Seria a dúvida? Então, significa dizer que mesmo para um cristão
é bom nunca ter uma fé absoluta, pois, quando paramos de questionar, deixamos
de pensar, ou seja, podemos estar cometendo sérios erros?
Não acredito que o oposto de
fé seja a dúvida. O oposto de fé é a desconfiança. Não é pecado ter dúvidas. Na
verdade, são as dúvidas sinceras que motivam a busca. E Deus oferece respostas
e certezas ao pesquisador sincero. Não oferece todas as respostas, mas o
suficiente para que possamos crer. Depois de obter essas respostas e evidências
de que Ele existe e cuida de nós, seria realmente falta de fé continuar
duvidando. É mais ou menos como aquela esposa que durante muitos anos teve
evidências de que seu marido a ama e lhe é fiel. Mas certo dia alguém lhe diz
que viu o homem com outra mulher. Seria muito injusto essa esposa passar a
desconfiar do marido por causa dessa única informação incompleta. O correto
seria ela aguardar para saber dele a verdade. Desconfiar de Deus por causa de
uma ou outra dúvida e desprezar todas as certezas é como desconfiar de um
cônjuge fiel com base em apenas uma informação incompleta.