Engenheiro fala de sua conversão e da fundação da Sociedade Criacionista Brasileira
Estamos em pleno século 21, mas a discussão em torno da ciência e da religião mostra-se longe de chegar ao fim. Vários livros abordando o assunto da origem da vida e do Universo têm sido publicados. Mais e mais pessoas têm-se conscientizado a respeito da complexidade inegável do micro e do macrocosmo. Desde o microscópico átomo às gigantescas galáxias, um enorme campo de pesquisa se abre tanto a cientistas como a teólogos.
Um desses pesquisadores apaixonado pelo assunto é o Dr. Ruy Carlos de Camargo Vieira. Ele nasceu em 1930, é natural de São Carlos, SP, e é engenheiro mecânico e eletricista, formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Dedicou-se à carreira docente, lecionando Mecânica dos Fluidos, de 54 a 56, no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Em julho de 1956, foi lecionar Física Técnica (nome italiano dado à cadeira de Mecânica dos Fluidos, Transmissão de Calor e Aplicações Tecnológicas) na Universidade de São Paulo (USP), Campus de São Carlos, onde fez a livre docência e tornou-se catedrático.
Em 1970, assumiu a chefia do departamento de Hidráulica e Saneamento naquela universidade, fundando a pós-graduação que é considerada a melhor na área no Brasil. Foi convidado, em 1972, a integrar a Comissão de Especialistas do Ensino de Engenharia do Ministério da Educação e Cultura, responsável pelas escolas de engenharia, currículos, formação de professores, reconhecimento de cursos, etc.
Segundo o Dr. Ruy Vieira, após a aposentadoria (em 1986) é que ele começou a trabalhar “de verdade”. Atualmente representa o MEC no Conselho da Agência Espacial Brasileira, participando de suas reuniões periódicas e empreendendo viagens por locais onde se desenvolvem atividades espaciais.
De três em três meses participa, também, de reuniões na Sociedade Bíblica do Brasil, da qual é diretor-tesoureiro.
Além dessas ocupações, durante meio período, o Dr. Ruy atua como consultor do PNUDE (Plano das Nações Unidas para o Desenvolvimento) junto à Secretaria de Educação Tecnológica do MEC. No outro meio período, dedica-se a traduções de livros e edita a Revista Criacionista, publicação da Sociedade Criacionista Brasileira (SCB), da qual é presidente.
Nesta entrevista, concedida a Michelson Borges, fala de sua conversão ao criacionismo e da fundação da SCB.
Por que o senhor escolheu ser criacionista?
Entendo que tornar-se criacionista é uma conseqüência lógica de tornar-se cristão. Ser cristão é aceitar a Cristo como Salvador e, portanto, aceitar a revelação exposta na Bíblia, especialmente no que diz respeito ao relato da criação de um mundo perfeito, da provação e da queda subseqüentes, com todas as suas conseqüências deletérias.
Não tive educação religiosa no lar, e dada a minha educação escolar até o nível universitário ter sido centrada nos parâmetros agnósticos, e mesmo ateístas, vigentes em nosso país, não tive educação religiosa também nos bancos escolares. Dessa forma, só vim a conhecer o cristianismo como experiência pessoal, pela providência de Deus, já no fim de meu curso de Engenharia. Evidentemente então ocorreram conflitos em minha mente entre o conhecimento adquirido até então e a nova perspectiva que se abria diante de mim, de um mundo criado, mantido e dirigido por um Deus que manifestava propósito, desígnio e planejamento em todas as Suas obras.
Dou graças a Deus por ter conseguido superar todas as barreiras que se interpuseram no caminho de minha conversão. Hoje posso associar de forma bastante coerente a imagem de um mundo perfeito criado por Deus, e a degradação decorrente da entrada do pecado neste planeta, com princípios básicos da ciência que aprendi na minha carreira de estudante, e que posteriormente integraram o conteúdo de disciplinas que vim a ministrar como docente universitário, como por exemplo, a Primeira e a Segunda Leis da Termodinâmica, envolvendo considerações filosóficas sobre o conceito de entropia, ordem e desordem, direcionalidade, decaimento e degradação.
Vislumbro, hoje, em todos os campos do conhecimento humano com os quais tive de me relacionar, a perfeita coerência da visão criacionista com os fatos e as evidências neles encontrados.
O que é a Sociedade Criacionista Brasileira, da qual o senhor é presidente?
Na minha carreira de docente universitário, como também no acompanhamento dos estudos de meus filhos no curso secundário e no preparo para o concurso vestibular, bem como na observação dos acontecimentos sociais, políticos, econômicos, científicos e tecnológicos, pude perceber como as doutrinas evolucionistas foram sendo introduzidas nos livros-textos e assimiladas e divulgadas gradativamente pelos meios de comunicação, passando mesmo a pautar o comportamento social em vários setores da atividade humana.
Pela providência divina, chegaram às minhas mãos (isso há cerca de trinta anos) notícias sobre a existência de sociedades criacionistas no exterior, com intensa atividade de divulgação de literatura a respeito da controvérsia entre o criacionismo e o evolucionismo. Devido às circunstâncias que mencionei, interessei-me pela fundação de uma sociedade congênere no Brasil, já que era extremamente escassa a literatura criacionista em língua portuguesa, e se fazia sentir bastante a sua falta. Assim, em 1972, foi fundada a Sociedade Criacionista Brasileira, tendo início a publicação do seu periódico – a Folha Criacionista – que chegou a mais de 60 edições, ao longo desse período de três décadas.
A continuidade desse trabalho durante tanto tempo foi um verdadeiro milagre, devendo-se agradecer a Deus pelo sucesso alcançado em termos de um enorme número de pessoas interessadas que se beneficiaram, de uma forma ou de outra, com o trabalho realizado. Agradecimentos devem também ser estendidos a muitas pessoas que colaboraram de diferentes formas para tornar realidade esse empreendimento.
Poderia mencionar experiências de pessoas que foram encaminhadas às Escrituras graças ao ministério criacionista da SCB?
Na realidade, pela correspondência que temos recebido, são muitas as pessoas que se têm manifestado a respeito de terem tido os olhos abertos para a importância de seu posicionamento pessoal quanto à controvérsia evolução x criação, passando a entender que temos mesmo de lutar espiritualmente e diretamente contra as “hostes espirituais da maldade”, que tentam enredar os incautos nas malhas do agnosticismo e ateísmo.
Há casos de pessoas que nos haviam escrito em situação de desespero pela confusão mental – ocasionada pela doutrina evolucionista tanto no ambiente escolar quanto na vida social, tão influenciada pelos modernos meios de comunicação – e que conseguiram se livrar dos paradigmas e estruturas conceituais evolucionistas, passando a entender de maneira mais profunda o conflito no qual estamos imersos.
Há casos, também, de verdadeiras “reconversões” ou reavivamentos de pessoas cristãs que passaram a entender a conexão entre a pregação criacionista moderna e as últimas mensagens de Deus a um mundo que perece, conforme explicitado especialmente em Apocalipse 14:6-8.
Nestes trinta anos de atividades de divulgação do criacionismo, têm sido gratificantes as experiências de pessoas que, graças à literatura que temos publicado, verdadeiramente se converteram e se tornaram grande instrumento nas mãos de Deus para a pregação da mensagem adventista para o tempo presente. E, por tempo presente, entendemos esta época em que se proclama a mensagem de temer a Deus, dar-Lhe glória, e adorá-Lo como Criador.
A Folha Criacionista passou a se chamar Revista Criacionista no ano passado. Além disso, a SCB lançou dois novos periódicos intitulados De Olho nas Origens. Fale um pouco sobre esses lançamentos.
De fato, a Folha Criacionista tem apresentado evidentes sinais de evolução, e ainda: macroevolução! Na realidade, cada vez mais a Folha vem se profissionalizando mediante colaboração efetiva de voluntários, nas mais diversas áreas de atuação. Com nova “roupagem”, a Revista Criacionista apresenta projeto gráfico moderno e condizente com o mercado editorial.
Estudando-se a programação das atividades da Sociedade Criacionista Brasileira, concluiu-se que se deveriam substituir as antigas Folhinhas Criacionistas, que vinham inseridas como encarte na Folha Criacionista, por publicações independentes, dirigidas de maneira mais específica para alunos do curso fundamental. Assim, foram lançadas em fins de outubro de 2002 as duas publicações De Olho nas Origens 1 e 2, respectivamente para alunos da primeira a quarta série, e da quinta a oitava série.
Dessa forma o leque de publicações periódicas da Sociedade Criacionista Brasileira fica assim constituído: Revista Criacionista – dois números anuais; Ciência das Origens – três números anuais; De Olho nas Origens 1 e 2 – três números anuais. Cada publicação tem um determinado público alvo, e sua periodicidade permitirá contato mais constante com os leitores interessados nos temas criacionistas, com distintas focalizações.
É possível harmonizar fé e ciência?
Essa pergunta constitui um aspecto específico do caso mais geral que tem a ver com a crescente influência da ciência e da tecnologia modernas na vida diária em nossos dias, que, em seu extremo, leva à alegação de que o cristianismo em geral, e a Bíblia em particular, estão superados em face de numerosas “comprovações científicas” que desautorizam a crença nos seus ensinos básicos.
Nesse sentido, diversos questionamentos são feitos usualmente, como os seguintes: (1) Pode um cristão hoje ser ainda cientista? Pode um cientista ser hoje ainda um cristão? (2) A ciência moderna já não demoliu a base da fé cristã? (3) A fidelidade ao cristianismo exige que sejam rejeitadas todas as teorias da ciência moderna? (4) Devemos viver considerando a ciência e a fé cristã como coisas inteiramente separadas entre si? (5) Teria a ciência comprovado a fé cristã, como alguns cristãos alegam? (6) O que dizer dos que afirmam que o desenvolvimento científico atual exige que se inventem uma nova ciência e uma nova teologia mais adequadas para o novo milênio?
Questões como essas podem ser respondidas de forma satisfatória tanto para a autêntica fé cristã como para a ciência autêntica, desde que se levem em conta as perspectivas corretas. Por isso, deve-se evitar a falsa dicotomia entre fé e razão. De fato, fé e razão constituem aspectos essenciais de todas as atividades humanas, aí incluídas tanto a ciência como a teologia cristã. Ambas fazem suposições (fé) e, a partir delas, tiram conclusões (razão). A fé em ser o Universo algo racionalmente compreensível constitui uma hipótese da ciência. A fé nessa hipótese não somente motiva os cientistas a pesquisar, mas realmente torna a pesquisa possível e eficaz. Essa mesma fé pode constituir uma conclusão razoável proveniente do ensino bíblico a respeito do Universo ter sido criado por um Deus racional. Assim, ciência e fé não são conceitos que se contrapõem. Blaise Pascal, filósofo naturalista cristão, afirmava que a ciência é a atividade de “acompanhar os pensamentos de Deus”.
O Senhor vê evidência de planejamento no Universo?
Sem dúvida. Desde o microcosmo até o macrocosmo; em tudo. Consideremos, por exemplo, a estrutura atômica, molecular e cristalina das substâncias. Como explicar o surgimento dessas coisas por acaso? Moléculas orgânicas que têm a ver com a vida... Tudo isso indica que houve um planejamento. Se tudo fosse meio caótico, não haveria cristal, tudo seria amorfo. Não haveria átomos específicos em uma cadeia da tabela periódica. (A própria existência de uma tabela periódica, onde se podem fazer previsões a respeito das características dos elementos, significa que há uma ordem, que é o contrário da desordem característica da aleatoriedade, do acaso. A ordem é característica de planejamento, desígnio.)
Considerando a Terra, o sistema solar, a nossa e outras galáxias, vemos uma estrutura coerente e lógica a tal ponto de podermos estabelecer modelos que indicam planejamento. Tente fazer um modelo do comportamento da economia de certos países do chamado Terceiro Mundo, por exemplo. É algo extremamente difícil, pois há muitos fatores caóticos e aleatórios que acabam interferindo, como a bolsa de Hong Kong, portarias do governo, ou mesmo uma geada em outro país; tudo isso influi.
O próprio fato de poder existir ciência – que pressupõe que a determinadas causas vão corresponder determinados efeitos – já mostra planejamento no Universo. Senão, hoje largaríamos algum objeto e ele cairia. Amanhã, subiria. Depois, iria para o lado; e assim por diante. Mas não. As coisas invariavelmente têm a tendência de cair, o que permitiu a Newton descobrir (pois já existia) a Lei da Gravidade.
Como é possível obter maiores informações sobre a SCB?
Ruy Vieira: Através da nossa homepage www.scb.org.br, por e-mail: ruivieira@scb.org.br, pelo telefax: (61)368-5595 ou 468-3892, ou pela Caixa Postal 08743, CEP 70312-970, Brasília, DF.