quinta-feira, dezembro 14, 2006

Comunicação na Igreja

Devemos aproveitar as novas tecnologias sem negligenciar o testemunho pessoal

Em nosso tempo, grande destaque é dado para os modernos meios de comunicação. De fato, a Igreja Adventista do Sétimo Dia está-se servindo de rádios, TV via satélite, mensagens em cartões telefônicos, internet e outros meios para a evangelização. No entanto, é preciso não esquecer que o meio mais eficaz de levar a mensagem de salvação ao próximo é a comunicação interpessoal.

Para falar sobre a importância da comunicação dentro e fora da Igreja, o pastor e jornalista Siloé de Almeida, ex-diretor de Comunicação para a igreja adventista na América do Sul e atual diretor de Comunicação da Associação Paulista Central, concedeu esta entrevista a Michelson Borges.

O Pastor Siloé estudou teologia no Instituto Adventista de Ensino, Campus São Paulo, de onde saiu para assumir a direção da Escola Adventista do Brooklin, nos anos de 1977 e 1978. Sempre ligado à área de comunicação, enquanto estudava teologia, foi diretor de uma agência de publicidade em São Paulo. Mais tarde, estudou jornalismo na Faculdade Hélio Alonso, do Rio de Janeiro, e diz que teve o prazer de ter sido, por 23 anos, diretor de comunicação e ancião de várias igrejas, enquanto dirigia instituições.

Lecionou marketing para o curso de Especialização em Administração Hospitalar na PUC–RJ e foi administrador de quatro hospitais adventistas (dentre eles o Silvestre, no Rio de Janeiro), de 84 a 86. Em agosto de 95, assumiu o Departamento de Comunicação da DSA, onde ficou até 2005.

Casado com Marisa Amorin de Almeida, tem três filhos: Karina, Maurílio e Siloé de Almeida Jr.

Qual a importância do departamento de comunicação da igreja local?

Se a igreja mundial tem uma Escola Sabatina, é porque a Escola Sabatina funciona bem em cada igreja. Se quisermos ter comunicação efetiva na igreja ao redor do mundo, devemos ter comunicação em cada igreja local. A Igreja é um organismo humano, e qualquer instituição humana precisa de comunicação para sobreviver. O Departamento de Comunicação da igreja local é uma agência de comunicação que deve prestar assessoria aos demais departamentos, no sentido de conceber eventos e divulgá-los. Por isso, creio que nunca teremos uma comunicação efetiva na Igreja se não tivermos um departamento de comunicação ativo na igreja local.

A comunicação visual (fachada da igreja, placa de identificação, logomarca, pátio, jardins) é realmente importante?

É importante para dar identidade visual à organização. Toda comunicação visual fala mais do que a comunicação verbal; comunicamos somente sete por cento através das palavras. A apresentação (pintura, jardins, placa) é o cartão de visitas da igreja. Um bom exemplo da influência da boa apresentação ocorreu com o diplomata da embaixada de Trinidad e Tobago, Gerard Creene. Passando em frente à Igreja Adventista de Brasília, ele viu os jardins e parou para perguntar ao jardineiro o que era aquilo. Resultado: foi batizado. E a primeira coisa que lhe chamou a atenção foi o jardim; a comunicação visual.

Os(as) recepcionistas também desempenham papel importante na apresentação da igreja?

Sim. E por isso deveriam ser treinados(as) e sentir-se como “donos(as)” da igreja. Numa residência, quem recebe as visitas são as pessoas mais importantes da família. Geralmente o pai ou a mãe. É, portanto, fundamental haver treinamento para essa função, pois em todas as igrejas há pessoas capacitadas para isso.

Nossa “linguagem adventista” exclusiva atrapalha a comunicação?

É preciso haver uma revolução nesse aspecto. Mudar nossa linguagem para a forma mais coloquial possível. Por problemas de comunicação, algumas de nossas igrejas não são conhecidas na comunidade em que estão. Quando as pessoas descobrem que há ali uma igreja adventista, não sabem que podem entrar. E quando entram, ouvem um código de expressões tão fechado e particular que não se sentem à vontade.

Linguagem coloquial não significa falar gírias, termos chulos, expressões duvidosas ou preconceituosas. Significa, sim, falar aquilo que as pessoas possam entender. Por mais que nossas igrejas não sejam conhecidas, sempre há pessoas nos visitando; por isso devemos mudar o nosso “adventistês” para que essas pessoas entendam o porquê de Jesus ter vindo morrer por elas.

Devemos também evitar termos de exclusão. Ninguém gosta de ser considerado “não” em qualquer tipo de grupo. Portanto, jamais chamemos alguém que nos visita de não-adventista. De igual modo, aquele irmão que assiste ao culto de quarta-feira não gosta e não merece ser chamado de “pouco”. Infelizmente, há pessoas que iniciam o culto dizendo: “Embora sendo poucos...” Os que vieram ao culto de oração talvez tenham feito muitos esforços para estar ali, e merecem ser valorizados.

Num momento em que tanto se fala em rádio, televisão e internet não corremos o risco de, como igreja, negligenciar a comunicação interpessoal?

Todo modismo é um perigo. É verdade que o advento de novas tecnologias, quando bem empregadas, deve se transformar em bênçãos para a igreja, que deve conhecer e aplicar bem esses meios. O problema é que a pessoa pode se apegar demais ao rádio ou à internet a tal ponto de idolatrar o meio e desprestigiar o meio de comunicação mais importante que há na Terra: o homem. Nada substitui o testemunho pessoal, a comunicação interpessoal. Os meios são auxiliares, multiplicadores, mas a eficácia do testemunho pessoal é insubstituível.

Além disso, o advento de um novo meio não deve substituir os antigos; deve somar-se a eles. Ellen G. White diz que devemos usar todos os meios para a pregação do evangelho.

Despertar o interesse das pessoas pelo evangelho é importante; atendê-las, mais ainda. Como fazer isso?

Qualquer programa de rádio ou televisão é, na verdade, a divulgação de um produto, serviço ou idéia. Para tornar-se conhecido, ter audiência, ele deve ser divulgado. E o atendimento ao ouvinte ou telespectador é fundamental para fechar o ciclo da comunicação ou da venda.

Por exemplo: uma marca de iogurte anuncia seu produto mas não o coloca no supermercado. O desejo do consumidor foi despertado, mas, ao procurar o produto, não encontra. O que acontece? Ele compra outra marca. Quem gastou tempo, esforços e dinheiro na divulgação do produto foi a marca X, mas quem colheu foi a marca Y. Por isso, devemos divulgar o “produto” (em nosso caso, a mensagem de salvação), distribuir o “produto” e, depois, dar atenção pós-venda ao cliente.

O que podemos extrair de mais significativo na comunicação de Cristo?

Cristo foi o modelo de comunicação. Usava a linguagem certa de acordo com o público alvo, e quando faltava a linguagem adequada, falava por parábolas. Ele usava o aramaico, a linguagem coloquial da época, a linguagem do povo. Às vezes, nem os teólogos entendem isso.

Jesus era especialista em eliminar “ruídos” de comunicação para atingir o receptor de Sua mensagem. Dentre os “ruídos” que Ele eliminava está o preconceito. Jesus Se aproximava das pessoas derrubando preconceitos, como o existente entre judeus e samaritanos, por exemplo.

Portanto, se quisermos aprender a verdadeira comunicação – aquela que liberta e redime –, devemos caminhar com Jesus através dos evangelhos. E aproveitar para viajar um pouco, também, com Paulo, que foi um grande comunicador e imitador de Cristo.