quarta-feira, janeiro 10, 2007

Cristo é real

Jovem ex-budista conta como Jesus mudou sua vida

Simone Hanada é descendente de japoneses. Seus avós vieram para o Brasil fugindo da II Guerra Mundial. Ela nasceu em 1979 e mora atualmente no bairro Liberdade, em São Paulo. É formada em jornalismo pela Universidade de Santo Amaro (Unisa), e trabalhou como repórter e produtora do programa de TV “Fé em Ação” (veiculado pelo Adsat), da Federação dos Empresários, Executivos e Profissionais Liberais Adventistas do Brasil.

Nesta entrevista, concedida a Michelson Borges, ela fala de sua infância como budista, de sua adolescência conturbada e de como conheceu a Jesus.

Fale um pouco sobre sua infância.

Até os seis anos eu nunca havia ouvido falar de Jesus, pois fui alfabetizada em uma escola budista, a Mahayana, na Liberdade. Quando eu tinha seis anos, meus pais se mudaram para Campo Limpo, e me colocaram, “por acidente”, em uma escola adventista (a “Alvorada do Saber”). Foi lá que tive meu primeiro contato com Jesus e aprendi que Ele é um Amigo que pode ajudar as pessoas. Como meus pais estavam tendo problemas conjugais e meu pai estava perdendo tudo em jogos de azar, eu freqüentemente levava figuras de Jesus e as colava na porta de casa. Eu não entendia bem por que fazia aquilo, só sabia que podia ser uma coisa boa, pois ouvia dizer que Jesus é bom. Eu pedia para o meu pai olhar a figura e fazer o sinal da cruz, pois imaginava que aquilo pudesse resolver os problemas de nossa família.

Após a separação de meus pais, que se mudaram para o Japão, aos 8 anos de idade fui morar com meus avós, de novo na Liberdade, ficando com eles os 13 anos seguintes. Lá as coisas foram mais complicadas para mim, devido à repressão por parte dos meus avós. Eles não queriam que eu tivesse contato com os “brasileiros”, o que era inevitável, pois eu estudava em uma escola da rede pública. Cheguei a ser expulsa de casa duas vezes, por causa de minhas amizades com brasileiros.

Aos 11 anos comecei a trabalhar numa papelaria e a fazer “bicos”, como vender sanduíches, justamente para conquistar certa independência dos meus avós. Além disso, eu queria ajudar meu irmão Marcelo, que também morava conosco, a ter as “coisinhas” dele.

Você teve uma adolescência conturbada também.

Sim. Aos 13 anos comecei a me refugiar nas bebidas e a trabalhar como promoter na colônia japonesa. Eu tinha um RG falso que me possibilitava entrar nos bailes que eu organizava. Com isso conquistei certo status, mas também me tornei dependente do álcool. Freqüentemente voltava para casa tarde da noite, e quando pensava em meus problemas – a falta dos pais, solidão, falsos amigos, que só se aproximavam para obter vantagens sociais – percebia que minha vida não tinha sentido algum.

Sua religiosidade não a ajudava nesse ponto?

Eu achava que as orações que fazia no Obutsudam [altar dos ancestrais] resolveriam meu vazio interior, mesmo não praticando um budismo tão ortodoxo quanto o dos meus avós. Orávamos aos mortos, acendíamos incenso e fazíamos oferendas de alimentos para eles. Isso eu fazia todos os dias, em cada refeição. Mas, na verdade, de certa forma, eu sentia medo dos mortos, pois fui ensinada a crer que eles estavam sempre nos observando, vendo nossos erros.

Eu também freqüentava as reuniões no templo budista, mas aquelas filosofias me pareciam muito irreais e distantes, e não me tocavam. Sempre saía do templo tão vazia quanto ali entrava. (Por isso mesmo hoje não concordo com sermões que são apenas teóricos, não tocando em aspectos práticos da vida cristã.)

Em que momento sua vida começou a mudar?

Entre os 13 e os 14 anos conquistei maior independência, ao conseguir outro emprego com melhor remuneração. Por outro lado, passei a beber mais e a consumir drogas leves, entrando em depressão freqüentemente. Eu tinha surtos de pânico e não sentia segurança em nada; sentia, sim, uma insegurança de tudo – da vida, das pessoas...

Certa noite, saí em busca de um bar para beber. Eu estava profundamente revoltada com a vida naquela noite. Caminhando pela Rua São Joaquim, encontrei um amigo da escola que me convidou a atravessar a rua para ouvir um amigo dele, que estava tocando violão, assentado na calçada do outro lado. Rodeado por um grupo de jovens, alguns deles usuários de drogas, ele estava tocando músicas evangélicas. Eu me recusei a ir até lá, pois achava esse tipo de música ridícula e cafona. Como fiquei sozinha, resolvi atravessar a rua para saber por que aqueles jovens estavam ali, em volta do violeiro. À medida que interpretava as canções, ele dizia, com um linguajar repleto de gírias, adequado ao público, que Deus os amava e que eles precisavam largar aquela vida vazia, de drogas e álcool.

O tempo foi passando, as pessoas foram indo embora, e quando percebi, estava sentada perto dele, só nós dois. Ele viu que eu carregava uma revista de astrologia, e perguntou se eu acreditava naquilo. Eu disse que sim, que achava que os astros poderiam influenciar nossa vida. Então ele perguntou se a revista falava em Deus e eu disse que falava alguma coisa. Sua pergunta seguinte foi: “Você acredita em Deus?” Meio hesitante, respondi que sim e ele passou a me falar de Jesus, o Filho de Deus que nos ama e tem um plano para nossa vida. Ficamos até às cinco da manhã ali, conversando sobre Jesus. Mal percebi o tempo passar.

Com o tempo, nossa amizade se aprofundou e começamos a namorar. Seu apelido era Nego, e ele era um adventista afastado da igreja. Tempos depois, eu ia entender que uma vez que você conhece a verdade, fica “carimbado” e não consegue fugir dela.

Um dia fui convidada a participar de um culto de pôr-do-sol na casa dos pais do Nego. Foi maravilhoso ouvir aqueles hinos e orações. A última vez em que eu ouvira falar de Cristo assim fora nos tempos em que estudei na escola adventista. E aquelas boas lembranças me vieram à mente. Quando me perguntaram se eu tinha algum pedido de oração, fiquei surpresa. “Como assim? Vão orar por mim?”

Dali para frente passei a querer experimentar mais aquele sentimento gostoso. Percebi que Jesus era um amigo muito próximo deles, e isso era fantástico para mim, pois no budismo não havia nada semelhante. Vi que poderia haver solução para os meus problemas, pois havia um Deus pessoal que Se interessava por mim.

Como foi sua decisão de se tornar adventista?

O Nego e eu acabamos rompendo o namoro, o que foi um choque para mim. Percebi que havia colocado minhas esperanças nele, e esse havia sido meu erro: achar que um ser humano supriria minhas necessidades e preencheria meu vazio interior. Minha depressão e insegurança voltaram, e cheguei ao ponto de quase me suicidar. Foi quando pensei que Jesus poderia me trazer o Nego de volta e comecei a orar nesse sentido.

A irmã do Nego percebeu meu desespero. Começou a me aconselhar, a estudar a Bíblia comigo e a me convidar para freqüentar a igreja. Eu aceitei na intenção de que Deus visse meu “esforço” e me devolvesse o Nego. Mas aos poucos o Senhor foi me mostrando que aquela não era uma motivação correta. À medida que estudava a Bíblia e freqüentava os cultos, minha fé foi se fortalecendo e meu foco, se modificando. Foi como se Jesus pegasse em minha mão e dissesse: “Simone, Eu a amo e vou dar-lhe uma nova vida. Eu sei o que é melhor para você.”

Como você e seus avós viam os cristãos?

Nós conhecíamos apenas em parte o catolicismo, mas nunca pensei que houvesse alguma contradição entre o budismo e o cristianismo. Cheguei a fazer a primeira comunhão, mais por obrigatoriedade, mas o mesmo formalismo vazio que via nos cultos budistas, eu via nas missas.

Quando eu disse a meus avós que não ia mais fazer oferendas aos ancestrais, pois havia descoberto que os mortos estão dormindo, que ia deixar o emprego (onde recebia um bom salário) por causa do sábado e ia ser batizada (fui batizada em 1997, com meu irmão Marcelo), foi um choque para eles. Perceberam que o verdadeiro cristianismo, que eles desconheciam, muda completamente a vida e a convicção das pessoas. Por outro lado, eles perceberam também a mudança em meus sentimentos e atitudes. Eu fui uma jovem revoltada e, de repente, passei a ser uma pessoa amorosa. Eles ainda acham estranho o fato de hoje eu os abraçar e beijar, mas no fundo sei que gostam.

Como falar de Cristo a um budista?

Pelos atos. Os budistas não estão muito dispostos a ouvir falar de outra religião, principalmente os japoneses, que são muito fechados. É interessante começar falando (e vivendo) sobre o amor e o equilíbrio. Como adventistas, podemos aproveitar nossa ênfase no estilo de vida saudável. Temperança é equilíbrio.

Como você mantém sua comunhão com Jesus?

Chegar a Cristo não é difícil. Difícil é manter essa relação com Ele. O jovem freqüentemente se considera independente, capaz de administrar a própria vida. Mas sem Jesus, nada podemos fazer. Por entender isso, procuro “policiar” minha vida, detectando os problemas que podem me afastar de Cristo. Além disso, considero o culto matinal fundamental. Reservo pelo menos uma hora por dia para ler a Meditação, a Bíblia e orar. E eu não levanto da oração enquanto não sentir a presença de Deus comigo, para me acompanhar ao longo do dia.

Qual a missão do jovem adventista?

Aonde quer que ele vá, deve aproveitar as oportunidades para falar de Jesus. Tudo o que ele faz deve ser para honra e glória de Deus. É conveniente perguntar: “Será que a música que estou escutando honra a Deus?” “Será que minhas conversas agradam aos anjos?” “Minhas leituras, os programas a que assisto, são aprovados pelo Céu?”

Pregar o evangelho aos amigos pode parecer meio “careta”, mas tudo depende de como você fala com as pessoas. E como falar? Isso depende de como está sua comunhão com Deus. Se sua busca de Jesus não for pessoal, você nunca poderá falar de maneira pessoal de Jesus.

Como falar de Cristo nos campi?

As pessoas são arredias a esse tipo de assunto devido ao desprestígio que algumas religiões monetaristas trazem ao cristianismo. Por isso, a melhor maneira de testemunhar nas universidades são nossos atos, sendo uma pessoa de boa índole, a fim de atrair as pessoas sem discriminá-las, conversando normalmente com elas.

O que é o adventismo para você?

Foi e é uma porta para levar a Cristo. E mostra que Deus e Sua Palavra podem ser seguidos de maneira correta.

Qual o seu maior sonho?

É o que já estou conseguindo realizar: falar aos outros que existe uma nova vida em Cristo. Falar desse Cristo que para mim é real; que não se trata de mera filosofia, pois posso senti-Lo e falar com Ele enquanto estou no ônibus, dirigindo, trabalhando, caminhando. Por isso creio que o jornalismo me caiu como uma luva, pois posso divulgar o amor e a verdade desse Deus maravilhoso.